18 de fev. de 2012

A clutch dourada e o porta maquiagem rouge

Ela estava sentada no banco da igreja à espera do início da cerimônia. Estava vestida de preto. O vestido era feito de uma malha encorpada, com um decote generoso a lhe valorizar os seios, talhados com perfeição pela mãe natureza. Os cabelos pretos escorridos, pesados, estavam presos à um coque baixo, adornado por uma delicada rendinha preta. Nas orelhas pendiam brincos em forma de gotas, começando por uma pedra de rubi grande, rodeada por uma fileira de brilhantes, e descendo em direção aos ombros em pedras de tamanhos menores, feito uma cascata. Na mão direita descansava, sobre o colo, uma clutch dourada,  feita com lantejoulas foscas. Como um todo, ela estava simplesmente deslumbrante. Um rico espécime da beleza feminina.


Na igreja ecoavam os acordes tranquilos da orquestra contratada, já se preparando para o momento triunfal da entrada da noiva pela nave.

Enquanto esperava, nossa morena abriu sua clutch e retirou de dentro um porta-maquiagem de cetim rouge todo matelassado. Conferiu o que estava dentro e o guardou novamente na bolsa.

Quando a noiva finalmente adentrou pela nave e a morena levantou-se, pude ver melhor o seu vestido que trazia uma série de pences abaixo da cintura, que davam ao vestido um caimento todo especial. Nos pés ela calçava uma sandália salto 15 em cetim preto, tendo a parte interna do salto cravejada de cristais.


Foi quando ela virou-se para trás, para ver a noiva entrar, que os nossos olhos se viram frente-a-frente pela primeira vez. Um breve olhar, apenas para reconhecimento mútuo.

Já na festa oferecida pelos noivos, pudemos nos olhar e trocar olhares algumas vezes. Ela estava sentada em uma mesa não muito longe da minha, acompanhada por uma amiga e uma série de outras pessoas que - dava a entender - ela não conhecia.

Eu, por minha vez, estava sozinho, já que era amigo da noiva, mas não fazia parte do seu círculo de amigos. Na mesa em que estava, também sentaram-se algumas pessoas desconhecidas, com quem troquei algumas palavras e gentielezas durante a festa.

Em determinado momento, festa à dentro, ela se levantou da mesa e pude ver que caminhava em minha direção, passo ante passo. Antes que eu pudesse entender, ela discretamente depositou seu porta-maquiagem rouge sobre a minha mesa e - aproximando-se de meu ouvido - sussurrou que o seu telefone encontrava-se anotado dentro do porta-maquiagem para que eu o devolvesse outro dia.


Dá para imaginar o tamanho do meu espanto?

Passados alguns dias, marquei um encontro para - enfim - devolver-lhe o porta-maquiagem.

Depois deste encontro, tivemos uma série de outros que terminaram com nós dois a dividirmos os bancos das igrejas algumas outras vezes em casamentos que fomos convidados.

O porta-maquiagem rouge permanece descansando na gaveta do banheiro, à espera da próxima festa.


O tecido que me motivou a criar este conto, que exalta a beleza feminina, foi um tecido que desenvolvi e produzi especialmente para a renomada marca de sapatos e bolsas SCHUTZ.

Ele foi usado para fazer um porta-moedas especial, redondo e fechado por zíper, com espelhinho inclusive, para um evento especial da marca. Ele foi ofertado aos convidados.
Tive a oportunidade de vê-lo através do fornecedor que o confeccionou, que é meu conhecido.
Já que não o tenho para mostrar-lhes, fiz este desenho ilustrativo do mesmo.

O tecido em questão é um cetim matelassado. Na verdade, ele é uma junção de dois tecidos - como se fosse um sanduíche - fazendo o efeito matelassê através da junção dos fios em forma de losangos justapostos.


Fizemos o que chamamos de cetim invertido, que usa o lado mais opaco do mesmo. A cor escolhida chama-se cipó.


PS: As duas primeiras ilustrações são desenhos de Andy Warhol, com ligeiras adaptações. A terceira foi feita por mim.

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