5 de mar. de 2013

Salve Zé!


Quando a gente vê alguém na rua e esta pessoa - por alguma razão - nos chama a atenção, não fazemos ideia de que o que vemos nada mais é do que a somatória de acontecimentos que moldaram a alma e o corpo agora visto. Tudo - absolutamente tudo - em uma pessoa revela o que o mesmo vivera e aprendera no passado. Assim se dá com o andar, o jeito de falar, os trejeitos, as expressões, a roupa que se usa, o corte de cabelo, o tom da voz. Somos o resultado e o invólucro de nossa própria existência. Os atores que dão vida aos nossos personagens internos.

Assim acontece também com Zé das Medalhas. Quando ele nasceu, obviamente não tinha este apelido. Era apenas mais um bebê de família muito pobre de uma cidadela qualquer no interior do Brasil.

Nasceu e foi batizado como José de Jesus. Filho caçula de um total de sete irmãos, quatro mulheres e dois homens, teve a sorte de ter sobrevivido. Isto porque além dos sete, alguns outros nasceram, porém não passaram do primeiro ano de vida.

Mas José é forte. Apesar de toda a miséria a que estava mergulhada a sua família, ele estava predestinado a viver para dar vida ao personagem que nasceria tempos depois.Teve como fada madrinha uma de suas irmãs mais velhas. Seu nome: Deronice Maria de Jesus. Deronice ou, simplesmente, Dora, como era chamada pela família de um proeminente fazendeiro que a levou para residir e trabalhar em sua casa, numa cidade próxima, quando tinha por volta de dezoito anos.

Tudo o que ela fazia e ganhava tinha um destino certo: ajudar a família que deixara para trás e à José, em especial.

Quando o menino estava prestes a completar dezoito anos, Dora incumbiu-se de pedir encarecidamente ao seu patrão, também José, para arranjar um emprego ao irmão em uma de suas fazendas. E foi assim que José de Jesus foi trabalhar na fazenda São José, no município de Pereira Barreto, noroeste de São Paulo.

Desde o início José mostrou-se um funcionário interessado e tornou-se ao longo dos anos também competente.

O que ninguém poderia imaginar, nem mesmo Dora, é que José viria a adquirir uma compulsão por comprar correntes, muitas delas com imagens de santos penduradas. A primeira, claro, foi com a medalha de São José. Depois vieram São Pedro, São João, São Benedito, Santo Expedito, Santo Antônio, São Jorge e uma infinidade de outros, incluindo algumas cruzes.

No começo ele usava uma, depois trocava por outra, por outra e depois outra. Depois, começou a usá-las juntas, uma em cima da outra. Achava que isto lhe traria proteção, livrando-o dos perigos do mato como cobras, onças, porcos-espinho, coites e rabos de saia de mulher feia.


Os amigos, não perdendo tempo, deram-lhe o apelido: Zé das Medalhas. Foi assim que ele começou a ser chamado, primeiro, pelos colegas da fazenda, depois pelos das fazendas e sítios vizinhos, depois na cidade, aonde ia de vez em quando para passear e comprar novas correntes.

Isto foi indo até que Zé começou a namorar uma menina chamada Raquel. A paixão virou amor e o amor os convidou para casar. Adivinha quem foi o padrinho de casamento? Dr. José e senhora.

À certa altura o cunhado, irmão de Raquel, desiludido com a vida no campo, falou-lhe de uns parentes que moravam na cidade grande e que estariam dispostos a dar-lhes abrigo até engrenarem em uma lida qualquer.
Dora ficou doente. Suas súplicas e orações não foram suficientes para convencer o irmão. Depois de alguns meses o mesmo partiu levando consigo Raquel e um bebê que já estava a caminho.

Chegando em São Paulo, Zé das Medalhas, que já tinha o peito abarrotado das mesmas, foi até a região da rua Augusta, mais conhecida como baixo Augusta, procurar um emprego de garçom no bar em que trabalhava um dos parentes da família que deu-lhes guarida.


Quando o proprietário do bar o viu, com aquele peito forrado de correntes e santos de tudo quanto é tipo, achou que aquela seria a oportunidade de diferenciar o seu bar dos demais.Contratou Zé na hora.

E assim é até hoje. Certa noite, passando por lá à pé, à caminho do supermercado, fiquei encantado com aquela figura de pé, na calçada, de olho no chamado de algum cliente.

Não perdi tempo. Parei e perguntei-lhe se poderia fotografá-lo. Diante de seu sim, saquei o meu celular  do bolso e fiz estas fotos, iluminadas pelo brilho de todos os santos. Salve Zé!


A estória contada acima, mistura um pouquinho da vida de uma pessoa que conheci, com a foto desta pessoa que fotografei. A estória é uma licença poética à foto e não retrata de forma nenhuma a vida da pessoa fotografada.

Salve Zé, Salve Maria, salve todas as pessoas que usam acessórios para se enfeitar. Aproveito o ensejo para apresentar-lhe um lindo trabalho que fiz para a designer de bijuterias finas TUTU FERREIRA.


Logo no início de minha carreira TUTU foi-me apresentada pela minha mais que amiga, irmã, Marcia Cardoso, que também já foi personagem de um de meus contos.

Foram precisamente três os trabalhos feitos: uma etiqueta autocolante, que fora usada afixada ao tag de preços de marca; uma fita para presente; e também um tecido marca d'água, em base tafetá, cuja estampa é exclusiva da marca.

 

O cinto em metal que aparece nas fotos do tecido abaixo foi feito pela SIGNOARTE, empresa a qual eu represento nos trabalhos que envolvem desenvolvimento e produção de plaquinhas de metais personalizados.


Este tecido, em tom sulferino, foi utilizado para confeccionar saquinhos de presentes...


...e também foi usado como corrente, dando forma à colares criados por TUTU FERREIRA.


O book que você vê nas fotos mais acima foi o primeiro de uma série de outros que fiz logo no início e ao longo de meu trabalho na Helvetia. Desde o começo eu quis transformar o meu trabalho de representante comercial em uma atividade que pudesse unir, prazer, beleza, sofisticação, cuidado extremo aos os detalhes, criatividade e profissionalismo; se me pedissem para dar uma definição de meu trabalho, é assim que o definiria; se você quiser agregar à definição dada a palavra bom gosto, aceitarei de bom grado.

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