7 de abr. de 2012

Que maldade, Helena!


"Cego é aquele que não quer enxergar". Não existe ditado mais sábio que este. Meu nome é Francisco e tenho uma deficiência visual genética chamada doença de Stargadt, que me fez ir perdendo a acuidade visual ao longo dos anos. Você não pode me chamar propriamente de cego, porém tenho a visão bastante comprometida, que faz com que eu me sinta muitas vezes "ceguinho".


Hoje tenho 38 anos, sou casado com Helena e tenho um cachorro da raça labrador que além de meu melhor companheiro, funciona muitas vezes como cão-guia. O nome dele é Alfredo. Isto mesmo, Alfredo. Lembra-se daquela propaganda em que o indivíduo na hora do aperto grita pelo mordomo. Pois é, o meu Alfredo é como aquele mordomo, está sempre ao meu dispor. Já me livrou de muitos micos.

Helena e eu temos um relacionamento que foi construído à base de muito amor, confiança e respeito. Ela sabe, e eu também, que a minha deficiência visual não pode e não deve invadir as outras esferas de nossas vidas. Formamos um casal como outro qualquer, com seus encontros, desencontros, trombadas, sabores e dissabores.


Ontem à noite, quando ela chegou do trabalho, tivemos uma discussão em torno do próximo feriado de Páscoa. Por ela, iríamos à praia como o fazemos com frequência nos feriados. Ela é louca por Camburi, no litoral norte de São Paulo, onde já somos clientes vips de uma pousada local.

Porém desta vez opus-me à ideia, já que as faturas de nossos dois cartões de crédito nos mostram que gastamos além dos limites nestas festas de final-de-ano. Foi o que bastou para ela dizer meia dúzia de bobagens, colocar-se no papel de vítima, e fazer aquele bico já conhecido, seguido pelo tradicional silêncio que produz no outro a culpa.


Helena tem todas as qualidades do mundo, porém acompanhadas de um grande defeito: não sabe lidar com suas próprias frustrações e com aquelas impostas pela vida. Coisa de gente mimada. Quando se vê contrariada, pode chegar a ser vingativa. Para ela, o importante é viver o momento e depois "a gente vê o que faz" . Só que eu, mesmo "ceguinho", enxergo muito bem aonde esta história costuma parar: na mesa do gerente do banco.Tô fora.


Como vingança da hora, disse-me que eu me virasse e escolhesse sozinho a roupa que vestiria no dia seguinte. Já se tornara um hábito ela deixar a roupa do dia seguinte separada para eu vestir-me. Sempre aceitei esta mãozinha, por acreditar no seu bom gosto feminino e também para não me sentir inseguro na escolha e combinação das cores. Tenho uma dificuldade na percepção das cores verde-vermelho.


Hoje pela manhã, como de costume, encontrei a roupa separada (ela não cumpriu o que anunciara). Só que um detalhe chamou-me a atenção. Ao invés de deixar o par de sapatos marrons lado a lado, prontos para calçá-los, deixara o pé esquerdo preto e o direito marrom. Você pode dizer que foi esquecimento ou pressa, porém eu prefiro acreditar na vingança ao desejo contrariado. Você não acredita? Pois bem vejo que não conhece mesmo Helena.


Acaso ou não, o que Helena se esquecera é que eu tenho um segredinho guardado para não trocar as cores dos sapatos. Os de cor preta levam dois nós bem apertados no cadarço do lado esquerdo de cada pé, e os marrons, levam apenas um. Desta forma, vi o engano e calcei os sapatos marrons que gosto de usar juntamente com as calças riscas-de-giz cinzas e as camisas azuis claras.

Antes que eu feche a porta de casa e saia para o trabalho, deixo aqui um recado: limitações, todos nós a temos. O que muda de pessoa para pessoa é o sentido e a forma com que cada um lida com as suas. Consegue enxergar isto?

O texto acima surgiu da necessidade de se criar um personagem masculino interessante para apresentar as etiquetas que desenvolvi e produzi para a marca de roupas e acessórios masculinos YACHTSMAN. Fiz o trabalho para esta empresa tendo sido indicado, à época por um estilista que já me conhecia por um trabalho feito anteriormente para a empresa em que trabalhara.

O resultado foi uma série de etiquetas (algumas maiores e outras menores) produzidas para compor a vasta coleção feita por esta consagrada marca masculina.


Destaco aqui umas etiquetas especialmente desenvolvidas para funcionar como identificadores diferenciados de produtos. Elas são a letra "Y" do logo, todas cortadas a lazer, sendo a maior feita com enchimento (almofadinha).


Fizemos três tamanhos de etiqueta " Y", sendo esta, logo acima, a maior de todas.

Apesar de não as termos produzido na ocasião, acredito muito neste trabalhos que complementam as tradicionais etiquetas com o logo da marca. Inovar nunca é demais. Fazer mais e diferente é sempre bem-vindo e, acredite, isto gera admiração e compra por parte do consumidor final.

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