(*) uma homenagem muito especial à minha querida tia Dirce
Depois que você tiver lido este conto, certamente terá inveja da tia que Deus me deu. Tia Lucy é o tipo de alma que passa pela Terra uma única vez. Desde que a conheço por gente ela foi diferente. A fim de se manter equilibrada, mantém o seu pé direito plugado na Terra e o esquerdo na Lua. Caso ela tivesse nascido na Europa no tempo da Inquisição, certamente teria sido acusada de feitiçaria e conduzida à fogueira. Talvez isto até tenha acontecido e eu não saiba.
Ela já passou por várias fases (ou ciclos). Criada na igreja Católica - tendo uma mãe fervorosa - fora devota de Nossa Senhora. Mesmo nesta época - segundo me disse uma prima, testemunha ocular de sua infância - tia Lucy já mantinha um altarzinho escondido em algum canto do quintal, onde praticava as sua magias com as bonecas que ganhava.
Já adulta, fora devota da macrobiótica e de toda filosofia de vida embutida nesta prática. Levou na esteira desta sua convicção a família toda, que unida, comeu muito arroz integral, queijo tofu, cereais integrais, legumes, leguminosas, frutas e demais alimentos Yin e Yang. Nesta fase, tudo, absolutamente tudo, era correspondente ao Yin (negativo) ou ao Yang (positivo). Não sobrava espaço para uma terceira via.
Logo após esta fase, entrou em sua casa (e em sua vida) uma grande pirâmide, que foi acomodada em sua suíte e na qual ela e toda a família entraram, ficaram, repousaram e dormiram dias e noites em busca da energia cósmica. Junto com a pirâmide descobrira os cristais e todos os seus poderes. E dá-lhe passar cristal na nuca, no pescoço, nas pernas, na bunda e em todo lugarzinho em que aparecesse uma dorzinha qualquer.
Na sequência vieram as filosofias (seitas?) secretas, praticadas por grupos autointitulados de "espíritos de luz". A partir daí ela passou a abrir "portais" por tudo o que é canto da Terra. Já esteve no Butão, na Índia, China, Dubai, Nova York, Milão, Paris, Roma ou qualquer outro povoado chique em que seja necessário abrir-se um "portal". Percebe-se que ela não se dá ao trabalho de abrir "portais" em lugares recônditos e sem graça que - certamente - não merecem a sua presença e sua expertise. Para visitar estes lugares existem as bruxas operárias, que ainda não alcançaram o grau de evolução de tia Lucy.
A família, neste momento, encontra-se muito preocupada, já que tia Lucy não dá a cara há alguns meses. Na última vez que a vimos, ela embarcara para Jerusalém, a fim de abrir um portal na Cidade Santa. De lá para cá não atende mais o celular (cai na caixa postal), não envia cartão-postal nem e-mail. A gente está preocupado - e desconfiado - de que ela tenha embarcado em alguma nave e partido para sempre.
Para nos deixar ainda mais confusos, sua filha, Helena, disse-nos que recebera um telefonema da líder da irmandade (seita?), dizendo que o comandante de um avião da companhia aérea Star Peru avistou de sua cabine uma senhora sentada em uma vassoura, com uma linda capa preta de paetês, piscando-lhe e dando um tchauzinho; depois desta aparição, a tiazinha não identificada - desaparecera de seu campo de visão feito um raio de luz. Cá para nós, eu creio que esta senhora deva ser a tia Lucy.
Este conto acima serviu de inspiração para eu apresentar um trabalho muito especial que fiz para a marca de roupas infantis PETISTIL. Trata-se de uma etiqueta em formato de coroa que foi desenvolvida e produzida pela marca para adornar a sua coleção de roupas daquela estação. A etiqueta tem um fundo em tafetá, e o bordado foi feito em duas variantes de fios metálicos: o rosa e o ouro. De onde estiver, tenho certeza que tia Lucy está orgulhosa deste meu trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário