Somava-se a minha timidez, à insegurança de estar iniciando a vida escolar em uma escola pública. A insegurança só não era maior pelo fato de o meu irmão mais velho, José Augusto, também lá estudar. De certa forma, ele foi o responsável por fazer as honras da casa nos primeiros dias de aula.
Lembro-me que o colégio consistia de um grande galpão onde as diversas séries conviviam umas com as outras sem que houvessem paredes, portas ou janelas que a separassem.
Sendo assim, os alunos de uma determinada série podiam circular eventualmente no espaço de outras, enquanto se dirigiam ao páteo, aos banheiros, à piscina ou ao refeitório.
Só não consigo recordar-me se além deste grande espaço coletivo, existiam efetivamente salas fechadas destinadas às aulas.
A perseguição deste menino para comigo aconteceu logo nos primeiros dias.
Foi antipatia à primeira vista. Ele por mim e eu por ele.
As provocações começaram com pequenos tapinhas e beliscões nas minhas costas e braços quando o mesmo passava por mim e eu estava sentado, de costas. Dia após dia as agressões se repetiam.
Chegou uma hora em que eu já não mais queria mais ir à escola. Chorava muito em casa e dizia a minha mãe que não gostava daquele lugar. Quando ela me perguntava o porque, dava uma resposta evasiva e saía pela tangente. Revelar a ela ou a qualquer outra pessoa o que se passava na escola estava fora de cogitação. Como e que eu poderia explicar a razão de tal perseguição sem nem mesmo eu compreendia.
Tentei ir levando do jeito que dava. Evitava ao máximo aproximar-me dele e fugia do mesmo como o diabo foge da cruz.
Certa tarde, uma sexta-feira de muito calor, fomos convocados a tomarmos banho de piscina. Tal e qual acontecia no grande galpão, as turmas também se misturavam na piscina. Os maiorezinhos que já sabiam nadar ficavam na parte funda e os menores, juntamente com os que não sabiam nadar, dentre eles eu, ficavam na parte rasa. Eram muitas crianças para poucas cuidadoras. Se bobeasse, eram as crianças que tinham que olhar umas pelas outras.
Aproveitando-se do frenesi ali instaurado, o diabinho localizou-me em meio as crianças e me surpreendeu - para variar - pelas costas. Começou a me afogar, deixando-me respirar por pequenos intervalos de tempo. Entrei em pânico. E para piorar a situação, olhava para todos os lados e ninguém via o que acontecia.
Depois que o meliante cansou de brincar com seu brinquedinho (eu), soltou-me e eu, ainda meio tonto aproximei-me da borda e gritei:
- Zé Augusto!!!!!
O meu irmão haveria de me escutar. E escutou. Quando ele se aproximou e me viu branco de tao pálido, abraçou-me e intimou-me a contar-lhe o que estava acontecendo. Contei tudinho. A primeira coisa que ele fez foi ir ao encontro do pestinha e encher-lhe de caldos. Quando se deu por vingado, passou o recado:
- Se você se aproximar de meu irmão mai uma vez eu te mato! Ouviu bem! Eu te mato! E se você contar para alguém o que te falei, vai apanhar em dobro. A distancia, eu aplaudia por dentro o meu super herói. Foi o que bastou para para eu finalmente ter paz.
Daquele dia em diante a situação se inverteu: foi aquele menino que passou a ser o bobo da corte. Por vários e vários dias meu irmão e seus amigos passavam por ele e faziam exatamente o que o mesmo fazia comigo: davam-lhe tapas e beliscões a vontade.
Bem feito a ele que não tinha nenhum irmão para defendê-lo numa hora destas.
Este conto lembra muito o ditado popular que diz, "nem tudo na vida são flores". E não são mesmo. Quanto mais a gente vive, vive aprendendo que a vida é recheada de momentos ruins, alguns deles advindos da própria natureza e outros dos próprios seres humanos que, desde os primórdios, adoram arranjar uma briguinha e chamar o inimigo para o campo de batalha.
Para celebrar os momentos bons da vida, apresento a seguir um tecido que desenvolvi para a marca de roupas e acessórios femininos SATIKO + ISABEL. A estampa é recheada de tulipas que se congratulam umas com as outras. Buscando evidenciar a autenticidade da estampa, inserimos de forma discreta a logomarca (I + O) no desenho.
Tinha por desejo fotografar o tecido em algum lugar especial, onde houvesse muitas flores e plantas. Lembrei-me então do Viveiro Manequinho Lopes, localizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Este viveiro tem por função principal promover a arborização e o ajardinamento de áreas da municipalidade, como parques, subprefeituras, escolas e demais unidades da PMSP.
O viveiro é constituído de uma série de estufas. Cada uma delas cultiva um tipo específico de plantas, como orquídeas, plantas medicinais, plantas da mata atlântica; e cada uma delas é cuidada por um jardineiro específico. Esta estufa 6, segundo o jardineiro que lá encontrei, é dedicada a plantas ditas medicinais.
No meio da estufa havia um recanto feito de tijolos e cimento, cheio de água, com peixinhos vermelhos e plantas aquáticas a nadar. Encontrei ali um recando privilegiado para expor os tecidos.
Eles foram feitos em três variantes de cores, a saber: carvão, vermelho e bordô. A base é o cetim.
- "Entra...entra...pode entrar..." Foi assim que fui recebido por um jardineiro que se encontrava lá dentro. Batemos um papo gostoso e o mesmo me disse que lá trabalhava há 35 anos. Não é um privilégio? Fiquei de lá voltar para passar algum tempo lendo um bom livro em meio àquele paraíso.
Eu ainda não o conhecia, apesar de frequentar este parque há muitos anos. Confesso que o mesmo surpreendeu-me de uma forma que eu não poderia imaginar. Ele é um oásis em plena cidade, onde a natureza comanda o pedaço de forma soberana. O lugar lembrou-me muito da chácara de minha avó Rosa, nos arredores de Araçatuba. Muitas das espécies de árvores, flores e pantas que lá vi hoje, estavam presentes em minha memória afetiva. Digamos que foi um reencontro do meu passado com o presente.
Recado:
Deus dá o terreno, a enxada, o balde e água. O resto é com você.
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