6 de dez. de 2011

It's raining man



Estava eu vagando pelas ruas do Brooklin, em São Paulo, à espera de o trânsito melhorar para poder pegar o carro de volta para casa. Normalmente - quando posso - tento evitar o estresse de ficar parado horas a fio dentro do carro, andando feito tartaruga. Talvez isto também seja uma boa desculpa para eu dar uma caminhada, atividade que me enche de prazer. Adoro conhecer lugares nunca antes vistos, e olhar para pessoas e situações corriqueiras e sentir que - de alguma forma - mesmo à distância, posso ser partícipe de suas vidas. Foi quando olhei para um muro e vi alguns grafites muito bonitos. Um deles me chamou especial atenção: o de um homem sentado em um muro, segurando um guarda-chuva e contemplando a chuva que caia torrencialmente à sua volta. Saquei meu IFone e começei a disparar algumas fotos.



Fiquei surpreso quando - gentilmente - uma garçonete do bar ao lado, ao qual pertencia o muro, abriu a garagem para acionar um holofote que jogava luz para os grafites.


É bom sentir que ainda existam pessoas sensíveis e prestativas nesta vida. Afinal, o que ela ganharia com este gesto, além do prazer de ajudar alguém desconhecido a tirar algumas fotos legais. Depois disto, peguei o meu carro e voltei para casa. No caminho, bateu-me uma inspiração e senti que deveria escrever algumas linhas sobre aquilo que vira. Fiz da sacola de supermercado que descansava ao lado, no banco do passageiro, o meu caderno de anotações. Nos intervalos, entre um semáforo e outro fechado, escrevi o seguinte texto que - para mim - não deixa de ser uma poesia:

O homem do tempo

Pobre. Ele era pobre
De uma pobreza tão grande que sequer guarda-chuva ele tinha
Vagava pelas ruas à procura do que encontrar
De tanto vasculhar acabou encontrando um guarda-chuva
Claro que ele estava quebrado
Mas o que era aquilo para quem passara a vida toda tentando consertar o mundo
Uma vez consertado o guarda-chuva, ele ficou ali sentado à espera da chuva chegar
Ela demorou. E como demorou. Ma quando chegou, ele não perdeu tempo
Abriu o guarda-chuva e ficou ali olhando o vai-e-vem frenético das pessoas,
muitas delas pêgas de surpresa, tentando se proteger da chuva com as próprias mãos
Foi aí que ele se sentiu poderoso. Ele não era mais um homem qualquer
em busca de algo qualquer em qualquer lugar
Ele era o senhor do tempo: sabia fazer a chuva parar
Pelo menos de molhar a sua cabeça.


Em homenagem a este homem do tempo, mostrarei a seguir um tecido que fiz, baseado em uma ilustração que tem como origem provável a França, nos anos 30. Ela me lembra uma chuva de meteoros. Espero que goste.



Nenhum comentário:

Postar um comentário