Animal planet

A vida é uma selva. Cheia de perigos rondando a cada esquina, precisamos ser verdadeiros animais para sobrevivermos a ela.

Cada qual encontra a sua arma. A de Alice foi vestir-se quase que diariamente de "animal prints". Ela não sabe determinar com exatidão a data a partir de quando adotou este estilo. O que sabe, porém,  é que com o passar do tempo foi adquirindo um verdadeiro acervo de roupas e acessórios que remetem ao tema: calça leg de oncinha; cinto de zebra; blusa de leopardo; bolsa de croco; sapato de piton; brinco de dente de tigre; relógio com pulseira de onça e por aí vai.

No começo mantinha um certo pudor na utilização das peças; não usava mais de um bicho no mesmo look. Com o tempo adquiriu segurança e começou a misturar tudo: cobra com onça; onça com leopardo; zebra com crocodilo; crocodilo com tartaruga etc.

Os bichos viraram sua marca registrada. A tal ponto que na repartição onde trabalha como escriturária, ganhou dos colegas a alcunha de "Animal Planet". Quando passa, tem sempre um engraçadinho que cochicha no ouvido de outro:

- "Lá vem a Animal Planet. Hoje ela está uma onça!"

Alice finge que não escuta. Para falar a verdade, acha que as amigas (da onça) morrem de inveja por não terem coragem de adotar um estilo próprio como o dela. Ora, pensa Alice, "se até os personagens das novelas da Globo são caracterizadas por um modo de se vestir, por que não eu?".

Aliás, atriz é o que ela gostaria de ter sido, mas a vida não lhe deu chance. Logo cedo precisou trabalhar para complementar a renda da casa. Até hoje, aos vinte e seis anos, é assim. Mora com os pais e dois irmãos, e metade do que ganha entrega nas mãos do pai.

O seu maior sonho é se casar. Mas Alice não dá sorte. Mal arranja um namorado e o mesmo a abandona. Se não por outra, pelo time do coração.

Dizem as más línguas que ela não arranja namorado porquê nenhum homem que se preze vai querer sair na companhia de um "bicho".

Mas Alice não cede: se algum homem quiser ficar com ela, que seja do jeito que é: uma fera. Aliás, o seu signo é Leão com ascendente em Capricórnio.

Hoje, sexta-feira, no horário do almoço, o destino vai lhe pregar uma peça. "Como eu sei disso?", você pergunta. E eu lhe respondo: "sei porquê sou o autor deste conto".

Andando pela calçada, já próxima à faixa de pedestre, onde vai atravessar a rua, Alice se distrai com um engraçadinho que passa por ela e lhe diz:

- "Olha que zebrinha! (ela está vestindo uma leg listrada que - diga-se de passagem - está na última moda).

Alice vira-se para o rapaz e não percebe que o farol ainda está aberto para os carros. Dá alguns passos e é pega por um táxi que corria a tempo de cruzar a avenida antes de o farol fechar.

Caída no asfalto, Alice se contorce de dor. O motorista pára o carro um pouco mais a frente e vai ao seu encontro prestar-lhe socorro. À esta altura, uma pequena multidão já se forma ao redor dela. O motorista pede licença e vai abrindo caminho. Ao vê-la caída, pergunta-lhe:

- "Me desculpe, eu não consegui frear a tempo. Quando vi, você já estava na frente...Como está se sentindo?".

Ao ver que Alice mantém as mãos pressionando a perna direita, pede-lhe que a deixe levá-la até um hospital mais próximo.

Alice permite. Quando se aproxima do carro, vê que o moço que a atropelara é um motorista de táxi.

Os dois vão até o pronto-socorro do hospital do Servidor Público. Depois de passar por uma consulta, Alice sai de lá com uma tala no pé; sofrera uma pequena luxação.

O motorista a leva até a sua casa e - antes de partir - pega o telefone de Alice para saber notícias.
De telefonema em telefonema, tornam-se amigos. Saem algumas vezes até que finalmente começam a namorar.

Quando Alice vê que o namoro engatou pra valer e que os sentimentos do amado que, aliás, chama-se Otávio, são mais que sinceros, resolve colocar a sua foto na tela de descanso de seu computador na repartição.

Quando uma das "amigas da onça" vê a foto daquele gato de tirar o fôlego, trata logo de perguntar-lhe:

-"Nossa, Alice, quem é este gato?"

- "Ah,....este gato? Bem é o tipo de animal que a gente só encontra se fizer parte do Animal Planet. Sacou?".

Dito isto, dá as costas para a colega e sai em direção ao café. Neste dia ela está vestida dos pés a cabeça de leoa.

Já disse algumas vezes em conversas com amigos e clientes que o encantamento das mulheres em geral pelas estampas de animais, conhecidas como animal prints, renderiam uma bela tese de pós-graduação na área de moda.

A história da humanidade caminha lado a lado com a presença dos animais, que - se não são caçados para efeitos de alimentação ou esporte - servem de símbolos a diversas civilizações, desde as mais remotas, até as atuais.

Dentre os animais que emprestam suas figuras à símbolos como bandeiras, monumentos, esculturas, pinturas, escritas etc, destaca-se o leão.Ele traz em si a simbologia da bravura e da nobreza.

Para ilustrar o conto ANIMAL PLANET escolhi uma série de trabalhos que fiz par a marca de roupas e acessórios feminina IGEEL. Ela foi uma parceria estabelecida entre a estilista Celi Gomes e os empresários de moda Luis Gelpi (proprietário da Side Walk) e Marcelo Cunha (proprietário da Red Nose). O logo traz como tema central a figura do leão, que aparece inserido em um brasão, ladeado por ramos de louros e uma coroa.

As etiquetas desenvolvidas e produzidas são belíssimas. Como cenário para apresentação dos trabalhos, escolhi uma bela escultura que se encontra na Praça Higienópolis. O seu nome é MILON DE CROTONA, e a mesma é uma reprodução da escultura de mesmo nome, feita por Pierre Puget, e que se encontra no Museu do Louvre, em Paris.

Confira agora.

Esta etiqueta tem o fundo off-white com o logo em dourado trilobal.

Esta etiqueta tem fundo preto e logo em fio dourado trilobal.

Esta etiqueta tem o fundo off-white e o logo em fio carvão.

Esta etiqueta foi feita para ser aplicada em camisetas, blusas e camisas, como emblema da marca; para tanto, foi aplicado um termo-colante em seu verso.

Abaixo, o galão pendurador desenvolvido para a Igeel.

Assim que cheguei a praça, fui recebido por estas feras que habitam o local. Confesso que às vezes chego a ficar assustado com as "coincidências" que rondam meu trabalho. Escolhi a escultura como cenário por já tê-la visto em uma de minhas caminhadas de final de tarde; mas estas espécimes, que têm tudo a ver com o post, não tinha ideia que estivessem ali.

Frase do dia: "O que importa é a beleza interior". Frase que aqueles que nasceram feios mais ouvem ao longo de sua vida.

As bonecas de espuma e tecido retratadas aqui - e que, por sinal, são lindas - pertenciam a uma exposição no shopping Iguatemi, em São Paulo, e retratavam - cada uma - uma espécime de flor.

A imagem que abre o post foi extraída do blog "Sunday Postcard Art". Mais em http://sundaypostcardart.wordpress.com/2012/07/14/animal-print-sampler/