6 de jul. de 2013

Os cravos vermelhos que vovó segurava


A vida é feita de muitos cerimoniais. Muitas são as convenções que temos que seguir; os protocolos que temos que cumprir. Desde o nosso nascimento até a nossa morte cumpriremos uma série deles. Alguns por vontade própria, outros não.

Dentre estes protocolos, falarei aqui de um que cumpri por vontade própria: o casamento religioso. Falarei especificamente da vestimenta do noivo, incluindo aí a tradicional flor na lapela do paletó.

O calendário apontava para o dia 18 de janeiro de 1992. Para muitos, este era apenas mais um dia. Para mim, era o dia de meu casamento.

Estava à época com vinte e oito anos. Tinha a certeza que encontrara a mulher de minha vida; a pessoa com quem dividiria a vida até o último de meus dias.

A cerimônia aconteceria logo mais à noite e - por não morar àquela época em São Paulo - eu me encontrava hospedado no Grand Hotel Ca'd'Oro, mais precisamente na suíte em que passaria a lua de mel.

Também hospedados lá estavam meus queridos avós, Nena e Walfrido. Eles fizeram questão de também lá se hospedarem para poderem dar-me uma assistência neste dia tão especial.

Estava particularmente tranquilo. Não havia nada que me incomodasse, nenhum sentimento ruim, nenhuma grande aflição. Afinal, estava feliz por finalmente poder vivenciar este momento que desejava há tanto tempo.

Vovô, que já fora joalheiro, havia polido ele próprio as alianças que usaria logo mais; as mesmas que foram usadas nos anos anteriores de noivado. Tratou de devolvê-las para que eu as levasse até a igreja e as entregasse ao casal de dama de honra (Ana Carolina) e pagem (Eduardo Augusto).

O combinado com vovô era de que o mesmo viria até a minha suíte nos momentos que antecedessem a ida à igreja para que o mesmo ajudasse-me a me vestir. Tentei demovê-lo da ideia, dizendo que faria tudo sozinho, mas o mesmo insistiu. Disse-me que - como avô - tinha a obrigação e me vestir.

Hoje, passados tantos anos, e já pai que sou, entendo o quanto aquilo era importante para ele e de toda a simbologia que tal ato representava.

Depois de um longo banho, liguei para ele e disse-lhe que havia chegado a hora. Nunca vou me esquecer da emoção que vi em seus olhos um tanto marejados. Ajudou-me a vestir o meio-fraque e colocou as flores naturais que enfeitaram a lapela do terno. Ao invés do tradicional cravo branco, escolhi flores do campo.
Depois de vestir-me, dirigimos-nos até a frente do hotel e dali partimos para a igreja, estando eu ao volante de meu próprio carro.

Lembro-me de descer a rua Augusta, tendo a frente, do lado de fora, um lindo por de sol.

No banco de trás,seguras pelas mãos de vovó, estavam os cravos vermelhos que seriam usados por todos os padrinhos do religioso e do civil.

Fazendo uma pequisa para o conto acima, descobri coisas sobre o cravo que desconhecia totalmente. Fiquei impressionado com a simbologia que o mesmo carrega ao longo do tempo e que tem tudo a ver com o casamento, em particular.

Na era renascentista o cravo vermelho era visto como símbolo da fidelidade conjugal. Na Coréia do Sul, representa o amor pelos pais. Em Portugal (isso já sabia) ele deu nome à Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974). O cravo vermelho é o símbolo das mães em vida e o branco, símbolo das mães que já partiram. É de arrepiar, não é mesmo?

Para ilustrar o conto OS CRAVOS VERMELHOS QUE VOVÓ SEGURAVA escolhi dois produtos muito especiais que fiz para o renomado estilista WALTER RODRIGUES.


Foi ele que vestiu a então primeira dama Maria Letícia Lula da Silva em inúmeras ocasiões, dentre elas, no dia das posses do presidente.


O primeiro produto a ser mostrado foi uma etiqueta que desenvolvi e produzi para ser usada nos cós das calças casuais da marca. Walter desejava que esta etiqueta viesse a traduzir o glamour e a sofisticação já utilizada nos produtos Prêt-à-Porter e de alta-costura.

Fizemos então um fundo temático, com cravos bordados em toda a extensão da etiqueta; sobre este fundo, bordamos o logo em vermelho metálico. Note que as etiquetas fotografadas mostram duas variantes desta mesma etiqueta: uma com o bordado em fio de poliéster vermelho e outra com o fio metálico. O fundo dela foi entretelado a fim de deixá-la mais encorpada.

O outro produto desenvolvido foi uma fita em fundo preto com o logo bordado em vermelho. A ideia era utilizá-la no acabamento interno das peças de alfaiataria.

Escolhi por cenário um buquê de cravos vermelhos que trouxe especialmente de minha visita ao mercado de flores do Ceagesp.








































Recado do dia: Ao invés de fixar meus olhos naquilo que o meu dinheiro não pode comprar, prefiro pousar os olhos naquilo que dinheiro nenhum pode fazer valer.







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