9 de ago. de 2012

A lua e eu


Lua a minha frente
a fazer-me companhia
Holofote prateado a mostrar-me o caminho
Quem tem a Lua como companheira
pode desligar os faróis de seu carro
e deixar-se guiar pela luz refletida
no negrume opaco do asfalto a sua frente


Diferenças de gerações. Diferença de opiniões. Conhecimento, falta de conhecimento. Julgamentos. Compreensões. Incompreensões. É desta dialética cheia de contrapontos em que se dá o relacionamento entre pais e filhos, filhos e avós. Hoje sou pai e - mais que isto - já acumulei muitos quilômetros de vida que me fazem entender situações antes incompreendidas.

Corria o ano de 1994 quando certo dia resolvi realizar o desejo de meu avô. Era sua vontade acompanhar-me em uma de minhas viagens empreendidas a cidades circunvizinhas, com o objetivo de vender a coleção de roupas SO HAPPY. Este era o nome da marca de roupas femininas que criara, em conjunto com a minha então mulher Adriana, em 1992 e que - desde então - eu viajava para vender as peças de pronta entrega.

A SO HAPPY foi criada após o fechamento de minha loja franqueada POLO SPRYDER. Começamos com coleções de camisetas masculinas e femininas muito bem elaboradas. Eu era o responsável direto pelo conceito da marca, tendo criado desde o logotipo...


... passando pela criação das malas diretas de divulgação das coleções...


... etiqueta, tag, adesivos institucionais...


... além dos books das coleções, feitos com fotos especialmente tiradas por mim, em cenários improvisados na casa de meus pais.


Em resumo, era um trabalho feito com alma e coração.

Combinei com meu avô de pegá-lo cedo em sua casa para que pudéssemos ir até Presidente Prudente, cidade localizada a aproximadamente 170 km de Araçatuba, onde residíamos. A viagem seria de ida e volta. Ou seja, o tempo deveria vir a ser muito bem aproveitado para que as visitas aos logistas viessem a ser feitas e as vendas realizadas.

Eu sabia que meu avô queria poder entender um pouco de meu trabalho, além de poder fazer-me companhia. O meu trabalho realmente era muito solitário. Cabia a mim decidir sozinho cada passo tomado, cada objetivo a ser cumprido, cada atitude ou palavra a ser pronunciada.

Fizemos o longo caminho trocando ideias e colocando o papo em dia. As roupas estavam todas no porta mala, em malas de mão sempre muito bem arrumadas. O caminho, por si só, já representava uma aventura, já que permanecemos longos três anos trabalhando na informalidade. Ou seja, corríamos sempre o risco de virmos a ser fiscalizados e termos a mercadoria apreendida.

Chegamos à cidade e começaria ali, mais uma vez, a maratona de visitas. Combinei com meu avô que ele ficaria sempre esperando-me no carro ou então em algum lugar próximo a ele. O dia estava lindo, com sol e bastante calor.

Nunca vou me esquecer de que ao apresentar as peças da coleção aos clientes, as mesmas, muitas vezes, encontravam-se quentes, já que ficavam horas e horas no porta-malas do carro.

Eu sempre fui muito movido a desafios. Era incansável. A cada não recebido de um lojista, já estava eu a caminho de outro, com sorriso no rosto, como se nada tivesse acontecido. Era um guerreiro, treinado para travar longas e exaustivas batalhas. Afinal, era o cacique daquela família que, à época resumia-se em mim, na Adriana e em nossa cadelinha Nina.

depois chegou a Marina, pra completar o clã So Happy!

Com o passar das horas, senti que meu avô ia ficando mais e mais cansado. Lembro-me que já ao final do dia, ele insistia que fôssemos embora, já que ainda teríamos uma longa jornada de volta, em estrada perigosa, cheia de caminhões e ainda não duplicada. Eu ia tentando enrolá-lo, dizendo-lhe "só mais uma loja, avô".

Já noite a dentro, voltamos finalmente para casa. Meu avô, dentro do carro, confessara-me que nunca poderia imaginar que meu trabalho fosse tão pesado. Acho que na verdade ele ficara emocionado, vendo todo o esforço empreendido pelo neto.

meu avô

Adorei a sua companhia naquele dia. Muitas outras viagens, para inúmeras cidades, aconteceram dali em diante. Na ausência de meu avô, tive sempre a companhia da Lua. Muitas vezes ela ficava ali incontinente, na minha frente, indiferente se eu fazia uma curva para a direita ou para a esquerda, olhando firme e dizendo-me: "presente".

 

Apresentarei a seguir algumas das peças criadas, algumas das fotos tiradas. Vejo que são peças antigas, que mostram as limitações técnicas de uma época já passada. Mas sei que a gente ainda consegue enxergar ali uma alma.

Com vocês, SO HAPPY:


A origem do nome SO HAPPY:

O porquê de SO HAPPY. Estávamos eu e Adriana, em Trancoso, BA, em plena lua de mel. Certa manhã, enquanto caminhávamos na praia, eu ia escrevendo na areia com um graveto os nomes que achava interessantes para a nossa futura confecção. Dentre eles, So Happy. Na volta de nossa caminhada, este fora o único nome que permanecera na areia. Todos os demais foram apagados pelas ondas do mar.

PS: A foto que abre o post, peguei emprestada da Dreamworks!

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