4 de ago. de 2012

Pássaros que caem no chão


A vida tem cheiro. Os lugares têm cheiros. Os momentos têm cheiros também. Somente os que têm poesia correndo nas veias conseguem senti-los e identificá-los. Os demais nada sentem além de seu próprio bom ou mau cheiro. 

Nunca pensei que um dia, ao recordar-me da infância, ligaria-me em momentos tão triviais, tão sem importância. Pelo menos não o tipo de importância que a maioria de nós espera da vida e passa a vida inteira a buscá-la Fico imaginando que o que não tem importância nenhuma para alguém, pode significar a razão de existência de outro. Quando olho para trás, só enxergo imagens poéticas, pequenos fragmentos de situações corriqueiras; nada de grandes feitos; grandes atos; grandes acontecimentos.

Fico a pensar que talvez a grandeza de algo resida justamente em pequenos detalhes; em pequenos movimentos; em pequenos fragmentos.

É desta forma que me recordo das voltas que fazia da escola para a minha casa, depois de uma tarde de estudos e aprendizados. Na maioria das vezes elas aconteciam na companhia de minha babá, Dora. Ela ia à pé até a escola e ficava a me esperar no portão. Caminhávamos então de volta para casa. No caminho, passávamos por uma calçada cujas árvores deixavam cair ao chão as suas sementes, guardadas em vagens que mais pareciam pássaros. Estas vagens tinham uma coloração amarronzada, cujo formato lembrava a cabeça de um passarinho, com  seu bico pontiagudo.


Lembro-me que ficava fascinado com estas vagens e - enquanto caminhava - ia pegando as que via pela frente, levando-as para casa, como quem leva um bando de pássaros de rara beleza.

Os olhos de uma criança têm esta possibilidade: a visão mágica que as faz viajar para lugares onde nós adultos não pensamos existir. Eles são capazes de transformar vagens em pássaros; pássaros em avião; árvores em aeroportos.

Hoje, estando eu em Araçatuba, fiz uma viagem de volta ao passado. Saí da casa de meus pais e fiz o trajeto que me levou até a velha escola. Ela ainda está lá, de pé, com detalhes arquitetônicos que não existiam à época, mas ainda está lá.


Quando cheguei ao quarteirão onde ela fica, procurei seguir pela mesma calçada que fazia quando criança. Para a minha surpresa, as árvores também ainda estavam lá.


E mais: as vagens em formato de pássaros continuavam a cair de suas copas.


Feito uma criança, peguei as que encontrei pela frente; coloquei algumas no bolso da calça para levá-las para casa, assim como fazia no passado. Neste exato momento elas descansam no criado-mudo de meu quarto. São como pássaros que a qualquer momento podem levantar voo e sair em viagem. Nem que seja uma viagem de curta duração, de volta às árvores da velha escola.

E já que a viagem é de volta ao passado, ao encontro da infância (nada perdida), aproveito para apresentar-lhes uma etiqueta e almofadinha feitas para a marca infantil GATEAU, de minha amiga, Paola Voguel e sua irmã, Fernanda Molina.


A etiqueta produzida tem o fundo em fio dourado (tactel ouro) e o logo em preto.


Já a almofadinha desenvolvida tem o fundo prata e o charmoso gatinho do logo em uva.



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