5 de set. de 2013

Ônibus sem direção

Pessoas na janela do ônibus - Fernando Kojo

Às vezes estamos tristes e não sabemos o que fazer. Pior, às vezes nos sentimos perdidos, achando que nada podemos fazer. Sentimo-nos tontos, sem direção, imersos em suposições que não nos levam a nada. Nada faz sentido e não nos encontramos em posição de fazermos algo que possa mudar a situação. Se você já sentiu algo parecido, bem vindo ao time.

Certa vez, encontrava-me exatamente na situação relatada acima. Estava sem trabalho e - na verdade - não sabia ao certo se tinha qualquer qualificação para almejar algum.

No amor as coisas também não iam bem. Estranhava o comportamento da companheira, que não me permitia entrar em sua intimidade. Parecia o tempo todo representar um papel para o qual não havia sido contratada.

Em resumo, a vida estava uma merda.

Como não sabia o que fazer, resolvi pegar um ônibus. O destino não interessava. Como não tinha para onde ir, qualquer direção que ele tomasse daria na mesma.

Desta forma, entrei no primeiro que se aproximou do ponto. Encontrei um lugar junto à janela e sentei-me.

Era uma manhã fria de inverno. As pessoas ali dentro estavam bem agasalhadas e - vício constante - deixavam as janelas fechadas, fazendo desta forma com que o ar não se renovasse. Muitas delas iam ou voltavam do trabalho. Naquela ocasião, o celular ainda não havia entrado em cena e portanto, cada qual procurava o seu próprio jeito de se distrair; uns liam, outros conversavam e outros, ainda, como eu, olhavam a paisagem. Não que houvesse algo interessante a se ver lá fora. Exercíamos apenas o vício da curiosidade.

E foi neste ritmo, entre paradas e partidas, que eu fui seguindo em frente. Melhor dizendo, sendo levado a diante. No caminho, algumas placas de sinalização indicavam o Jardim Zoológico.

Quando vi, estava praticamente na porta. Por um segundo a minha memória foi invadida por lembranças da infância, com flashes de meu avô levando a mim e a meus irmãos a um passeio pelo zoo.

Resolvi descer. Talvez uma caminhada lá dentro pudesse me fazer bem. Se bem que não me encontrava motivado a ver nada.

Paguei a entrada e entrei, caminhando pela alameda principal.

Era um dia de semana, distante do calendário de férias escolares e, portanto, o zoológico estava quase vazio. Com exceção de alguns grupos de crianças que surgiam aqui e ali, comandadas por monitoras, apenas alguns casais de namorados e famílias constituídas de pais e filhos passeavam pelo lugar.

Segui pelo caminho que me pareceu o mais conveniente. Percebi que o zoológico estava dividido por grupos de animais de espécies afins.

De repente, vi a frente um pequeno grupo parado junto a um recinto; todos pareciam muito animados e riam pra valer. Resolvi ver o que era.

Aproximei-me. Lá estavam dois enormes orangotangos. Enquanto um deles encontrava-se refastelado junto a um tronco de árvore, o outro, sentado ao chão, de frente para a platéia, se exibia. Olhava para as pessoas e pedia que lhe jogassem alimento, movendo lentamente a sua mão direita em gestos repetidos de "passe para cá".

A placa na frente da jaula era clara: "Não dê alimentos aos animais". Mas diante de tal palhaçada, quem poderia resistir! E era desta forma que as crianças atiravam ao orangotango o que tinham nas mãos; desfaziam-se assim, sem dó, das delícias compradas por seus pais.

Acho que aquele foi o único momento, em dias, em que me visse de alguma forma feliz. Assim como os presentes, eu também pude rir daquelas macaquices; ou melhor, orangotangonices.

Apesar de perdido na selva de pedra, vi que ainda poderia existir nesta vida alguém que me fizesse voltar a sorrir.

ÔNIBUS SEM DIREÇÃO é um texto que remete a momentos onde não sabemos para onde ir. É como se a vida nos colocasse em uma encruzilhada, como aquelas que vemos em desenhos animados, onde existem várias placas indicando vários lugares, em suas mais diversas direções. E agora, para onde ir?

Para ilustrar o conto, que fala de Jardim Zoológico, com seus bichos, manhas e manias, escolhi apresentar 3 etiquetas desenvolvidas em 2012 para a marca de roupas infantis NOSH. Como é dito em seu próprio site, a NOSH "...é uma marca infantil moderna, divertida, estilosa e singular, que busca inspiração na principais tendências para o desenvolvimento de suas coleções.".




E como cenário para fotografar as etiquetas, escolhi - nada mais nada menos - que o Jardim Zoológico de São Paulo. Foi para lá que me dirigi, em companhia das etiquetas, no último sábado, tarde do dia 31 de agosto.






















































































Fizemos as etiquetas em 3 variantes de cores de fios metálicos: ouro, prata e pink. As fotos da variante pink não mostram a cor do fio; a aparência dela é de um prata.


























Recado do dia: Quando a gente pensa que a vida já nos apresentou tudo, ela nos surpreende novamente: nova espécie no reino animal.






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