23 de jul. de 2013

Os japoneses que eu vi


Foram tantos e tão importantes que posso dizer que parte de meu coração mora no Japão.

Minha infância e adolescência foram vividas em Araçatuba, localizada a noroeste do Estado de São Paulo, cidade que recebeu um grande contingente migratório de japoneses na primeira metade do século XX.

Talvez tenham descoberto que - tal qual sua terra natal - aquela era a cidade do Sol Nascente.Lá o Sol é presença constante e a temperatura ultrapassa fácil a marca dos 40 graus no verão.

Vou fazer desfilar aqui alguns dos personagens que vi ou convivi, e que até hoje permanecem vivos em minha memória.

Vamos começar pela senhora japonesa que andava pra lá e pra cá calçando chinelos Havaianas e segurando uma sombrinha de motivos orientais aberta sobre a cabeça. Existe simplicidade maior do que esta? Enquanto as madames circulavam por ruas e avenidas a bordo de seus possantes carros (na visão do ex-presidente Collor, "carroças"), a senhorinha carrega a sua dignidade nas solas dos pés.

Tinha também a família que mantinha um armazém de secos e molhados na esquina da rua Euclides da Cunha, onde morava meu melhor amigo Amarildo. Este era o local onde me abastecia das paçocas que eram vendidas por unidade e que descansavam sobre um papel manteiga, tendo ao lado uma pá de metal para pegá-las. Era ali que também passávamos eu, Amarildo, André (meu irmão mais novo) e Nelson (irmão mais novo de Amarildo) à caminho das tardes nas piscinas do Araçatuba Clube. Íamos a pé e descalços ao clube, não sem antes darmos uma passadinha no armazém para roubarmos um punhado de cereais (arroz, feijão, milho) e sairmos de lá correndo para a rua, jogando tudo para o alto, como se aquilo fosse chuva de verão. Certa noite, tendo os japoneses estacionado o seu velho caminhão Ford na frente da venda, fizemos dele o nosso tobogã particular, subindo pela carroceria, depois escalando a capota e descendo pelo vidro e frente do carro. Diversão garantida, sem ter que pagar nada por isto; e ainda correndo o risco de termos que correr do exército japonês.

Outra imagem que não me sai da cabeça foi do dia em que morreu o morador de uma das casas daquele mesmo quarteirão. Com sua estrutura em estilo oriental, tendo a frente um pequeno jardim japonês, ela serviu de cenário para o funeral. A casa e a calçada ficou lotada de japoneses, e eu fiquei por ali espiando e observando todo o ritual. Entrar na casa, nem pensar, pois minha mãe nos proibia de ir a velórios. Aquilo não era lugar para crianças, dizia mamãe. O máximo que vira de um defunto, fora os bicos dos sapatos pretos lustrosos de um falecido, vistos da calçada, através da janela aberta para espantar os espíritos e o calor.

Para finalizar o desfile, falarei aqui de um amigo japonês, também morador da mesma rua de Amarildo (viu como tinha japonês nesta cidade!), cujo apelido era Chuque. Pois é, Chuque era um menino mais velho, amigo da turma. Tímido, era muito quieto e só abria a boca para falar baixinho. Um verdadeiro samurai. A família consistia em mãe, pai e dois filhos, sendo Chuque o mais novo. Certo dia chegara em casa a notícia, dada a meia-boca: a mãe de Chuque havia se enforcado. Usara um lençol para por fim a sua vida. Nunca me esqueço da tristeza que senti e de como faltara jeito para o encontrar de novo. Nunca tocamos no assunto e - um tempo depois do ocorrido - a família mudou-se dali quase em segredo. Não me lembro de ter-me despedido do amigo.

E não poderia deixar de falar aqui da tentativa frustrada que tive ao tentar tornar-me sócio do clube local japonês. Preenchi a ficha de inscrição direitinho, anexei foto 3x4 e fiquei esperando, até cansar a beleza, a anuência que me faria sócio. A cada ligação e a cada visita à tesouraria vinha uma desculpa diferente. Descobri ali o verdadeiro significado da palavra preconceito. Nunca poderia imaginar que os japoneses não gostavam de se misturar com os ocidentais. Pelo menos, não em seu clube.

Quando pensei em apresentar no blog uma etiqueta que fiz para o grupo de meditação MEDITADORES URBANOS, lembrei-me de alguma forma do povo japonês, de sua cultura milenar e - mais precisamente - do budismo.



"A meditação é um método simples e profundo para melhorar nossa qualidade de vida. Por meio de ensinamentos práticos, poderemos aprender a eliminar as causas do sofrimento, obter paz interior e clareza mental." (texto extraído do site do Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi, do qual pertence o grupo Meditadores Urbanos).

" Nas aulas, os monges e professores do Mahabodi ensinam a meditar e a levar os ensinamentos espirituais para nossa vida cotidiana. Mudando nossa mente, damos um passo essencial para mudar nossas vidas e beneficiar todos ao nosso redor", explica a monja Gen Kelsang Pelsang, professora residente do Centro Budista Mahabodi de São Paulo.

Achei que seria uma oportunidade de relembrar o meu passado junto às pessoas japonesas que conheci na infância, e ao mesmo tempo apresentar o bairro da Liberdade, tradicional reduto oriental da cidade e o local que congrega a maior colônia japonesa do mundo fora do Japão.






Foram duas as etiquetas desenvolvidas. A diferença entre elas está na largura e comprimento e também na cor laranja. Na maior, o tom de laranja do logo é mais forte. Ambas foram feitas utilizando-se o fio de algodão cru no fundo.

































Estas fotos foram tiradas na frente de um templo budista do bairro.







Recado do dia: Respeito as ONGs que lutam pela preservação das espécies, mas gostaria de ver uma que proteja e preserve os cidadãos "de bem", que são cada vez mais raros.



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