27 de mar. de 2012

Dá aqui! Este pedaço é meu.


Achei um Atlas antigo, usado por mim na infância. A sua edição data de 1973. Ou seja, se ele hoje tem 39 anos, eu era um garoto de 10 anos à época.


Como estamos cansados de saber, nobre leitor, o tempo passa. Aliás, o tempo passa, a terra gira, o mundo se transforma e até o velho e desgastado Atlas geográfico se altera também. Olhe que interessante o mapa do Brasil à época: cadê o Estado do Mato Grosso do Sul?


Não tinha. Cadê o Estado do Tocantins? Não tinha. Isto mostra que o que é líquido e certo durante um tempo, se transforma e vira outra coisa completamente diferente tempos depois. Uma certa questão na prova de geografia de um menino no ensino médio de 1973, cuja reposta dada estava certa, hoje estaria completamente errada. Caso estendamos o nosso olhar para o mundo, veremos então que as mudanças e tranformações foram muito maiores e profundas. Alguns países deixaram de existir, outros mudaram de nome, alguns outros nasceram. Ditaduras viraram democracia e democracias viraram ditaduras. Tudo à base de muita luta, destruição, conflitos armados, bombas, vidas e destruição.

o mapa dos anos 70, de Alighiero Boetti

Como explicar então a um garoto de 10 anos nos dias de hoje, que ao olhar para um mapa geográfico e vê-lo todo arrumadinho, com seus diversos países e continentes delimitados por um risco preto e preenchidos com cores alegres, que isto tudo se deu à base de muita dor, lágrimas, mortes e destruição. Algo não tão colorido como lhe apresenta o Atlas geográfico à sua frente. O que a gente não consegue enxergar no mapa à primeira vista, é que as diversas e variadas formas que definem cada um dos países que compõem o globo terrestre foi traçada, muitas vezes, à custa de guerras sangrentas; que povos foram dizimados, civilizações inteiras literalmente sumiram do mapa; línguas nativas deixaram de ser pronunciadas; raças foram subjugadas e extermínios e campos de concentração existiram.


Pergunto-me quantas alterações, novas edições e futuras correções serão necessárias nos Atlas geográficos dos próximos tempos. Este Atlas de 1973 não vale mais nada, está completamente defasado e já deveria ter sido doado ou jogado no lixo há muitos e muitos anos. Mas eu me recuso a fazê-lo. Ao invés disto, prefiro guardá-lo em minha memória, como prova viva de um mundo que existiu há bem pouco tempo atrás e que hoje já não poderia mais vir a ser reconhecido. Uma única coisa não pode vir a ser alterada neste mapa jamais: a dignidade, a integridade, os nobre princípios, a luta limpa e pacífica dos povos que continuam a sonhar com um mundo mais justo, onde todos caibam em seus territórios e que possam viver suas vidas, ao lado de parente e amigos, em paz. Cada um de seu jeito de ser, crer e viver. Viva a diversidade.


Após fotografar o tecido que ilustra este post, feito especialmente para a operadora de telefonia móvel OI, sob encomenda do Estúdio Árvore, dei-me conta de que este velho Atlas geográfico ilustra em sua capa o globo terrestre divido em quadrados coloridos, bem como este tecido.


O tecido foi desenvolvido à pedido deste estúdio, para a sua utilização em uma série de produtos que viriam a ser produzidos e vendidos em uma loja-piloto que a OI faria em um famoso shopping da cidade. Seriam produtos fora de sua linha de atuação, dentre eles, canecas, agendas, cadernos, peças de vestuário, decoração, todos desenvolvidos por renomados estilistas e designers nacionais. Não sei dizer em que pé está este projeto, já que não mais fui contatado a respeito.

Olha o que eu encontrei à caminho de uma reunião, no bairro do Bom Retiro, S. Paulo. Um grafite retratando o mapa daquela região da cidade. Lindo desenho. Mais uma coincidência? Minha companheira de blog, Claudia, acha que trata-se de meu olhar apurado, que sai por aí querendo enxergar as coisas. Tá bom, Claudia.


A moldura, em pastilhas coloridas, deste ralo também remete ao tema. Não acha?

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