22 de mai. de 2012

O voo do condor


Lembranças de um passado distante, porém ainda presente.

Lembro-me muito bem daquela tarde no aeroclube de Birigui. Meu pai faria o seu primeiro voo solo em uma avião de pequeno porte. A partir dali ele viria a ser considerado piloto e teria o brevê que lhe habilitaria a pilotar aeronaves de um só motor.

Lá estavam reunidas as famílias de todos os que fariam o voo inaugural. A nossa, incluída. É difícil descrever a sensação que um garoto como eu, na época com aproximadamente 12 anos, sente em saber que seu pai vai pilotar sozinho uma aeronave pela primeira vez. Fica claro para mim hoje que a fantasia da perda se torna muito aguçada. É a angústia vivida pela expectativa de que tudo venha a dar certo e que a aeronave toque novamente o solo trazendo seu pai de volta ao chão.

O dia estava lindo, com o Sol a pino em um céu de um azul total. Tudo saiu como o esperado. Um a um, os pilotos iam fazendo sua estreia sob o aplauso entusiástico de todos os presentes. As fotos pipocavam a todo instante. Ao final do evento, após todos os pilotos terem sido aprovados, houve o tradicional banho de óleo queimado, hoje em dia muito questionado, porém ainda praticado. Neste banho, os pilotos ficam posicionados lado a lado e recebem uma baciada de óleo que cobre os seus corpos dos pés a cabeça.

Ficam parecendo um bando de pinguins que foram pegos de surpresa por um mar lotado de óleo. Alguns "engraçadinhos" , quando estão depois no vestiário tentando - em vão - livrar-se daquele negrume, deixam a marca de sua bunda, mãos e pés pelos azulejos do banheiro. Fico imaginando o que dizia a faxineira ao ver aquelas paredes lotadas de bundas, mãos e pés: "- Eita bando de bundas-moles!"

Depois dali, meu pai fez incontáveis viagens ao lado de seu irmão mais novo, pilotando o avião que pertencia à família. Já não me lembro mais de quantas despedidas e reencontros tive com meu pai antes e após cada viagem. À cada partida renovava-se sempre o medo e angústia de uma possível perda.

Por um lado, é sempre um orgulho ter um pai que voa feito um condor. Por outro, ele vem sempre acompanhado pelo medo de que que este condor possa vir a ser abatido em meio a algum voo.

A minha angústia e medo acentuaram-se, quando certa vez, ouvindo minha tia conversar com minha mãe, a mesma falara-lhe que uma cartomante previra a morte de meu tio (também piloto) em um acidente aéreo.


Para ela  e - em extensão a minha mãe - já que os dois viajavam sempre juntos, aquilo representava uma sentença de morte. Para mim também o foi. A partir dali, todas as vezes em que meu pai partia, acreditava que aquela seria a " última" viagem.

Não preciso dizer que - sendo um garoto muito tímido e fechado - nunca contei a ninguém o que ouvira. Mesmo quando fui pressionado por uma colega de classe que me vira chorando sobre a carteira escolar num intervalo de aula.

Isto nunca aconteceu - com a graça de Deus - porém o meu pesadelo somente findou-se muitos anos depois, quando os dois resolveram vender a aeronave. Com ela também partiram os meus medos. Vale sempre aquele ditado: Antes um pássaro nas mãos, do que dois voando.


Ah, e antes que me esqueça, mesmo passado tantos anos, gostaria de mandar aquela cartomante à merda. Com certeza o que ela vira fora a sombra de seu oportunismo e ignorância.


O texto acima serviu de inspiração para eu mostrar a seguir o trabalho que desenvolvi e produzi - com muito orgulho - para a primeira coleção da marca SKY LAND AND SEA, do grupo PARAMOUNT.


Foram meses de intenso trabalho, tendo sido feitas inúmeras amostras de etiquetas. Apresentarei a seguir as que foram produzidas. Fotografei as etiquetas sobre uma camisa polo de piquet, que é um dos produtos-chave desta marca. Com vocês, SKY LAND AND SEA:

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