5 de fev. de 2013

Adeus



Como nada na vida, com certeza, é por acaso, vi este sofá certo dia, passando de carro por uma rua, depois de um dia de trabalho. Sem saber o porque, parei o carro e dirigi-me à caçamba onde ele se encontrava para fazer estas fotos. Hoje ele é a estrela deste meu conto e retrata, como nada, a realidade que apresento no mesmo.

Um dia você me achou lindo. Fez-me acreditar que era a razão de sua existência. O amor de sua vida. Você convidou-me para entrar em sua casa. Pediu-me que ficasse e ofereceu-me o melhor canto de sua sala para morar. Disse-me que me colocaria no centro das atenções; em lugar de destaque. Convidou todos os seus amigos para me conhecer. Apresentou-me um a um. Sua família adotou-me como membro da mesma.

Algumas vezes fui o pai conselheiro; outras vezes o irmão camarada; o primo muito querido; e até o amante confidente. Do lugar em que fiquei, fui todo ouvidos. Posso dizer que conheci a fundo a vida de cada um que ali esteve. Em nenhum momento fui inconfidente; não traí a confiança de ninguém; não revelei os detalhes e o conteúdo das histórias que ouvi. E olha que muitas delas foram escabrosas. Ali, quieto em meu canto, participei de projetos que nasceram, se concretizaram e prosperaram;  dividi problemas financeiros; resolvi casos de amores; algumas vezes paguei um preço alto por isto: acabei todo melado, junto com os amantes. Tiveram momentos em que tive vontade de gritar quando presenciava alguém sendo injustiçado ou vítima de palavras ferinas. Com o passar dos anos sentia que já não era mais o mesmo; já não tinha a aparência ou a disposição dos velhos tempos. Eu tinha espelho em casa para enxergar e via as marcas do tempo em meu rosto e no meu corpo. Sabia que já não era mais um jovenzinho de pele lisa e viçosa. Mas achava que você ainda me amava com todos os meus defeitos e imperfeições. Ledo engano.

Nunca mais me recuperei do trauma quando você, sem me avisar, fez entrar em sua sala aqueles dois brutamontes que me ergueram do chão e me tiraram à força da sala. Eu gritei, chorei, pedi pelo amor de Deus que me deixassem ficar. Mas nem eles e nem você não me ouviu. Pelo contrário. Mal eu saia de sua casa e você já entrava com um outro muito mais novo que eu. Lindo, como um dia eu também fora. Descobri, com muita dor no coração, que você havia me trocado por outro. E o pior: colocou-me no olho da rua. Os dois que me arrancaram de sua sala jogaram-me sem dó nem piedade nesta caçamba fedorenta que me encontro agora, Estou aqui, passando frio, calor e, muitas vezes, tomando chuva. A minha vida está exposta a qualquer pessoa que passe pela rua. Que vergonha, o prédio inteiro - incluindo o porteiro e o faxineiro -  já sabe de meu pobre destino. Estou na boca do povo. Agora só me resta saber para onde vão me levar e o que farão comigo. Espero que não acabe na fogueira de algum mendigo que queira aquecer-se em alguma noite fria de inverno. Quanto a você, não quero saber de sua vida nunca mais. E se um dia vier a se arrepender, já não poderá mais me encontrar. A escolha foi sua. Caso um dia venha a sentir vontade de chorar, sente-se e apoie-se no ombro daquele que pusera em meu lugar.


O texto acima serve de inspiração para apresentar as etiquetas que desenvolvi e produzi, sob encomenda da Donatelli, para um editorial de moda da revista BAMBOO.

Os curadores deste editorial foram, nada mais, nada menos, que Gloria Kalil, consultora de moda e diretora do site CHIC, e Attilio Baschera e Gregorio Kramer, designeres têxtil  criadores da Again e da Larmod.

Gloria, Attilio Baschera e Gregorio Kramer

Gloria indicou cinco estilistas para desenvolver tecidos para decoração, a partir de uma paleta de cores indicada por Attilio e Gregorio.. Os escolhidos foram Clô Orozco, Gilda Midani, Lenny Niemeyer, Oskar Metsavaht e Ronaldo Fraga. As estampas criadas por cada um deles se transformaram em tecidos feitos pela Donatelli. A partir daí, alguns fabricantes de móveis e objetos escolhidos a dedo, utilizaram-se destes tecidos para fazerem móveis e objetos de decoração. Todas as criações form feitas, exclusivamente, para a BAMBBO. Eu entrei nesta história produzindo cinco etiquetas diferentes, cada uma delas com o nome de um dos estilistas envolvidos. Estas etiquetas foram utilizadas em bolsas feitas com as estampas criadas, indicando o nome dos estilistas que as criaram.


A revista BAMBOO é uma conceituada revista que une arquitetura, interiores, design, arte e lifestyle. Ela tem como um de seus publishers, Clarissa Schneider, que conheci através de Deny, meu querido amigo da Donatelli.


(*) o tecido que aparece nas fotos não é nenhuma das cinco estampas criadas para o editorial. Utilizei-o apenas como fano de fundo para as fotos; ele foi criado pela Helvetia para o seu catálogo de produtos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário