29 de mar. de 2012

Quando o amor encontra o amor


Os dois viviam um idílio amoroso há muitos anos. Destes que a gente diz "foram feitos um para o outro" quando encontramos um casal que se dá e se quer muito bem.

Seus nomes de batismo? Dalva e José. Quando os vi pela primeira vez, tive a certeza de que foram feitos um para o outro. Estavam sentados no degrau de entrada da pequena loja de material de construção que tinham no bairro. Ele estava com o braço esquerdo apoiado no colo dela, que fazia uma seção de carinhos no mesmo, indo e voltando sempre na mesma direção. Esperavam pelo próximo freguês enquanto praticavam o exercício do amor. Já passavam seguramente dos 50 anos.


Ao vê-los ali, sentados, percebi que meus lábios sorriram ao presenciar tamanho carinho. Fazia-me feliz saber que o amor pode dar certo. Apesar das estatísticas dizerem que não, eles estavam ali para provar o contrário.

Certo dia Dalva teve a ideia de convidar José para um piquenique, como há muito não o faziam. Um piquenique daqueles que costumávamos ver estampado nas telas do cinema nos anos 50, com aquelas famílias unidas, rodeadas por uma mesa farta, quase sempre improvisada com uma toalha sobre a grama.


No caso deles, fariam um piquenique em uma parque no bairro do Morumbi, onde sabiam que existiam mesas de concreto com bancos idem, à espera de casais apaixonados e famílias felizes.


Para tal evento Dalva preparara diversos quitutes, incluindo no cardápio o seu famoso bolo de laranja cremoso, o preferido de José. Pela cozinha da casa, nos dias que antecederam o piquenique, passaram um verdadeiro festival de aromas, como o dos biscoitos de polvilho assados, trouxinhas de biscoito amanteigado recheadas de goiabada, suspiros, pão de batata recheado de brócolis e queijo brie, torta de frango com ervilhas, bala de coco e outras iguarias de dar água na boca. Na visão de José, somente esta degustação de aromas já teria feito valer o convite recebido e prontamente aceito.

O dia escolhido para o piquenique foi um Sábado do mês de Abril, quando a natureza ainda em flor aproveita os momentos finais de luz e calor para entrar de cabeça no frio do Inverno que está por vir.

Ao chegarem ao parque naquela manhã, estacionaram o carro debaixo de uma árvore e, cuidadosamente, retiraram de dentro a cesta de vime fechada por uma tampa com abertura para ambos os lados. Dentro dela estava o pequeno tesouro cuidadosamente preparado e que logo viria a ser devorado.
No caminho para as tais mesas, enquanto andavam, podiam sentir e ouvir o piso afofado pelas folhas caídas ao chão.

A expressão no rosto dos dois denunciava a alegria daquele momento e nada, nada mesmo,nem mesmo o cansaço promovido pelos altos e baixos da trilha,poderia tirar-lhes o prazer.

Depois de caminharem um bocado, finalmente encontraram o lugar que os receberia para o piquenique. O sol estava firme no céu e podia ser visto através dos feixes de luz que incidiam por entre os galhos e folhas das árvores que rodeavam o lugar.


Escolhida a mesa, dentre as quatro ali existentes, apressaram-se a arrumá-la. A primeira coisa a ser tirada de dentro da mochila que José carregava fora a toalha de algodão herdada da mãe de Dalva. Ela era de algodão, com desenhos de flores e frutas estampadas dentro de quadrados, e exalava o cheirinho característico das toalhas lavadas e passadas com amor.


Por sobre a mesa, além das louças, comidinhas e bebidas, depositaram o rádio de pilha que há muitos anos acompanhava o casal, embalando os sonhos e devaneios dos dois. O ponteiro indicava sempre a mesma estação: música instrumental, aos acordes de big bands.


Tudo pronto, agora era chagada a hora do "enfim sós". Os dois sentaram-se juntinhos como era de costume, e agarradinhos, aos beijos e chamegos, ergueram um brinde aos anos vindouros, com a promessa de continuarem juntos, sendo um pelo outro. Viva Dalva e José.


O tecido que serviu de inspiração para o conto acima foi desenvolvido há alguns anos para o cliente CASA CAIADA, a pedido de sua proprietária, Teresa Cristina. Ela tinha por desejo à época, fazer jogos americanos para serem vendidos em sua tradicional e requintada loja de tapetes artesanais. Ele foi construído com fios de algodão cru ao fundo, e quatro cores de bordado, a saber: framboesa, verde escuro, gengibre claro e baunilha.


Encontrei este quadro sendo exposto por um artista plástico em uma feira, em uma praça do Leblon, Rio de Janeiro. Fiquei extasiado com suas pinceladas e suas cores. Pena que não guardei o nome do artista: um talento brasileiro.

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