16 de abr. de 2013

A fábrica de tecidos



Que tipo de tecido você é? Sim, no final das contas, somos, cada um de nós, um tecido em particular. Nascemos com nossas características e composição já definidas pelo dono da fábrica, o Criador, que também é o proprietário da loja que revende estes artigos.

Desta forma, alguns nasceram para ser linho, outros algodão, seda pura, lã, lã fria, veludo, camurça, cetim, poliéster, poliamida, ou então, uma mistura de uma ou mais destas e outras fibras.

Somente uma coisa é certa: quem nasceu linho não se transforma em chita jamais e vice-versa. Cada um vive dentro de suas condições particulares; alguns, com o passar do tempo, podem se aprimorar e evoluir como artigo; outros permanecem como estão, e assim ficam até o estoque esgotar.
Alguém que seja agnóstico poderá me questionar:

- "Mas e eu que não acredito em Deus, como posso acreditar nesta história?"

- "É simples" - respondo: -"Se você não credita em Deus, imagine que este fabricante e comerciante original venha a ser uma força divina, uma entidade, um ser extra-terrestre, um guia, um guru, um pai-de-santo, um aborígine, ou simplesmente o resultado de uma explosão de micropartículas em alguma via-láctea distante. O importante é que você acredite que existe um dono que rege esta vida, sim!."

Ao nos fabricar, o Criador produz uma certa quantidade de tecido. Não nos é permitido saber que quantidade é esta. Às vezes ele faz toneladas e mais toneladas; outras vezes, apenas uma ou algumas peças. O que foi fabricado fica estocado em um depósito, cuja chave somente Ele dispõe. Ele próprio também é o estoquista do lugar. Quando o vendedor da loja avisa que acabou determinada mercadoria que estava em exposição, faz o requerimento para a substituição e o encaminha através de uma abertura existente na porta do estoque. Espera então a entrega do artigo faltante, que é sempre feito por uma outra abertura maior, nesta mesma porta. O problema é quando a reposição demora, ou pior, quando ela simplesmente não acontece. Aí é uma tristeza geral. Só resta ao gerente da loja colocar um aviso de "produto esgotado e fora de catálogo".

Ninguém sabe como funciona esta matemática divina. Alguns dizem que o Criador tem preferência por alguns artigos em detrimento de outros. O que reza a cartilha do fabricante porém, diz o contrário: "O Criador ama a todos os seus tecidos da mesma maneira, e não tem predileção por nenhum dos artigos por Ele fabricados. Todos têm o seu lugar no catálogo de produtos."

À ninguém também é permitido saber se esta loja tem alguma filial em algum outro lugar. Uns acreditam que sim, e dizem inclusive que vêem discos voadores a vigiar os tecidos daqui. Na dúvida, o melhor é vivermos com os pés no chão, representando o papel que nos foi dado, procurado ser e se comportar em acordo com o que diz nossa ficha-de-produto. Fica a esperança de que, uma vez esgotado o nosso artigo na terra, possamos vir a existir em abundância no céu. Mas o fato é que até hoje, nenhum tecido voltou a terra para nos revelar qualquer coisa. Alguns tecidos espíritas dizem que existe vida de tecido após a morte, mas aí, cada um acredita no que quiser.

A analogia entre homem (espécie humana) e tecido - a meu ver - é pertinente, já que podemos dizer que a nossa pele, composta de duas camadas (derme e epiderme) não deixa de ser também um tecido que reveste nossos órgãos internos.

Para ilustrar nosso conto, lembrei-me não propriamente de um tecido, mas sim de duas fitas (galões) bordadas que fiz para BEA E PEPE ESTEVE, e que tiveram um destino muito nobre.


As duas foram utilizadas como parte integrante de um convite confeccionado para convidar cerca de 1.000 personalidades provenientes dos quatro cantos do mundo, para a apresentação da zarzuela "EL NIÑO JUDIO", de Pablo de Luna. Este evento, de caráter beneficente (em prol do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis), foi realizado no dia 10 de Abril de 2010, nos jardins de sua residência, no bairro de Chácara Flora, em São Paulo. Ele fez parte da celebração dos 75 anos da empresa Esteve no Brasil.


O convite foi idealizado pela estilista e cenógrafa Christina Peters: constituiu-se de um leque espanhol arregimentado por duas fitas de jacquard, uma de 70 mm de largura e outra de 22 mm; a de 70 mm era propriamente o convite e trazia um texto que intercalava o inglês e o espanhol; tinha o fundo em preto e o logo em cerâmica; já a de 22 mm trazia o texto SAVE DE DATE APRIL 2010; foi feito em sete cores de fundo diferentes, garantindo um colorido todo especial aos leques.

As fitas foram feitas em fundo tafetá para que o custo não viesse a impactar  o valor final do convite.
As fotos das fitas foram tiradas sobre algumas páginas do livro DO NOT DISTURB, de Gianni Versace. Nelas, o leque (assim como o do convite de BEA e PEPE ESTEVE) é o personagem central.


















Frase do dia: A única forma de você não se repetir, é tornar-se cópia fiel de si mesmo.



Este desenho, feito em giz de cera sobre papel, foi feito em 1979, quando eu tinha 15 anos.

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