26 de abr. de 2012

Pelas paredes


O menino subia literalmente pelas paredes. Cansado de não conseguir andar, buscava o apoio delas para tentar levantar-se e manter-se em pé. Pelo menos foi o que lhe foi dito anos depois. Não engatinhara. Ao invés disto, arrastava-se de bunda pelo chão. Para uma coisa esta experiência lhe serviu: limpou muito o chão da casa, lustrando com sua fralda de pano o piso de tacos. Seus avós maternos estavam neste momento na Europa, mais precisamente em Fátima, Portugal, em busca de um milagre. Algo deveria ser feito para que aquele menino viesse a andar. Soube-se depois que, ao contarem a história de seu neto para um turista brasileiro ateu, o mesmo se propôs a fazer com eles o trajeto da procissão, segurando uma grande vela à mão.Assim fizeram os três, avô, avó e ateu. A avó rezando por todo o caminho, segurava o terço de rosas vermelhas na outra mão. Naquele mesmo dia, respeitados os fusos horários de Brasil e Portugal, o pai do menino, na sala lendo jornal, chamou pelo filho: - Vem aqui com o papai. Disse por dizer, porque já estava cansado de convidá-lo em vão. Porém desta vez o menino obedeceu o chamado. Segurando-se primeiramente pela parede, levantou-se, apoiou-se pelas pernas (ainda bambas) e caminhou em direção ao pai.O espanto foi geral. Acontecera um milagre. Qual não foi a surpresa dos avós, que ao retornarem ao Brasil, ainda no saguão do aeroporto, puderam presenciar crédulos (afinal pediram o milagre) o neto que corria em sua direção segurando um maço de flores. Eles não haviam sido informados do fato até então. Como diz aquele ditado, "a fé faz milagres", movida pelo desejo sincero de se fazer algo que muito se quer.


O menino desta história sou eu, quarenta e oito anos depois, um metro e noventa de altura, cujo maior prazer é caminhar. Pé ante pé. Parar, só se for para depois continuar.


Esta história com H, porque real, serve para ilustrar as etiquetas e galão que desenvolvi e produzi para a DEMOCRATA, tradicional marca de sapatos masculinos. O convite para este trabalho veio da estilista de acessórios Cristina Sant'Anna, que desenvolvia naquele momento um trabalho junto aos designers da marca, Luciana e Fernando.


A cartela de cores utilizada incluiu chocolate, tactel prata, framboesa, ouro, ferrugem e azul acinzentado.


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