Tem adulto que pensa que vida de criança é mole. Mole que nada. Ela é - isto sim - muito dura.
Washington Olivetto criou na década de 80 o comercial O PRIMEIRO SUTIÃ A GENTE NUNCA ESQUECE. Foi sucesso imediato no Brasil e ganhou prêmios mundo afora.
Igualmente ao primeiro sutiã, a primeira camisinha a gente também nunca esquece. Eu, pelo menos, não.
ilustração: Bearman Cartoons |
Na tela de minha vida rodava os anos 70. Morava em Araçatuba e tinha por volta de treze anos. Fazia parte de uma turminha de meninos que eu adorava. A maioria deles, filhos de médicos, assim como eu.
Certo dia, reunidos, decidimos que iríamos ter a nossa iniciação sexual. A única alternativa possível eram as casas de meretrício, mais conhecidas como zona; ou se preferir, casas da luz vermelha.
A primeira providência a ser tomada seria a compra das camisinhas. Mas onde encontrá-las? Naquela época as mesmas não eram vendidas em supermercados e muito menos ficavam expostas em lugares visíveis e acessíveis ao consumidor dentro das farmácias. Para comprá-las, você tinha que pedir diretamente ao balconista. E coragem para tal?
Pensamos, pensamos, pensamos e decidimos que tentaríamos encontrá-las primeiro no supermercado Pão de Açúcar, que havia sido recém-inaugurado na cidade. Veja bem, leitor, como já éramos crianças adiantadas para a época: os supermercados não as vendiam, mas a gente já vislumbrava esta possibilidade.
Este seria o melhor caminho, pensávamos nós, já que não precisaríamos passar pelo constrangimento de termos que pedi-las ao balconista da farmácia. Foi então que - imbuídos de força e coragem - pegamos as nossas bikes e pedalamos em direção ao supermercado. Lá chegando, nos dividimos em duplas e começamos a vasculhar as prateleiras. De vez em quando nos encontrávamos nos corredores e seguíamos adiante em nossa missão. Foi quando uma das duplas anunciou: - "Achamos. Deve ser esta caixinha.". A tal caixinha, adianto, era de O.B, mas para nós, virgens de fato e de vivência, achávamos que dentro delas, finalmente encontraríamos as camisinhas tão desejadas. Fomos até o caixa, pagamos e pedalamos feito doidos até a casa de um dos meninos para finalmente abrirmos a embalagem.
O mais engraçado (hoje, claro) foi ver a reação de cada um, ao segurar nas mãos aquele cilindro de algodão com um fiozinho preso por uma das pontas. - "Mas, meu Deus, como é que se coloca isto?" - nos perguntávamos. Um dos meninos chegou a rasgar um dos cilindros, arrancando de dentro um chumaço de algodão: -"Não, não...Não deve ser isto", apontou um dos amigos. - "Tem alguma coisa de errado nesta história" - disse um outro. Foi quando pegamos novamente a caixinha e começamos a ler atentamente as instruções de uso. Não sabíamos se ríamos ou chorávamos. Diante da triste constatação, só nos restava mesmo a única alternativa: irmos até a farmácia. Começou aí uma guerra. Mas quem dos sete garotos iria comprá-las? Jogamos dois ou um até que chegou-se finalmente à dupla que entraria na farmácia. Os demais ficariam lá fora - em cima das bicicletas - à espera. Eu fui um dos que permaneceram na calçada.
Os dois amigos entraram, meio exitantes, e se dirigiram à um senhor de óculos, que poderia muito bem vir a ser nosso avô: -"O senhor tem camisinhas?" - lascou um deles. - "Camisinhas?"- respondeu, perguntando, o senhor. Pensou um pouco, coçou a mão na cabeça e perguntou à dupla: - "Mas qual o tamanho?" Claro que aquilo só poderia ser uma brincadeira. Mas a gente levou a pergunta à sério: - "Tamanho...?" - e os dois lançaram os olhares duvidosos para nós que estávamos lá fora. Foi quando o meu amigo do lado respondeu: -"Compra P para todo mundo!". Depois tem adulto que fica aí dizendo que vida de criança é fácil!
A história contada acima, por incrível que pareça, é a mais pura verdade. Verdade de quem já teve a idade da inocência. A idade do "eu acho que"; das dúvidas, dos por quês. Não existe nada mais divertido do que as descobertas. E todas as trapalhadas nela envolvidas. Para ilustrar o conto acima, escolhi uma etiqueta que desenvolvi e produzi para a marca de roupas e acessórios infantis BALANGANDÃ.
A etiqueta é básica, sem nenhum arroubo, nas versões rosa (para meninas) e azul (para meninos).
E para complementar a fantasia, desenvolvi estas almofadinhas com o "B" da marca.
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