13 de out. de 2012

Uma rosa sem amor



Antes de amar, você precisa aprender a conjugar todos os demais verbos.

Nome artístico: Flor. Naquele quarteirão, todas a conheciam. Seu nome verdadeiro não interessava a ninguém, ela pensava. E assim o desejava. Desde que resolvera fazer das calçadas a sua profissão, Flor jurara a si mesma que jamais revelaria o seu nome de batismo. Principalmente aos fregueses. Vinda de um casamento fracassado, caiu na rua. Mas fazia questão de deixar claro a quem lhe perguntasse: o caminho escolhido foi uma opção e não tinha nada a ver com a sua separação. Simplesmente ela resolvera colocar em prática o que já habitava há muito em sua imaginação.

Flor tinha por princípio que nenhum homem poderia entrar e ficar em sua vida tempo maior que o de um programa: quarenta e cinco minutos (básico) e 60 (completo). Fazia questão de dizer às colegas de calçada: "um homem só deve ficar ao lado (em cima ou embaixo) de uma mulher o tempo suficiente para se fumar um cigarro; depois disso, passa a ficar intragável."

E assim, de homem em homem, ela ia tocando a vida; um homem por vez; um dia de cada vez. Se ela tinha algum sonho? Não, o último que tivera quase terminara em tragédia: casar-se na igreja de véu e grinalda, festa e lua-de-mel.

Enquanto ficava na calçada "pescando", passava por ela quase todas as noites um homem a caminho de casa; pelo menos assim ela pensava, visto que ele carregava sempre, além da mochila, sacolas de supermercado; vez ou outra, aparecia de mãos dadas com sua filha, uma menina por volta de nove anos, puxando a mochila da escola.

Não dizia nada; não parecia querer nada, além de passar. Para a sua surpresa, certa noite, ao invés de passar por ela, como de costume, ele parou. Parou, olhou primeiramente em seus olhos, para em seguida, passar a revista em seu corpo, de cima a baixo.

- Qual é o seu nome?
- Flor. Meu nome é Flor. E o seu?
- Alberto.
- Flor....bonito nome.
- E por quê quer saber? Ela respondeu, dando uma última tragada no cigarro.
- É que você lembra muito uma garota que conheci anos atrás. Se chamava Rosa.

Flor ficou branca que nem um papel. Se fosse uma flor de verdade, certamente a clorofila teria sumido de sua superfície, apagando a sua cor.

- Olha aqui, Alberto, a única rosa que eu conheço é a daquela música que dizia assim (e começou a cantarolar, com um ar de ironia): "o cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada..."
Ele achou graça e começou a rir.
- Se eu lhe falar que o meu nome é Cravo, Alberto Cravo, você vai acreditar?
- Vou sim, Cravo, mas agora vai andando que chegou freguês.

Aproximou-se do meio-fio um Toyota preto que, ao parar, abriu o vidro pela metade. E lá foi Flor ao encontro de um possível cliente.

Como diz a música que Flor cantarolou para Alberto Cravo, não adianta insistir. Esta estória do Cravo e a Rosa nunca vai acabar bem. É briga na certa.

Para embalar a estória acima, apresentarei-lhe uma etiqueta que faço há alguns anos: ROSA PREGUIÇOSA. Ela tem o fundo  em cetim cinza claro e o logo bordado em carvão.


E como não poderia deixar de ser, levei-a à exposição do artista plástico  Paulo Von Poser, está está sendo apresentada no Museu de Arte Sacra São Paulo.

Para a minha surpresa, uma orquestra de cordas estava prestes a se apresentar no páteo do colégio. Uni o útil ao agradável: exposição de arte ao som de Vivaldi. E viva a vida!



Aproveitei para conhecer o museu, que por sinal é belíssimo, e depois fui conhecer a exposição.

A exposição tem a assinatura de Paulo Von Poser, que são as rosas acompanhadas de outras flores, desta vez, misturadas a elementos sacros, em especial, às santas da igreja Católica.


Achei simplesmente incríveis estes lustres; suas bases são trechos de textos bíblicos.


Na parte externa do museu existem estes profetas, alinhados à uma parede lateral; eles foram usados para esta instalação com sombrinhas e fitas coloridas.


Eu e a etiqueta ROSA PREGUIÇOSA deixamos uma dedicatória ao Paulo, no final da visitação. Pensando bem, deveria ter escrito: Paulo, eu vejo flores em você.


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