9 de mai. de 2013

Ella por ele



Ela era Ella. Ele era somente ele, Luiz Alberto.

Ella era uma grande estilista. Sua grife era respeitada e admirada no chamado "mundinho fashion", um circuito onde apenas os eleitos "the best" têm vez.

De estilo clean e contemporâneo, as roupas de Ella ganharam o guarda-roupa de consumidoras abonadas e outras tantas estreladas.

Resumindo, Ella era um sucesso. Um verdadeiro case de self-made-woman.

O que o público não enxergava e - portanto - não conhecia, era o seu lado B: mimada, com atitudes um tanto infantilizadas.

Ella não queria nem saber a quantas andava sua conta bancária. O que ela gostava mesmo era de gastar. E gastar significava comprar tudo o que lhe desse na telha.

Dado que a trilha sonora de sua vida girava em torno de hits cheios de glamour e sofisticação, Ella torrava o seu dinheiro em produtos e serviços caros, os chamados AAA.

Certo dia Ella acordou virada e mandou seu gerente financeiro embora. No lugar, contratou um novinho em folha, indicado por uma amiga também estilista. E é aqui que Luiz Alberto entra na história.

Esta seria sua primeira incursão em uma empresa do setor de indústria e comércio. Até então ele só trabalhara em bancos.

Mas Luiz Alberto estava entusiasmadíssimo. Já na primeira entrevista ficara encantado com a personalidade e o estilo único de Ella. Ao assinar o contrato de trabalho descobriu que Ella chamava-se na verdade Elé. Sim, Elé. Para dar uma sofisticada, acrescentou um L e trocou o É por um A. Nascia ali o ícone Ella.

Nesta mesma entrevista inicial, Ella - confessando depois à sua assistente e confidente - achou Luiz Alberto super cafona. Vestido de terno e gravata, seus olhos apurados identificaram tratar-se de uma vestimenta comprada em uma loja de departamento; a gravata era de poliéster made in China; e o sapato era de couro surrado e sola de borracha vulcanizada. Um "Ó". Mas nada que com o tempo Ella não pudesse dar um jeitinho.

No começo Luiz Alberto achou-se um patinho-fora-d'água. Quando percebeu que ali ninguém vestia terno e gravata, tratou de aposentar os seus (para alívio de Ella) e passou a vestir-se de forma casual, mantendo contudo a sobriedade que cabe a um homem de finanças. Adotou, inclusive, o sapatenis às sextas, quando descobriu que os executivos chamavam este dia de casual day.

Faz-se importante dizer que Ella e Luiz Alberto entenderam-se muito bem. Enquanto ela gastava feito doida, ele saia correndo feito um louco atrás de bancos e financeiras que pudessem tapar os buracos. Ella era só elogios para Luiz Alberto,que se mostrava sempre pronto para ir ao campo de batalha lutar contra os juros abusivos cobrados nos empréstimos e financiamentos.

Tudo o que Ella tinha de compulsividade, Luiz Alberto tinha de sensatez e austeridade. É bem verdade que - devido à estreita convivência - ele foi aos poucos mudando o seu estilo de vida e chegou a acrescentar alguns itens de luxo à sua cesta básica de compras.

Não é preciso dizer que Luiz Alberto, além da admiração profissional, passou a alimentar também uma afeição por Ella. Ele entendia esta "necessidade" que ela tinha de se presentear com produtos caros; sabia que isto era uma válvula de escape em meio a tantos afazeres profissionais. E o que aconteceu: foi afrouxando as rédeas e dando corda para que Ella continuasse a sua maratona consumista.

Quem estava de fora conseguia enxergar com clareza que aquilo não iria acabar bem. E realmente não acabou.

Chegou uma hora em que a farra de Ella mostrou a conta e exigiu que ela pagasse a fatura. Como ela não tinha nem saldo nem crédito na praça, a bomba estourou e os credores decretaram a falência da empresa.

Quando isto aconteceu, Ella tratou de culpar ele. Foi à imprensa e disse-se traída por seu gerente financeiro que não a alertara para a gravidade da situação.

Diante de tal fato, sem enxergar uma saída, só coube a Luiz Alberto pegar sua pasta de couro da época dos bancos e sair porta afora, abandonando de vez por todas o sonho de fazer parte deste mundinho fashion.

Quando pensei em fazer um post que mostrasse as etiquetas que desenvolvi e produzi para a GANIERE, tradicional loja de roupas masculinas e de alfaiataria, fundada pelo Sr. Lidio em 1954 e hoje sob o comando de seu filho, Gian Piero, queria uma estória singular, com personagens densos e fortes. Acredito que tenha conseguido isto ao contar a estória de Luiz Alberto (que certamente não conhecia a GANIERE) e Ella.

Foram duas as etiquetas criadas, desenvolvidas e produzidas: uma para a linha social e casual, chamada de GANIERE Sartoria e Camiceria, e outra para a linha de ternos, costumes, calças e blazers feitos sob medida, chamada de GIAMPIERO PER GANIERE.




Ambas foram construídas com uma borda em efeito sarjado, no mesmo tom do fundo, tendo a coroa (logomarca) bordada em fio ouro rhodia, e o logos em fio camurça. Chiques e elegantes, assim como esta casa que vem vestindo ao longo de décadas homens que traduzem em suas pessoas (personas) as qualidades descritas acima.

E como cenário para as fotos não poderia deixar de explorar o próprio local, que guarda em suas paredes, móveis e objetos, uma história linda de se contar.
































Recado do dia: Lavei a Lua com água e sabão. Veja se ficou bom.


A foto acima é uma ilustração do livro "Quartier libre" de Laurent Lavender e Sabine Sannier.

*A imagem que abre o post é da exposição 36 anos de moda de Vivienne Westwood, que assim como minha personagem Ella, é uma grande diva do mundo fashion.

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