A lata de molho de tomate foi aberta
De dentro dela transbordou um rio de sangue
O que jorrou de seu interior foi a metáfora
de todo o sangue derramado na Terra
O sangue de cada inocente tombado
O sangue de cada homem atropelado
O sangue de cada ser humano sacrificado
A lata de tomate permaneceu aberta
E o seu conteúdo vermelho continuou a jorrar
Derramando primeiro sobre a pia.
Depois sobre o chão da cozinha,
Depois sobre as escadas que dão acesso à portaria
Quando se viu, o sangue saiu pela fresta da porta de entrada
E tomou conta da rua, do bairro, de toda a cidade,
Acabando por desembocar na nascente do rio já sem vida
Quando o rio recebeu a tinta vermelha, a vida foi tomando conta do lugar
A água ficou cristalina, boa de beber, sem medo
E os peixinhos voltaram para o lar
E se encontram lá a nadar
A poesia acima inspirou-me a ir até o Memorial da América Latina fotografar o tecido que desenvolvi para a designer MARCELA ALVES junto às obras de nosso querido Oscar Niemeyer, que acaba de nos deixar para mudar definitivamente as paisagens do céu. Este tecido foi feito em duas variantes de cor: fundo fendi, com bordado em fio off-white e bronze metálico; e fundo off-white com bordado em fio bordô e cereja metálico.
O foco principal da visita foi a escultura Mão da América que - assim como a poesia - tem um rio de sangue escorrendo por sua mão, inundando todo o chão.
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