9 de jun. de 2012

O choro do adeus

Uma pequena homenagem à minha amiga Luciana Baruselli Cabral


A água cai sobre minha cabeça e corpo. Estou sentado no chuveiro. As lágrimas escorrem sobre a face. O choro é compulsivo. Choro de perda. Choro de alguém que se foi. Morte? Não, era apenas uma colega de classe - para mim uma amiga - que estava partindo abruptamente. Fora tudo tão rápido que eu não tivera tempo de absorver a notícia. Ela chegara em uma manhã de aula. De repente, Luciana não mais se encontrava sentada em sua carteira. O seu lugar estava vazio. Aquele choro no chuveiro trazia embutido a certeza de nunca mais vê-la. Ela fora para não mais voltar. Por quê? Como explicar a um garoto de dez anos que sua coleguinha deixara o país porque seu pai fugira para o exílio.


Sim, Luciana tinha partido com seus pais e irmãos para a Itália, fugindo da ditadura militar. Estávamos em 1973. Na época, a única explicação que recebera era que seu pai era "comunista" e - como todo " comunista" - tinha que fugir.


Era fugir ou morrer. Desta forma, Luciana foi-se embora. Como se diz popularmente, de mala e cuia. Acho que chorei por uns dias. O sofrimento era maior porque - a bem da verdade - não éramos amigos próximos, não frequentávamos a casa um do outro, e acreditava eu que Luciana talvez nunca viesse a ter a dimensão do que ela representava para mim. Adulto, aprendi que nem sempre o que sentimos pelo outro é correspondido em forma e intensidade por esta pessoa. Mas aprendi também que o que importa é o que sentimos. Temos que aprender a valorizar os nossos sentimentos e não ficar procurando as razões para os mesmos. Voltando à história contada, os dias se passaram, os meses vieram e - com eles - os anos. Pouco soube depois de Luciana. A única coisa que sabia é que ela se encontrava na Itália. Anos depois - hoje sei que em 1975 - eles finalmente retornaram ao Brasil. Mas como toda história de perda, fica sempre uma
ruptura; parece que algo sai do trilho e não entramos mais o mesmo vagão.


Isso mesmo: eu e Luciana havíamos embarcado na infância dentro de um mesmo vagão. Em determinado instante Luciana saiu e o trem continuou seu trajeto. Após isto, passamos a ocupar o mesmo trem, só que em vagões diferentes. Mas isto não mais importa. O que vale é saber que Luciana e sua família estão bem; que a ditadura acabou e levou com ela muitos fantasmas: até mesmo o que dizia que os "comunistas" comiam criancinhas. Hoje vivemos em uma sociedade muito mais pluralista. Não exite mais Arena (direita) ou PMDB (esquerda). As denominações e partidos são vários: direita; centro; esquerda; centro-direita; centro-esquerda; ultra-esquerda; ultra-direita...Os estilos são variados: cada um que escolha o seu.

À você, Luciana, dirijo uma palavra: seja muito feliz, no Brasil, na Itália ou em outro canto qualquer. Viva!

O texto acima, como já disse, uma homenagem a Luciana, inspirou-me a apresentar o trabalho que fiz para a  renomada designer de bijuterias, bolsas e cia, ROSE BENEDETTI, que - por coincidência (?) - também tem um sobrenome italiano. Fiz para Rose um tecido que é utilizado como forro de suas bolsas.


Além dele, desenvolvi duas séries de almofadinhas em formato de bolsas: uma com a estampa de oncinha (em duas variantes de cores)...


...e outra que faz uma linha mais esportiva, com listras coloridas.


Esta é a etiqueta que produzo para a marca.


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