3 de set. de 2013
Queda livre
De frente para o penhasco
Desfiladeiro abaixo
É chegada a hora de voar
O medo toma conta do lugar
Cair pode significar morrer
Mas também pode significar a salvação
A expiação dos pecados
A ressurreição dos mortos
Mãos abertas, em paralelo
Corpo em forma de cruz
O vento batendo incessantemente
Testo a voz. Solto uma palavra
que bate na dureza das rochas,
que a devolve com todas as consoantes e vogais
Medo. Pânico. Pavor
Lentamente desgrudo os pés do chão,
fazendo o corpo pender
Não há mais volta
Apenas o sentido de perder-se em si mesmo
O corpo cai
Presente, apenas o barulho do vento
que briga com o peso do corpo
No vazio da queda descubro-me pássaro
E começo a voar
Olhando para baixo,
vejo que o mundo encontra-se aos meus pés
Uma coisa é certa: ninguém quer cair. A gente faz de tudo para se manter firme, de pé. Mas não tem jeito, mais cedo ou mais tarde a gente dá uma escorregada e tropeça. Dependendo do tombo, cai com a cara no chão.
Passado o susto e limpo os ferimentos, a gente vê que cair não significa necessariamente morrer; que a queda pode nos ajudar a enxergar coisas que vistas de pé, ao ângulo dos olhos, passam batidas. Olhar de baixo para cima pode dar uma dimensão muito maior à vida. Mas depois do que disse, não precisa sair por aí querendo levar um tombo. Tudo tem seu tempo, hora e lugar.
Concluída a poesia QUEDA LIVRE, fiquei imaginando um lugar que pudesse retratar a dimensão do vazio, a profundidade da queda, a vida vista numa outra dimensão. Foi aí que lembrei-me da Praça do Por do Sol. Localizada no bairro Alto de Pinheiros, ela proporciona uma vista da cidade de tirar o fôlego. Lá do alto, muitos casais de namorados, grupos de amigos, famílias e até lobos solitários como eu fazem uma pausa no barulho ensurdecedor da cidade e ficam a disposição do barulho dos ventos que ecoam no vazio do lugar. Perdem de vista o cinza das ruas abarrotadas de carros e dão de cara com o verde remanescente da cidade.
Como não poderia deixar de ser, levei comigo uma etiqueta para testemunhar a visita. A escolhida foi a que desenvolvi e produzi para a marca de alfaiataria masculina e feminina PEDRO MOTTA. Fiz este trabalho em 2004, ano em que inciei as minhas atividades em representação comercial na Helvetia.
E para dar um sentido maior ao trabalho, levei comigo uma intervenção artística que fiz em uma folha dupla de jornal, especialmente para a ocasião.Ela mostra três nuvens carregadas de água, que se precipita em forma de chuva. Ao cair, os pingos d'água formam a frase: CAIR PARA RENASCER. O desenho foi feito com giz-de-cera.
Em uma das escadarias da praça encontrei este lindo grafite pintado no chão.
Ao lado da imagem de Elena (a retratada) está escrito: "A última vez que sonhei com Elena, ela estava dançando".
Note que aparece uma sombra preta no canto superior direito da etiqueta devido a posição em que o Sol se encontrava.
Recado do dia: O Brasil trocou as chuteiras pelas sapatilhas. A população dança o tempo todo.
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Pedro Motta
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