21 de mai. de 2013
Síndrome de falsa rica
Ana Laura veio do interior. Faz parte de uma destas cidades que se desenvolveram ao longo do tempo graças à uma determinada atividade econômica, mas que mantêm a essência e o frescor de uma vida simples, quase sem futilidades.
Tal e qual muitas garotas de sua idade, ao completar dezoito anos, veio para São Paulo em busca de uma oportunidade profissional. Fez faculdade de artes plásticas, porém - sem poder se dar ao luxo de ficar esperando por uma oportunidade na área - abraçou a profissão de vendedora de loja de uma marca de roupa feminina de prestígio.
Ana Laura, que foi bem educada e mantivera a simpatia moldada na juventude, está se saindo muito bem na atividade escolhida.
O tino comercial aflorou e hoje ela mantém uma carteira considerável de clientes fiéis. Esperta que é - todas as vezes em que visita a cidade natal - leva consigo um guarda-roupa da marca e vende que nem água nos chás promovidos por sua mãe às amigas. De papo em papo, de bolachinha em bolachinha, de café em café, Ana Laura vai reforçando o caixa.
Hoje ganha muito mais do que se tivesse arranjado trabalho em alguma galeria de arte ou instituição de promoção à cultura.
O que pouca gente sabe ou imagina é que Ana Laura encontra-se refém de uma síndrome não tão rara que acomete dez entre dez garotas de classe média que ingressam neste mundinho fashion.
Como é de senso comum, os produtos ditos de luxo são caros. Eles valem não o que custa a matéria-prima envolvida, mas agregam ao custo o valor da exclusividade, da produção em pequena escala, do bom gosto e sofisticação, da fama do designer e por aí vai.
Qualquer camiseta (chamada aqui de t-shirt) é uma nota preta; o que se dirá dos vestidos, casacos, calças de alfaiataria etc. Isto faz com que as pessoas evolvidas na comercialização dos mesmos passem a achar os valores caros como algo perfeitamente natural. Adotam a postura de que valem o que custam. A síndrome da falsa rica começa quando estas garotas passam a adotar estes parâmetros para as demais áreas de suas vidas.
Quando vêem, estão consumindo marcas caras, não ligam para as contas dos supermercados, não estão nem aí pelo que pagam em restaurantes, baladas, passeios e viagens em geral.
Elas adquirem a cara da marca que vendem. Para elas, o que vale é a vida que suas clientes têm e lhes contam: cafés regados a champanhe francês e morangos fresquinhos servidos em bandejas de prata de lei; viagens de iate pelas costas do litoral de Ilha Bela, Angra dos Reis ou Côte d'Azur; viagens de negócios à Europa com direito a umas comprinhas em Paris, Roma e Milão; festas e mais festas regadas a uísque escocês e caviar Petrossian.
Pronto. A síndrome da falsa rica está instalada. Daí em diante as meninas de classe média já se encontram contaminadas e passam a detonar os limites de seus cartões de crédito, além de ficarem penduradas no limite do cheque especial. Afogadas em dívidas, já não mais conseguem empréstimo pessoal para sanar as dívidas.
Ana Laura encontra-se nesta situação. Já não sabe mais que fazer para sair do vermelho. Acostumada que está ao lado dolce far niente da vida, não sabe e não quer saber de fazer sacrifício algum para cortar suas despesas.
Talvez a única coisa que resolva seja procurar um terapeuta e passar a fazer análise. Mas isto - num primeiro momento - vai ajudar a comprometer ainda mais a sua situação financeira já tão debilitada.
E o pior de tudo é que esta síndrome da falsa rica é ainda muito pouco conhecida, mesmo entre os profissionais da área. Isto porquê ela é muito diferente da compulsão por compras. O cerne da doença está na questão de a pessoa julgar ser o que não é; ou em outras palavras, ter o que não tem condições para bancar.
Ana Laura encontra-se encurralada. O que fazer? Jogar tudo para o alto e começar do zero, bem humildezinha? Isto ela não está disposta a fazer.
Tomara que Ana Laura encontre um amor, alguém sincero que lhe abra os olhos e lhe mostre que a vida pode ser muito mais simples e excitante do que ela imagina.
Eu, narrador, vou meter o dedo aonde não fui chamado: credito que Ana Laura só vá se salvar se retornar de vez às suas raízes de menina do interior e adotar a vida que ela já teve um dia. Afinal, chique é poder acordar e dizer bom dia à um Sol que nasceu radiante mais uma vez para lhe contar o que vivera na noite passada, enquanto a Lua estava em seu lugar.
Eu já fui pego por esta síndrome, que também acomete homens. Segui o mesmo conselho que dei à personagem do conto e, hoje, graças a Deus estou curado.
E por falar em cura, que tal vermos uma linda fita em base cetim que desenvolvi e produzo para a marca de acessórios de luxo ZEFERINO.
A embalagem como um todo é tão bonita que - se não é remédio - pelo menos é um colírio para os olhos. Esta fita, em fundo pink, leva o logo estampado em um tom de rosa acima.
Dirigi-me à loja da marca, na rua Oscar Freire, onde a gerente gentilmente preparou uma sacola para eu fotografar. Confira.
Desenvolvi e produzo também estes lindos puxadores de zíper feitos em base borracha, com o logo em alto relevo, pintado de pink. Veja os mesmos utilizados nestas necessaires da coleção verão 2014.
Esta é a etiqueta utilizada na linha Pink Label. Também ela desenvolvida por mim e produzida pela Helvetia.
Frase do dia: Frase estampada na camiseta de uma brasileira casada com um inglês e amante de um português: O meu inglês é fluente. O português é meia-boca.
A imagem que abre o post mostra a cantora Lily Allen caracterizada como Audrey Hepburn (Bonequinha de luxo) para uma campanha da Chanel
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