23 de mai. de 2013

O livro inacabado



A velha máquina de escrever SMITCH-CORONA, há muito já aposentada, ainda se encontra comigo. Hoje assume a função de objeto de decoração na sala de minha casa.

Foi nela que escrevi meu primeiro romance, aos doze anos de idade.Pedi a mesma emprestada a papai e, durante alguns dias, datilografei com apenas um dedo um texto que devia ter por volta de 30 páginas.
Já não me recordo mais o seu conteúdo (rasguei o texto há aproximadamente 20 anos), mas ainda me lembro do tema escolhido (circo) e do prefácio do livro, que falava a respeito da vida de um casal de equilibristas, tentando equilibrar suas vidas em cima de uma corda bamba.

O texto do prefácio era poético, metafórico e falava do perigo que seria, caso os mesmos despencassem lá de cima; será que existiria uma rede de proteção ou os mesmos se esfacelariam no chão?.

Fico aqui pensando porque um garoto daquela idade, ao invés de estar jogando futebol com os amigos, preferia colocar em prática o sonho de ser um escritor.

Mais curioso ainda fico com o tema escolhido: a chegada de um circo na cidade pequena, anunciada ruidosamente através de carreata promovida pelas ruas e avenidas. O narrador da estória (eu) assistia o cortejo em frente ao portão de sua casa. Acredito que a estória narrava o encontro romântico entre um morador local e uma menina do circo.

Talvez hoje saberia o desfecho desta estória, caso tivesse concluído o livro, coisa que deixei de lado, após alguns dias de intenso trabalho. Acho que o medo de que alguém - através dela - pudesse conhecer os meus sonhos e com isso invadir a minha privacidade falou mais alto, fazendo-me abortar a empreitada pela metade.

Durante anos guardei o texto achando que um dia pudesse vir a retomar o trabalho e concluir a obra.
Mas como dar continuidade a um texto produzido na mais tenra infância e, portanto, recheado de conteúdo infantil e, ainda por cima, lotado de erros de português e concordância gramatical?

Com o passar dos anos, acreditei que seria mais prudente deixá-lo de lado, guardado dentro de uma pasta de elástico verde-água, acondicionado em uma folha de plástico transparente.

A maturidade fez-me enxergar que a nossa vida é escrita em muitos capítulos, sendo que muitos deles - por alguma razão - não chegam a ser concluídos e, portanto, ficam inacabados. Ou são preteridos por um capítulo a frente mais estimulante, ou acabam atropelados por algum fato inesperado que tira nosso foco e nos faz abandonar os parágrafos já escritos.

Quando isto acontece, o melhor mesmo é seguir em frente e vivenciar o momento presente, sem querer reescrever ou fazer emendas ao que já passou; tentar apagar algum trecho da história, nem pensar: o que já foi escrito, não tem borracha que apague.

É por isto que eu me encontro aqui hoje escrevendo sempre novas estórias, cada uma delas contidas em determinado número de capítulos. À cada nova estória, procuro escrevê-la da melhor forma, usando como ferramenta o meu melhor texto e as minhas melhores intenções.

Espero que ao final da minha própria história, o conjunto da obra venha a valer a pena aos que a lerem; e que ela venha a servir de exemplo a futuras gerações que estejam apenas começando a escrever o primeiro capítulo de suas vidas.

O Livro Inacabado nos fala de realizações que fizemos ao longo de nossas vidas, sendo que muitas delas ficaram inacabadas, por uma razão ou outra. São como certas esculturas gregas ou romanas que nos são apresentadas nos parques arqueológicos faltando alguns de seus membros, amputados por guerras, terremotos ou outras catástrofes naturais. Mesmo faltando algum pedaço, são, em si, belas.
E por falar em beleza, apresento a seguir um trabalho que desenvolvi e produzi para a renomada PAPER HOUSE, uma loja que vende tudo aquilo que o bom-gosto, a sofisticação e a exclusividade pedem. A PAPER HOUSE está no mercado de luxo voltado a artigos para uso pessoal; artigos de escritório; objetos de decoração; convites impressos; álbuns e portfólios; papelaria e montagem de pacotes diferenciados há mais de 10 anos.


Eu sou um de seus clientes mais antigos. Foi lá que comprei os lacres que selaram os convites de meu casamento (janeiro de 1992). Por isto, posso falar desta casa de boca cheia: é tudo de bom.

Foi para ela que produzi uma fita em jacquard de 10 cm de largura, em fundo preto e logo bordado em fio dourado trilobal.

Ela foi usada como fita de presente, em sobreposição a uma fita de cetim preto lisa mais larga. O resultado visual do pacote fica realmente glamouroso, em sintonia com a proposta da casa.

Em homenagem ao conto, fiz as fotos tendo como cenário a minha velha máquina de escrever. Foi com ela que datilografei o meu primeiro livro. A danada continua inteira e até estou pensando em reabilitá-la. Quem sabe para um novo romance.















Recado do Dia: Parece que o prato predileto de muitos árabes e judeus continua sendo o ódio alimentado em ambos os lados. Enquanto não mudarem o cardápio e incluírem amor em suas refeições, o tempero continuará a ser o mesmo: baixas e mais baixas humanas.


A ilustração que abre o post foi feita com uma máquina de escrever, pela artista plástica Keira Rathbone. Saiba mais em: http://www.huffingtonpost.co.uk/2012/04/25/keira-rathbone-typewriter-artist_n_1451485.html#slide=903659

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