27 de jun. de 2013

Bala de chumbo


Uma manhã como outra qualquer. Assim pensava eu naquela manhã em pleno mês de julho, férias escolares.

Preparávamos-nos para mais uma temporada de férias na fazenda São José, de propriedade de  meu pai.



Já se tornara tradição: todo mês de julho passávamos cerca de duas semanas na fazenda, seja na companhia de algum amigo escolhido, ou não. Meus pais não gostavam muito da ideia dos filhos levarem amigos, já sabendo que se um dos três filhos o fizesse, os dois outros também reivindicariam o mesmo direito; desta forma, ao invés de um, seriam três amigos. Além da responsabilidade excessiva, havia a questão da limitação de espaço no carro.

Os dias na fazenda resumiam-se a apenas algumas atividades como acompanhar os peões em suas longas jornadas diárias; almoços em meio às famílias de funcionários;  jogos de carta ao anoitecer; caminhadas pelas imediações; andar a cavalo ou então visitar a cidade de Pereira Barreto, localizada a apenas alguns quilômetros da fazenda. Posso dizer que estas férias eram uma imersão ao rico universo sertanejo; um mergulho profundo às nossas raízes caipiras.





Enquanto esperávamos papai e mamãe que se encontravam fazendo os preparativos para a viagem, eu e meus dois irmãos, André (o caçula) e Guto (o mais velho), ficamos na garagem em frente da casa; cada qual procurando distrair a ansiedade pela proximidade da viagem à sua maneira. André estava sentado em uma das cadeiras que ficavam na lateral esquerda da garagem, ao lado do carro estacionado. Ele lia um gibi, estando com a sua espingarda de chumbo descansando no colo. Guto encontrava-se de pé, com sua espingarda em punho, brincando de mocinho e bandido. E eu estava próximo ao meu cachorro Xang, um pequinês preto com uma mancha branca no peito, fazendo-lhe carinho e dizendo a ele o como sentiria a sua falta nos dias em que estaria fora.

Foi quando ouvi a sentença:

- "André, vou lhe dar um tiro!"

- " Para de encher, Zé Augusto" - André, tranquilo em sua leitura, nem perdeu tempo em olhar para o irmão.

- "Eu estou avisando, André: vou atirar." - Guto estava com a arma em punho, fazendo pontaria ao irmão.

Não deu tempo para mais nada. Quando vi, ele havia feito um disparo.


Os momentos seguintes foram de puro pânico. André levantou a cabeça e havia um pequeno orifício entre os seus olhos, na altura das sobrancelhas.

- "Você é louco?" - disparou André, passando a mão por sobre o machucado. Começou a chorar quando viu que havia sangue no local.

O atirador, correu em direção à vítima, gritando:

- "Eu matei meu irmão...eu matei meu irmão!"

Eu, desesperado, corri para dentro de casa para pedir ajuda. A esta altura, já tendo ouvido toda a confusão, meus pais, em companhia das empregadas da casa, estavam correndo em direção à porta principal, direcionados pela gritaria.

Com medo que o pior pudesse ter acontecido e procurando fugir daquele drama, fui para o meu quarto e fiquei ali rezando, pedindo a Deus que nada de mal acontecesse ao André.

Somente saí de lá quando vi que a situação já estava sobe controle.

Por sorte, André não havia sido atingido por um chumbinho. O que havia sido deflagrado era apenas uma capsula vazia. A mesma atingiu sua fronte, fazendo um pequeno buraco.

Guto, com medo das represálias, sumiu da cena do crime quando viu que o irmão já estava sendo socorrido pelos pais.

Depois de algumas horas do ocorrido, já dentro do carro, estando papai na direção, meu irmão Guto (com cara de arrependido) na frente, ao seu lado, e eu e André no banco de trás, finalmente seguimos viagem, sendo assistidos do lado de fora por mamãe (com Xang no colo), Dora e Lourdes acenando e desejando-nos uma boa viagem.

Como castigo, mamãe, xerife daquele condado, confiscara as armas dos dois desafetos e botara um fim definitivo naquela novela de bandido e mocinho.

Brincadeiras de criança também podem ser perigosas. Vide inúmeros acidentes, muitos deles fatais, ao longo de séculos e séculos de história, mundo afora.

A meu ver, armas, mesmo as de brinquedo, deveriam ser banidas da face da Terra. Já que as feitas para matar não o serão jamais, que pelo menos as feitas para "brincar" o sejam.

Para ilustrar o conto acima, escolhi apresentar uma série de etiquetas que desenvolvi e produzi ao longo de muitos anos para a grife de roupas e acessórios infantis MONNE, de propriedade da empresária Neusinha Farina.


Durante anos ela vestiu as meninas e meninos mais antenados do país. Suas criações primam pela elegância, bom gosto e qualidade.





  






O cenário escolhido para as fotos é muito especial. Trata-se de uma edificação belíssima, localizada no centro de São Paulo, e conhecida como Palácio das Indústrias. Ela foi construída nos anos de 1920 e foi inaugurada em 29 de abril de 1924. O projeto é de Domiziano Rossi, que foi sócio do escritório Ramos de Azevedo. O prédio já abrigou diversas instituições públicas, tendo sido entre os anos de 1992 a 2004, sede da prefeitura de São Paulo. Hoje abriga o Museu Catavento, museu dedicado às ciências.




Foi em um belíssimo monumento em ferro localizado em seus jardins, de inspiração renascentista, que fotografei as etiquetas. Confira.

































Quando avistei -através de um vidro - o jardim interno do palácio, fiquei encantado com tamanha beleza. Ele estava vazio, apenas a natureza fazia-se presente. Depois vim a saber que ele era fechado ao público. Toda a sacada que dá acesso a este páteo interno é vedada através de placas de vidro que vão do chão ao teto da construção.


Movido pela beleza, caminhei até uma porta de vidro que dava acesso ao páteo e ao tocá-la, vi que estava apenas encostada. Não perdi tempo. Como quem não quer nada, segui em frente e tirei estas fotos que só seriam possíveis de serem feitas estando-se lá dentro.












Para comprovar a façanha, tirei uma foto minha refletida na água da fonte.



Frase do dia: O que os fiéis apostam na fé, os pastores resgatam em forma de bilhetes premiados.




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