7 de jan. de 2012

O recado


Qual é o limite entre o público e o privado? Até onde termina o seu direito e começa o meu? Estas são questões sobre as quais devemos refletir a todo momento. Ainda encontro-me em férias. Era para voltar a São Paulo nesta quarta-feira, mas resolvi esticar até Quinta. Foi aí que me dei conta de que tenho que alimentar o blog, fazendo o post de Quinta-Feira (hoje, para você que está lendo). Tenho tido nestes dias fome de desenhar.


Acordo, faço o que tenho que fazer (resumindo, nada), pego os lápis-de-cor que minha filha Marina ganhou de sua bisavó e que ela - gentilmente - está me cedendo, e começo a desenhar. O estojo tem alguns lápis-de-cor e algumas canetinhas hidrográficas, tendo sido estas últimas minha paixão de infância e que, desde então, nunca mais as tinha pêgo. Chegada a noite, depois do lanche, sentei-me no chão do escritório e vendo-as, resolvi ensaiar uns traços. Não sabia aonde eles iriam me levar. Quando vi, desenhara um rapaz;


quando vi, ele estava com um cachorro na coleira,


segurando educadamente um saquinho para recolher as fezes do cão;


quando vi, ele estava em frente a uma casa com um muro bem branquinho;


quando vi, o muro tinha um recado aos pichadores;


e quando vi, logo abaixo do recado,tinha um grafite que retratava a proibição.


Aquele grafite era a negação ao recado dado. Porém era uma negação educada, já que ilustrava o que o dono do muro queria dizer. Como censurar tal atitude? Como entender tal ato como vandalismo? E agora, como ficariam  os velhinhos do asilo de São Carlos que receberiam o dinheiro prometido caso os pichadores não pintassem (?) o tal muro? Diante de tal atrevimento, quebraria a promessa dada o dono da casa? Para resolver tal imbróglio,só cabia a mim duas alternativas: ou apagava a pichação do desenho feito, ou imaginaria que o tal dono da casa seria eu mesmo. Sim, euzinho, morador daquela mansão com cerca elétrica e tudo. Fiquei com a segunda opção e - como proprietário da mesma - decidi que não somente continuaria dando a contribuição aos velhinhos, como entenderia que o pichador estava somente dando o recado àqueles que - por infortúnio da vida - não sabiam ler. Estamos entendidos?

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