24 de mar. de 2012
A revolução dos lápis de cor
Os lápis de cor sempre foram uma paixão para mim. Desde pequeno ficava encantado com sua cores, com o seu cheiro característico e seus estojos, alguns deles de lata. Nunca vou me esquecer de alguns cadernos que ganhei na infância, onde você tinha os desenhos traçados em preto e quando passava o pincel com água, as cores iam aparecendo. Aquilo para mim era pura magia.Para relembrar estes momentos coloridos, contarei a seguir uma estória infantil de minha autoria.
Thiago era um rapaz que há muito tempo havia deixado de viver e sonhar colorido. Sua vida era feita de matizes pretos, cinzas e brancos. Nada que via pela frente lhe encantava ou despertava paixão. Aliás, paixão era algo que ele não mais planejava vir a ter.Por ter sido na infância muito tímido, perdera a oportunidade de aproveitar os bons momentos na companhia de colegas e amigos. Ele não sabia o que era isso. No colégio, sem que ninguém soubesse (pelo menos ele pensava que não) passava a hora do recreio completamente sozinho. Tinha um lugar no pátio que ele considerava secreto - em baixo de uma escada - em que ele ficava a ver os meninos jogando bola, alguns outros correndo e outros fazendo folia. Certo dia uma coleguinha que ele nem mesmo sabia o nome o "descobriu" ali quietinho e quis puxar-lhe para que fosse brincar. Doce ilusão. Ninguém conseguia tirá-lo dali. O único prazer que ele se dava era comer o lanche que a empregada da casa preparava todas as manhãs. Mas para falar a verdade, nem daqueles lanches ele gostava muito, já que não lhe apetecia sanduíches de queijo e presunto, uma constante em sua lancheira.
Os melhores momentos de sua vida eram as férias escolares, onde ele podia ficar quietinho em seu canto, sem encheções ou perturbações. Nas férias, a vida corria para ele de uma forma mais confortável. Era quando podia desfrutar melhor da companhia de seu cachorro, um pequenês preto e branco chamado Chang. Não lhe pergunte o motivo do nome pois ele não saberia responder.
Já adulto, Thiago tornara-se um homem amargo. Destes que vêem problema em tudo, em que nada está bom e que nada tem graça. Foi quando ele passou a enxergar o mundo em preto e branco. Tudo o que lhe acontecia tinha estes dois tons ou então era uma variação dos mesmos. A vida para ele era um longa-metragem muito longo, com cenas muitas vezes tensas, às vezes bucólicas, outras tantas perigosas, algumas escorregadias, e outras sem muito sentido. O enredo deste filme era na maior parte das vezes chato. De vez em quando a tela ficava branca: era quando o filme se rompia e ele tinha que ser reparado para poder seguir em frente. Só que em muitas destas vezes as cenas ficavam truncadas e ele ficava sem entender alguns dos diálogos travados.
Certa noite, quando já dormia em seu quarto, os lápis de cor que foram ganhos na infância e permaneciam guardados dentro da caixa de lata desde então, começaram a ganhar movimento e a falar entre si. Tudo começou com o lápis preto que se disse cansado de ficar ali esperando o dia em que Thiago resolvesse acordar e pintar de cor a sua vida. Ele foi falando então com cada um dos lápis de cor que, também indignados com tantos anos sem uso, resolveram ali mesmo que iniciariam uma revolução.
Usando a força de cada um, eles conseguiram enfim abrir a tampa do estojo que a estas alturas já estava enferrujado. Libertos da escuridão, ficaram admirados com a luz que existia fora dali. Apesar do quarto estar na penumbra eles puderam vislumbrar quanta riqueza havia naquele lugar. Os móveis, os livros na estante, a parede pintada de verde-folha, com porta e janela creme, o lençol com listras azuis e brancas, os quadros de caçada na parede...tudo era motivo para espanto e alegria. Começaram a gritar e a cantar. Ficaram também felizes por finalmente poderem ver o Thiago ao vivo e a cores. O lápis de cor azul teve vontade dar-lhe uma bela cutucada, de tanta raiva que sentira por ter demorado tanto a se abrir para o mundo. Os lápis chegaram à conclusão de que a vida era muito mais colorida do que eles poderiam imaginar vivendo aqueles longos anos na escuridão. Foi quando o lápis preto, que era o líder do grupo, tivera a ideia de que todos, um por um, fizessem um lindo desenho para o Thiago. Pularam em cima da folha branca que descansava na escrivaninha ao lado dos óculos e fizeram a maior bagunça.Cada um queria fazer um traço mais bonito que o outro. O resultado ficou um tanto abstrato, sem uma forma propriamente dita. Porém a beleza do mesmo era de encher os olhos. O lápis preto deixara de propósito uma parte da folha em branco, no canto inferior direito, para que ele pudesse assinar o desenho em nome de todos e deixar também uma mensagem. Ficou escrito assim:
O tecido que me inspirou a fazer o texto acima foi desenvolvido e produzido para a designer BIANCA RANUCCI. Ele foi feito em três variantes de cores, uma mais linda que a outra.
O mesmo ganhou forma em lindos casacos e vestidos, além de cintos, sandálias e até porta -notebooks.
Veja a atriz Camila Rodrigues, flagrada por paparazzis, usando uma das criações da estilista.
Como já é tradição neste blog, hoje, 23/03, aconteceu mais um fato curioso em relação ao post que escreveria logo mais. Passei em frente a uma grande loja de moda popular no Brás, quando vi, em sua frente, alguns bancos na calçada, encostados ao muro: eles são feitos de maxi-lápis coloridos como você mesmo pode ver com os seus próprios olhos.
A minha vida realmente é muito colorida. Tenho muito a agradecer.
PS: as ilustrações de Thiago criança e Thiago adulto foram encontradas em grafites, nas ruas de São Paulo.
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