4 de set. de 2012

I love New York

 
  
As viagens servem para nos instruir. Para nos mostrar o que ainda não vimos. Para nos apresentar os cheiros, os ventos, os sóis e as luas ainda não conhecidas. O que vier a mais, certamente será excesso de bagagem.

Imagine-se em Nova York, em plena primavera de 1987. Pois era lá que eu estava, com o objetivo de fazer um estágio na conceituada agência de publicidade Siboney Advertising. Havia conseguido a façanha através de um primo que tinha um amigo brasileiro publicitário como eu, que morava em Nova York e trabalhava na área de atendimento nesta agência. Ficaria lá por exatos trinta dias. Na bagagem, algumas peças de roupa bastante pesadas e muita disposição para se aventurar pela cidade. O combinado era que Luis, o publicitário em questão, procurasse um hotel barato para que eu lá me hospedasse. Quando cheguei, o mesmo informou-me que de jeito nenhum: eu ficaria em seu apartamento, localizado a apenas algumas quadras do Central Park.


Nada mal. Tive dias bastante diferentes de um turista convencional. Afinal, ao invés de me ciceronear pelos principais pontos turísticos da cidade, o mesmo convocou-me a pintar com ele o seu apartamento; ou seja, passei o primeiro e pelo menos mais dois dias inteiros com um rolo de tinta na mão, pintando as paredes e o teto do apartamento. Dentre as minhas funções estava também a de carregar o lixo para fora do apartamento até a lixeira localizada no subsolo do edifício. A minha extrema timidez impedia-me de por um limite naquela situação nada agradável.

foto de Michael Sean Edwards

Encarei, porém, como parte de um sacrifício a ser cumprido em troca do tal estágio na agência. O mesmo começou no quarto dia de minha chegada, tendo eu combinado com Luis de me encontrar com ele na agência mais tarde, naquela manhã; ele saíra mais cedo para um compromisso. De tudo o que vi, o que mais curti foram algumas das reuniões em que participei com os executivos da agência; o acompanhamento da edição de som de um comercial da Pepsi-Cola, com a participação do grupo musical New Kids on the Block; e a participação de uma reunião com todos os profissionais envolvidos na gravação de um comercial para a marca de sapatos Payless ShoeSource, chamado "Birthday", que aconteceria em um estúdio de gravação no dia seguinte; assisti a toda a gravação e trouxe comigo - de recordação - um estudo deste comercial.



 Mas o mais incrível desta viagem  ainda estava por acontecer e não estava relacionado com o meu estágio na agência de propaganda. Certo dia, ao final da tarde, Luis chegara em casa e dissera-me que havia sido convidado para o vernissage de um artista plástico brasileiro chamado Zélio, irmão do cartunista Ziraldo. Eu não acreditei no que ele estava me dizendo; a final, eu havia sido aluno dele em um curso de desenho em São Paulo. O vernissage aconteceria na famosa casa noturna Club A. Quando chegamos lá, Luis, que era bem relacionado, fora cumprimentando diversas pessoas; eu, com toda a certeza, estava me sentindo feito um peixinho fora d'água. Finalmente chegara a hora de cumprimentarmos Zélio. Não sei dizer se ele me reconheceu, já que o curso fora de curta duração e não acho que o meu trabalho tenha chamado a atenção do mestre. Certa hora, Luis apontou-me para um cara que estava conversando em uma rodinha e me perguntou: "Você conhece aquele cara?". Respondi-lhe que não. Ele então disse-me: "Ele é um importante artista plástico brasileiro radicado em NY, chamado Antonio Peticov.".


Mais uma vez, eu não pude acreditar; aquilo tudo era coincidência demais para mim: eu era apaixonado pela obra "THE LADDER", cujo poster havia comprado meses antes no Brasil e enfeitava a parede de minha casa.


Foi então que Luis me apresentou a ele. Conversamos um pouco e disse-lhe o quanto apreciava o seu trabalho. Qual não foi a minha surpresa quando ele indagou ao Luis: "O que vocês vão fazer amanhã à noite?'. Luis, prontamente respondeu: "Nada demais, por quê?". "Vocês são meus convidados para irem até a minha casa. O Beto acabou de me dizer que é fã de meus trabalhos e quero lhes mostrar as obras que farão parte de minha próxima exposição que acontecerá em São Paulo no final deste ano." - disse -nos, olhando para a esposa, que assentiu com a cabeça. Nossa, pensei, acho que vou me dar um beliscão para ver se o que eu estou vivendo não é parte de um sonho. No dia seguinte fomos até o apartamento/ateliê de Antonio, que era na verdade um loft. Antonio nos guiou por cada uma das obras expostas nas paredes, explicando-nos o que o movera a criá-las, e o seu verdadeiro sentido. Não preciso dizer que estava no paraíso. Antes de nos despedirmos, Antonio pegou caneta e papel e disse-me para escrever o meu nome completo e endereço, pois eu seria o seu convidado especial na exposição que já tinha data marcada na
galeria Mario Cohen, em São Paulo. Escrevi sem muita convicção, já que achava muito difícil de o mesmo vir a se importar em me convidar para algo que aconteceria em um outro país, meses depois. Pois foi exatamente isto o que aconteceu. Certa tarde, ao chegar em meu edifício, o porteiro me entregou algumas correspondências. Dentre elas estava lá  o convite de Antonio Peticov, endereçado a Carlos Alberto Tozzi: euzinho...

PS: tenho guardado até hoje um cartão postal que comprei nesta viagem, cuja foto é a obra THE LADDER. Ele se encontra na casa de minha ex-mulher, em meio a fotografias antigas; preciso resgatá-lo do baú.

Para ilustrar esta história com "h", pois é verdadeira, apresentarei lhe os trabalhos que desenvolvi para a designer de roupas e acessórios femininos HELOISA FARIA. 


Trata-se de várias peças, todas elas integradas entre si: uma etiqueta bordada...


...papel de seda personalizado e etiqueta adesiva para fechamento da seda...

o papel de seda e a fita adesiva têm o mesmo motivo de estampa

...e duas sacolas em tamanhos diferentes. Foram feitas duas sacolas, uma maior e outra menor, ambas com alça embutida em gorgurão cru, no mesmo tom do papel, feito em laminação fosca off-white: um luxo.


Podemos dizer que se trata se um combo; mas um combo em alto estilo.

Já ia saindo da loja, localizada em uma viela na rua Augusta, quando deparei-me com a ilustração de Natacha Cortez estampando a parede externa da loja.


Ela foi o tema da estamparia da marca nesta última coleção de inverno.


Uma delícia de ilustração, em que apresenta uma mulher fumando, como o faziam sem sentimento de culpa as mulheres, em passado recente: vide as fotos das grandes divas do cinema dando uma pitada, tendo à mão suas glamourosas cigarrilhas. Lembra-se? 

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