7 de set. de 2013

Até que a tesoura nos separe


Dia de semana. Início de noite em São Paulo. Passava por aquela calçada como de costume. Elegera aquela rua como itinerário de minhas caminhadas quase diárias.

Não que ela convidasse a um passeio. Pelo contrario, de todas as escolhidas para o trajeto, era a mais erma e marginal; afinal, ela é uma das ruas que fazem parte do quadrilátero que abriga o cemitério da Consolação. Tirando um restaurante, uma oficina mecânica e, mais recentemente, uma escola de cinema, pouca coisa funciona ali depois das 6 horas da tarde.

Pois bem, caminhava por ela para chegar até a rua da Consolação. Tudo andava como o previsto, até que dei de cara com umas fotos jogadas ao chão. Se elas não tivessem sido estrategicamente cortadas por uma tesoura, pode ser que nem tivesse parado; mas havia algo de estranho no ar. Ao olhar mais detidamente, verifiquei algo em comum entre elas: o rosto de um rapaz havia sido arrancado das fotos, sendo todos os demais elementos preservados; e uma curiosidade: este rapaz "decapitado" aparecida sempre acompanhado da mesma moça, nitidamente sua companheira; agora, de forma clara, ex-companheira.

A cena se repetia em todas as fotos: tinha desde cenas de aniversários, a passeios em praias, montanhas, parques de diversão, a fotos tiradas dentro de casa. Enfim, pela quantidade de fotos jogadas, dava para ver que a relação deles fora longa e - pode-se dizer, proveitosa.

Fiquei pensando: mas o que de tão grave pode ter acontecido para motivar uma moça a ficar provavelmente horas a fio a arrancar a cabeça do ex-namorado, marido ou seja lá o que for, foto por foto, até que não sobrasse mais nenhuma no álbum para contar história. Que mal teria feito aquele rapaz àquela moça?

Poderia ficar horas ali fazendo uma análise da situação bizarra. Mas tinha que seguir em frente, certo? Afinal, não me encontrava ali para fazer um balanço geral da vida alheia.

Mesmo seguindo em frente, aquela cena não mais saiu de minha cabeça; fiz várias e várias conjecturas; imaginei muitas situações possíveis para dar um sentido àquele episódio; só faltou mesmo arranjar um nome fictício para aquele ex-casal, assim como o faria um bom novelista. Poderia chamá-los de quê: João e Maria? Rafael e Andrea? Jair e Eliane? Não sei, a única coisa que sei é que ficar ali exposto a quem passasse, estando a pessoa com a cabeça "cortada", não deveria ser nada agradável a ninguém.
Pensei na sorte que tinha de não ter sido eu o escolhido para tal ato de vandalismo. Espero que nada tenha feito aos meus antigos amores para merecer tal sorte.

Por isso, vou logo avisando: ex-amores de minha vida; ex-companheiras; ex-namoradas; ex-ficantes; ex-amantes; ex-paqueras, ex-qualquer coisa:.amo a todas vocês. Do fundo do meu coração. Por favor, esqueçam-me guardado nas fotos que por ventura ainda não tenham sido jogadas fora. Com a cabeça no devido lugar, espero.

"On mani padme hum". Este é o mantra que se encontra gravado do lado de dentro de uma aliança que comprei da designer de jóias CHRISTINA CUNALI, em 2004, ano em que iniciei minhas atividades de representação comercial na Helvetia. A conheci e fiquei encantado na hora com o seu trabalho. Agora, anos depois, olhando o seu site para poder compor o texto deste post dedicado a um trabalho que fiz para ela, ainda mantenho-me emocionado com suas peças, com suas criações, com seu universo de trabalho tão rico e particular.




Christina desejava criar um saquinho para acondicionar as suas peças. Entrei em ação com as possibilidades tecnicas que tinha em mãos´. Desenvolvi então dois saquinhos em jacquard, um menor e outro maior, tendo o seu nome bordado em uma das faces.

O fundo de ambos é preto e o logo foi bordado em carvão. Confira agora o resultado nas fotos que tirei.
Mas antes, quero arrematar o conto criado com o produto aqui apresentado. ATÉ QUE A TESOURA NOS SEPARE ilustra bem a questão das uniões, dos amores que quando se iniciam, nos parecem eternos, mas que - por uma razão ou outra - acabam muitas vezes perdidos pelo caminho. Casais formam alianças. As alianças têm em si o símbolo do amor eterno, já que a sua forma (anel) não apresenta início nem fim. Alguns amores seguem a simbologia e se perpetuam até que um dos amantes parte para a eternidade. Outros, talvez a maioria, se esgotam e terminam por qui mesmo.















Apresento aqui a aliança que comprei de CHRISTINA CUNALI. Ela mandou gravar este mantra para mim: ON MANI PADME HUM.











Repare que antes do mantra, encontra-se o seu logo gravado.

Recado do dia: Viver é jogar luz à escuridão que habita o nosso interior mais recôndito. É botar luz em nossa caverna e poder enxergar os nossos estalagmites e estalactites.


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