15 de jun. de 2013

Este é meu pai. Ele mora em Nu Iorque


Sirlene está dentro do ônibus que a leva até as imediações da Praça Mauá. Estamos em 1959 e faz calor neste final de tarde de outono no Rio de Janeiro. Ela divaga...

Daqui a pouco ela pega no batente outra vez. Ela é uma das quinze prostitutas que frequentam um casario do início do século XX na rua Visconde de Inhaúma.

Fez da prostituição a sua profissão meses depois que fora abandonada pelo marido, no interior de Minas, aos 18 anos de idade. Desiludida e sentido-se desamparada, veio tentar a vida na cidade grande. Ao chegar ao Rio, não tinha dinheiro, moradia, trabalho ou profissão. Ainda na rodoviária, enquanto comia uma coxinha e tomava guaraná, conheceu uma polaca que fazia ponto na Vila Mimosa. Ao ouvir a história de Sirlene, solidária, a polaca convidou-a para acompanhá-la até o seu trabalho. Lá, Sirlene fez rapidamente amizade com algumas das amigas da polaca e resolveu dar um novo rumo a sua vida: viraria prostituta.

O começo (claro) foi muito difícil. Teve que arranjar moradia, conhecer os locais por onde passaria a viver e aprender com as amigas a caracterizar-se como uma profissional do ramo. Mais difícil do que vestir-se adequadamente, foi entender-se e comportar-se como uma dama da noite; logo de início, ainda despreparada, afeiçoava-se aos fregueses; não cumpria regras de tempo de programa; e - muitas vezes - deixava-se levar por algum espertalhão que após o programa, dizia não ter todo o dinheiro combinado. A surpresa maior foi descobrir que a profissão estava intimamente ligada com o consumo e tráfico de drogas. Sirlene até permitia que um fregues ou outro fumasse um baseado após a transa, a título de prêmio pelo esforço empreendido; mas fumar ou vender drogas, nem pensar. Afinal,ela tivera berço.

O movimento do local aumentava bastante sempre que um navio vindo do exterior atracava no porto. As ruas, vistas das sacadas das casas viravam um mar de bonés brancos dos marinheiros em busca de companhia. Sirlene - via de regra - adorava a companhia destes marinheiros. Apesar de não entender patavinas do que falavam, ela se comunicava com eles muito bem. Alguns eram carinhosos e até traziam alguma lembrança como batons, perfumes e latas de biscoitos amanteigados. Para ela, era uma delícia poder falar português, enquanto o outro lhe respondia em francês, inglês, polonês ou espanhol. O que importava era o resultado final da conversa, sempre envolta em risadas, mímicas e movimentos gestuais de fácil compreensão.

Quando viu-se grávida, Sirlene sabia exatamente o dia, o horário e quem fora o pai. A quem a chama de louca, por afirmar tal coisa, até hoje ela responde:

- "Eu tenho certeza. Foi aquele marujo americano. Eu não me recordo o nome dele, mas me lembro de ele dizer sem parar de onde vinha: Nu Iorque. Ele repetiu várias vezes e eu gravei: Nu Iorque. Disse até que queria me levar para lá! Vê se eu acreditei...dei risada, peguei a grana e fui atrás do próximo freguês."

Desde então, já se passaram sete anos. Hoje o garoto, que se chama James, - uma homenagem a James Dean e ao pai americano - sabe que não tem pai; quer dizer, sabe que seu pai foi um marinheiro americano que a mãe conhecera anos atrás e que -segundo ela conta - foi-se embora para Nu Iorque ao final do "namoro".

Sirlene, que neste momento encontra-se ainda dentro do ônibus e já próxima ao ponto em que vai descer, divaga sobre o que fazer para que seu filho abandone de vez a fantasia de que é filho de James Dean. Culpa-se sem parar pelo dia dia em que - de volta do trabalho - chegou em casa com uma revista CRUZEIRO debaixo do braço. A revista trazia na capa a foto de James Dean. Ela mostrou ao filho, dizendo-se tratar de um ator americano com o mesmo nome que o seu. Foi o que bastou para James imaginar que aquele era o seu pai. Assim que pegou a revista nas mãos, recortou a capa com uma tesoura e anda com ela até hoje,dobrada em vários pedaços, mostrando a quem lhe apareça na frente e dizendo:

- "Este é meu pai. Ele mora em Nu Iorque."

Vivemos em uma sociedade dita globalizada. Esquecemo-nos de que muito antes disto, homens e mulheres deixaram sua terra natal em busca de aventuras, trabalho e amores em outros países e continentes. Eles aportaram aqui no Brasil muito antes da globalização chegar. São os legítimos precursores desta época.

Daremos sequência agora às aventuras de Claudia pelas terras do Tio Sam. Desta vez mostraremos as suas peripécias junto à etiqueta da marca EGREY.
Esta já é a segunda etiqueta que faço para a marca. Ela vem ganhando sistematicamente editoriais de moda nas principais revistas do país. Seu diretor criativo e proprietário, Eduardo Toldi, é um jovem muito talentoso. Aproveitou a expertise de sua família na área de tricô industrial, e vem construindo uma história de muito sucesso. Suas peças são clean e arrojadas, com uma forte pegada de contemporaneidade. É um verdadeiro arquiteto do tricô. Cabem também em suas últimas coleções criações em malharia circular e tecidos planos.


A etiqueta agora apresentada tem um fundo em superdamask, que confere à etiqueta um toque aveludado, além de garantir uma excelente definição do logo. O fundo é off-white e o bordado preto.





Agora Claudia nos levará para um tour pela cidade em companhia da etiqueta EGREY. Vem com a gente.
































































Frase do dia: Ele lutou muito, resistiu bravamente, mas acabou vencido por este amor arrebatador.


Nenhum comentário:

Postar um comentário