27 de set. de 2012

Morador de rua. Cidadão do mundo.


Sabe aquele ditado que diz: "de perto todo mundo é louco". Eu concordo com ele e, apenas, acrescento: louco bonito ou feio. 

Acabei de desligar o telefone. Era ele, Oscar. Quem o vê hoje emprestando seu rosto e corpo para as principais marcas de roupas, acessórios e perfumes de luxo americanas, europeias e japonesas, não conseguiria reconhecê-lo na pessoa que eu vi anos atrás. Se você acredita na máxima que diz " o mundo dá voltas", você vai concordar que a vida de Oscar se encaixa nela como uma luva.

A primeira vez que o vi foi a caminho de meu trabalho. Era uma manhã fria de inverno que não convidava ninguém a ficar na rua.


Mas era exatamente lá que ele se encontrava. Olhei-o de frente e pude enxergar em meio àquele rosto sujo, olhos de um verde esmeralda. Os olhos, aliás, eram a única parte de seu corpo que parecia livre da poeira e da sujeira.


Oscar era um dentre tantos moradores de rua da cidade. A única diferença é que escolhera as ruas dos jardins, bairro nobre de São Paulo, para morar.

Quando o vi, percebi que atrás de toda aquela sujeira existia um homem bonito, de olhos encantadores e rosto anguloso. Pensei: uma vez limpo e bem-cuidado, poderia, se quisesse, virar um modelo. Eu não sei dizer quantas vezes mais o vi entre as minhas idas e vindas ao trabalho. O fato é que a cada vez, a impressão inicial que tivera se reafirmava.


A sorte começou a piscar para Oscar quando certo dia conheci André, booker de uma das agências de modelos de maior prestígio em São Paulo. André é um cara aberto, ousado, que vive a vida entre os limiares da aventura, loucura e bom-senso. Quando contei-lhe sobre o mendigo em questão, seus olhos brilharam. Senti que aquilo mexera com ele. Perguntou-me em que rua poderia encontrá-lo, pois queria vê-lo.


Dias depois, para a minha surpresa, recebo uma ligação de André: - Cara, você não vai acreditar! - disparou a falar, encavalando uma letra na outra, tamanha era a sua ansiedade.

- Acreditar no quê, André?- Sabe aquele mendigo a quem você se referiu em nosso último encontro?

- Claro, André. Como é que eu poderia me esquecer?

- Pois, é...ele está morando comigo. - Nesta hora o telefone quase caiu de minha mão. Não é que a minha intuição de que ele ficara interessado na história havia mesmo se confirmado?, pensei.

E ele continuou: - Cara, foi difícil como quê convencê-lo a sair daquele buraco em que se encontrava e vir comigo. Falei que tava a fim de ajudá-lo a mudar radicalmente de vida. Disse-lhe que o transformaria em um modelo. Finalmente ele topou.

Perguntei pelo nome dele e ele respondeu: -Oscar. O nome dele é Oscar.

Para que não nos estendamos demais nesta história, vou resumidamente dizer-lhe o que se sucedeu daí em diante.

André usou de toda a sua expertise para fazer de Oscar o que ele é hoje: um modelo que vive em Nova York e trabalha no eixo Nova York, Paris, Tókio, Milão. Desfila e faz campanha para os mais renomados estilistas, de A (Armani) a Y (Yves Saint Laurent). E diante disto você pode me perguntar:
- E você, o que ganhou com isto? - E eu lhe respondo: ganhei a certeza de que lixo e luxo podem vir a ser sinônimos e não antônimos. E que o lixo, se bem cuidado, pode vir a se transformar em luxo. E para terminar digo-lhe que o meu maior presente foi ter ganho um grande amigo.

Pena que a estória acima não seja história. Ela foi baseada em um mendigo que via com frequência nas ruas dos jardins na década de 80. Pena que à época eu não conhecesse um booker a quem pudesse apresentá-lo. Com toda a certeza, se adotado por um deles, ele certamente teria se transformado no Oscar de nosso conto. Mas a vida não é um conto de fadas. Definitivamente.

Para ilustrar esta estória, apresentarei-lhe a seguir dois produtos feitos para a marca de acessórios SANTA LOLLA: uma linda etiqueta que desenvolvi e produzi para uma de suas coleções, e um tecido muito bonito que foi utilizado por eles durante muitos anos como forro de suas bolsas.

Para mostrar a etiqueta, utilizei como pano de fundo uma coleção antiga de cartões-postais inglesa que retrata a história dos calçados femininos. Ela foi comprada por mim em um sebo e pertence ao meu acervo pessoal.


Já para mostrar o tecido, fui dar um passeio com ele na Oscar Freire, onde tomei um café na doceria Dulca...

...e visitei a Galaleria Melissa.


Em homenagem ao Oscar do conto, nada melhor do que apresentar a Oscar Freire.


À caminho da Galeria Melissa, fiz um pequeno pit stop do tecido em uma das diversas placas indicativas das lojas ali presentes.


Deixei o tecido descansar um pouco em um dos charmosos banquinhos da rua. Afinal, ninguém é de ferro.


(*) nota: a bolsa preta utilizada não é da marca Santa Lolla; utilizei-a apenas para compor as fotos do tecido. As imagens dos modelos "sem teto" desfilando, são da Milan Fashion week, apresentando uma coleção de Vivienne Westwood.

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