10 de mai. de 2012

Sai da frente, que a vovó vem de frente!

Baseado em fatos reais e amedrontadores


A vovó maluquete. É desta forma que me recordo de minha avó paterna, Rosa. O nome lhe era apropriado, porém ao volante - em plenos anos 70 - ela não era nenhuma flor que se cheirasse. A velhinha era doida demais.


Naquele tempo vovó ainda estava com a corda toda, andando pela cidade com seu fusca à caminho de seus compromissos diários.


Dentre eles, recordo-me das visitas aos filhos e netos; das idas eventuais ao cinema  (fui assistir com ela e uma prima ao filme Tico-Tico no Fubá); das visitas quase que diárias a sua chácara, nos arredores da cidade; das compras no supermercado, padaria e quitanda; e das provas de roupas feitas por sua costureira particular, Kiriki, que lhe fazia lindos vestidos de seda estampada.

A grande verdade é que vovó Rosa só mantinha sua carteira de habilitação em ordem porque seu filho mais velho (meu pai), médico, era amigo íntimo de um oftalmologista que fingia não enxergar os problemas de visão de vovó.


Desta forma, dona Rosa encontrava-se apta a dirigir seu fusca pela cidade. No entender da família, este era um direito que lhe cabia e os outros - se quisessem - é que deveriam sair da frente.

Como todo bom neto que se preze, eu fora educado a não negar o convite de vovó para uma carona, caso nos encontrássemos em algum lugar.

Pois foi o que acontecera certa manhã. Eu estava brincando em sua chácara quando vovó chegou. Cuidou de seus afazeres e antes de sair, perguntou-me quem tinha me levado lá (minha mãe) e quem ficara de me buscar (minha mãe).

- Não precisa, deixa que eu mesma levo você. - disse-me ela.
Apesar de involuntariamente demonstrar certa resistência, aceitei o convite. Lá fomos nós: eu, vovó e o fusquinha.

- Vovó, você está no meio da rua, procurava alertá-la.

- Que nada, meu filho. É ele quem está na direção errada, dizia-me ela com convicção.

A mim cabia somente rezar (nestas horas a gente se lembra do Criador) e tentar - em vão - frear e desviar a rota do carro com a minha imaginação.

Era um que buzinava. Outro que xingava. Outro que parecia ter visto um fantasma na frente. Mas o importante é que vovó - com a graça de Deus - sempre chegava ao seu destino. Vez por outra - como aconteceu certa vez -  vovó errava a direção e entrava com seu fusca no meio da praça que ficava em frente a sua casa.

Voltando à carona daquela manhã, vovó deixou-me direitinho em frente de casa. Agradeci-lhe a carona, ainda meio assutado, e uma vez de pé na calçada, dei-lhe tchauzinho  até vê-la sumir na esquina. Virou passando pelo meio da rua, claro.

- Vá com Deus vovó.

- Fique com Deus, meu netinho (ouve-se a buzina do carro: bibi).


O texto acima encheu-me de saudades. Ele motivou-me a mostrar um tecido que fiz em 2009 para a montadora de veículos WOLKSWAGEM, por intermédio de uma agência de propaganda, especialmente para o Salão do Automóvel que aconteceria naquele ano. Infelizmente houve a grande crise deflagrada nos EUA pela quebra do banco LEHMAN BROTHERS e - segundo fui informado pela agência - o projeto da montadora para uma linha de produtos relativos à marca fora suspenso. O objetivo do tecido era a confecção de alguns modelos de bolsas a serem apresentados no Salão.

Dos três tecidos criados - dois deles com a imagem do fusca e um com a da Kombi - um deles foi mostrado logo no início deste blog, quando ainda estávamos engatinhando em nossa tarefa. Quiz desta vez voltar ao assunto, de um lado porque acho estes tecidos lindos e - de outro - porque não poderia deixar de contar esta linda história de vovó Rosa e seu fusca.

O tecido em questão foi feito com fundo em algodão cru, tendo os fuscas sido bordados em três tons diferentes.


Achei esta matéria falando da morte do designer de automóveis alemão, criador do Porshe 911. Em determinado momento o texto aborda a relação de seu avô com Hitler e a idéia de se criar um " carro do povo" (em alemão, WOLKSWAGEN).


A VIDA, SEM GPS

Passa menino,
Passa peão
Dá meia volta
Procura outra saída
Passa cachorro,
Passa apressado
Corre bastante
Para não ficar para trás
Passa motoqueiro
Passa bicicleta,
Passa ônibus
Passa excursão
Vá visitar sua vida
Que ela corre ligeiro
E lhe deixa na mão
Olha a passagem
Confira o destino
Despache a bagagem
E segue adiante
Vá de um jeito
Para voltar de outro
No meio do caminho
Faça uma pausa
Vá ao banheiro
Porque ninguém é de ferro
Tome um café
Não fume um cigarro
Para ficar acordado
Conte os quilômetros para chegar
Veja se quer continuar
Ou o melhor é voltar
Passa defunto
Passa caixão
Passa viúva
Passa dívida,
Deixa ficar somente herança e pensão
Passa fulano
Passa sicrano
Passa beltrano
Pare no acostamento
Saia do banco carona
E assuma a direção

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