26 de mai. de 2012

Com que roupa eu vou?


Doces anos da juventude. Uma vida inteira pela frente. Tempo suficiente para se cometer os erros necessários e os acertos sempre tão bem-vindos. Pois foi neste tempo que eu, cursando Comunicação Social na FAAP, tive a oportunidade de fazer um estágio em uma das agências de propaganda mais cobiçadas à época: a MPM. Eu era um jovem muito, muito tímido, vindo do interior de São Paulo, onde a vida, os modos e os costumes eram mais simples que os da grande cidade.

Na minha cabeça, eu teria que me apresentar na agência de uma forma elegante. Em resumo, teria que - segundo dissera a minha mãe - dar uma repaginada no meu guarda-roupa, comprando calças de alfaiataria, camisas, paletós, sapatos sociais etc. Pois foi o que fiz.


Nunca vou me esquecer da sensação de estranho no ninho que senti quando a responsável pelo RH da empresa apresentou-me à sala e aos colegas de trabalho que me acompanhariam nos próximos três meses.
Os momentos que se seguiram à abertura da porta foram um misto de silêncio e olhares estarrecedores. Parecia que aqueles cerca de dez funcionários estavam diante de um ET, vindo de uma galáxia muito distante. Olhei para eles, olhei para a minha roupa e tive vontade de fugir.


O departamento que a agência havia reservado para mim era o de past-up. Para os jovens de hoje, esta palavra associada à uma agência de publicidade não faz o menor sentido. Mas estamos falando aqui da primeira metade dos anos 80, quando a gente nem sonhava ainda com a existência de computadores, câmeras digitais e todas estas parafernálias que revolucionaram a vida de todos nós. Para quem não sabe, paste-up era o departamento que arte-finalizava os anúncios impressos, embalagens de produtos, folders e demais materiais promocionais. De todos os departamentos de uma agência, este era o que reunia as pessoas mais simples. Em geral, os profissionais que trabalhavam ali tinham habilidades técnicas extraordinárias, mas estavam muito longe do perfil das chamadas cabeças criativas. Estas, por sua vez, reuniam-se no cobiçado e desejado departamento de criação. A bem da verdade, era onde eu queria estar, mas - de fato - não era o que a agência tinha para mim. Diante da realidade, o melhor a ser feito - pensei - era encarar.

De volta àquela sala, passado o susto inicial, pude notar as conversinhas à meia-boca recheadas daquele sorriso sarcástico característico das pessoas medíocres que não sabem lidar com o diferente. Para elas, eu ali de pé, metido naquelas roupas burguesas, era um prato cheio para o apetite voraz de suas maldades. Tive a sorte de - em meio aquele burburinho - ter sido adotado de imediato por um dos funcionários que - ao contrário dos demais - mostrou-se solidário, colando-se a disposição para me esclarecer as dúvidas e conduzir o meu aprendizado. Os três meses que se seguiram ensinaram-me muitas coisas. Pude exercitar-me com aquelas réguas imensas presas às pranchetas, que posicionavam de forma milimétrica os textos que eram revelados em filmes no laboratório fotográfico contíguo à sala.


Tudo ali tinha que sair à perfeição. O produto final ia direto para as gráficas e virava os anúncios que faziam os consumidores (pelo menos era esta a intenção) ficaram com água na boca. E partirem do desejo para a ação: em outras palavras, o consumo.

A maior lição de todas as aprendidas ali - afora a de que eu não daria para trabalhar naquele departamento de jeito algum - foi  de que a roupa pode vir a ser um instrumento de inclusão ou de exclusão social. Tudo depende de como você se apresenta.E para quem se apresenta.

O texto acima motivou-me a apresentar a seguir uma série de etiquetas feitas para a PARAMOUNT, uma empresa que é referência em roupa masculina de bom gosto.


Estas etiquetas foram feitas na época da abertura das lojas próprias de varejo que o grupo PARAMOUNT promoveu em diversas localidades. Senti-me muito honrado em ter sido escolhido para realizar este trabalho.



As três últimas etiquetas a serem apresentadas foram feitas para as parcerias comerciais que a empresa empreende junto às marcas CRIS BARROS (minha cliente também); VR e DASLU HOMEM.



PS: O desenho e a foto da escultura, exibidos acima, são de minha autoria. A imagem que ilustra o tema paste-up, foi extraída de um site americano. Clique na foto para saber mais sobre o assunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário