2 de jul. de 2013

A novela da vida real


Maria Augusta hoje é uma mulher madura, segura de si. Sabe o que quer da vida e sabe correr atrás do que precisa e deseja para realizar os seus sonhos. Mas nem sempre foi assim. Casou-se virgem aos vinte e quatro anos de idade, no início dos anos 70, em plena era do Paz e Amor.

Quando chegou da lua de mel e o marido abriu o apartamento, tendo ela em seu colo, disse para as paredes:

- "Lar, doce lar"

Com o passar dos anos, percebeu que aquele apartamento ganho de presente de seu sogro não era exatamente tão doce lar como ela no início imaginara.

O marido não parava muito tempo em um emprego. Advogado, tentava a vida como representante comercial. Nas primeiras mudanças de emprego, Maria Augusta até acreditava no que o marido dizia: o problema não estava com ele e sim, com as empresas que não sabiam avaliar e mensurar o seu potencial.

Depois de mais ou menos umas oito tentativas frustradas, ela começou a achar que o problema de fato estava com ele, e não com as empresas que o demitiam. Afinal, será que haviam tantos diretores burros assim no mercado para não enxergarem as qualidades do marido?

O pior ainda estava por vir. Como o amor é cego e não usa camisinha, três anos depois do enlace matrimonial nasceu Arthur. Forte feito um touro, berrava por leite feito um bezerro desmamado. Tinha predileção pelos concertos noturnos, quando abria a boca para chorar; chorar não é bem a palavra apropriada; vamos dizer aqui, berrar.

Maria Augusta foi ficando injuriada. Não bastasse o filho gritando em seus ouvidos, tinha que aguentar o marido com os pés na mesinha de centro da sala torcendo pelo time nas rodadas dos campeonatos de futebol.

- "Vai verdão!" era o que ela mais ouvia. Emprego que é bom, nada.

Certo dia, depois que o marido voltara para casa vindo de uma entrevista de emprego, Maria Augusta falou-lhe:

- "Cansei. Não aguento mais o verdão e muito menos o vermelhão de suas bochechas. Papai passou aqui para pegar as minhas malas e estou indo embora com o Arthur. Criança para mim, já basta uma!"

Maria Augusta foi. Voltou. Foi. Voltou umas cinco vezes, até que foi embora em definitivo.

A vida não lhe deu canja, claro. Mas até aí, ela preferia o gosto sonso de uma vida canja de galinha ao lar doce lar que ela vivera ao lado do marido, e que já não mais conseguia engolir.

As coisas aos poucos foram se encaixando, arranjando o seu devido lugar. A única coisa que permaneceu intacta nestes anos todos foi o seu álbum de casamento. Quando casou, pagou o olho da cara por ele e agora já não tinha mais serventia alguma. Olhar o seu conteúdo era coisa que ela não se atrevia. Também para quê?. Para ficar olhando aqueles penteados do passado (?); aquelas caras hoje já todas irreconhecíveis (?); muitas das pessoas que de amigas passaram a inimigas (?); isto sem contar nas pessoas queridas que já partiram desta para melhor(?). Para não reviver mais estas cenas, melhor mesmo era deixar o livro descansando em paz na estante.

A alguns dias atrás, sentada no sofá da sala, em frente a mesinha que o ex-marido colocava os pés, encontrando-se com um copo de uísque à mão, olhou para o álbum preto descansando na estante ao lado e decidiu que o abriria pela última vez na vida. Estava decidida a brincar um pouquinho com ele e depois deixá-lo descansar eternamente em uma caçamba qualquer da cidade.

Pegou então uma caneta pilot dourada, abriu o álbum em suas mãos e foi fazendo nele as sua anotações. Aquele era o momento de dar nome aos bois, como dizia seu pai.

Na primeira página, onde estava apenas o nome dos noivos (Maria Augusta e Eduardo Augusto), ela escreveu:

NOVELA DA VIDA REAL. QUALQUER SEMELHANÇA COM A REALIDADE É MERA COINCIDÊNCIA.

Ao passar as páginas, depois de virar as folhas de papel vegetal, ela fazia as suas anotações, sempre rodeadas por balõezinhos, destes que víamos em fotonovelas e gibis.

Para o ex-marido escreveu coisas do tipo: "viado"; "folgado"; "horroroso"; "desdentado" (ele tinha uma falha nos dentes, coitado); "porco"...

Na sogra, cunhadas e ex-amigas de infância, escreveu coisas do tipo: "cafona"; "perua"; "vigarista"; "invejosa"; "mal amada"; "galinha"...

Ao redor de alguns convidados da família do ex-marido, escreveu: "traíra"; "ladrão"; "frouxo"; "vadia"; "perdida"; "corno manso"...

Entre uma anotação e outra, Maria Augusta ria sem parar. Estava botando para fora toda a raiva que sentira dessa gente nestes anos em que ficara calada. Sabia que podia escrever o que quisesse, já que jogaria o álbum na caçamba e nunca mais o veria; nem ela e nem ninguém; com exceção, claro, de algum mendigo ou lixeiro curioso que viesse abri-lo.

No final, quando chegou à última página, escreveu: FIM. E NÃO FORAM FELIZES PARA SEMPRE. "THE END" COM FINAL FELIZ É SÓ PARA FILME AMERICANO.

Riu. Riu. Riu. Riu muito.

Largou então o copo de uísque no sofá, que a esta altura só tinha a água; colocou o álbum debaixo do braço; desceu o elevador; saiu portão afora; caminhou um, dois, três quarteirões e pronto. Lançou o álbum caçamba adentro, não antes de dar o seu último olhar de desprezo à obra, por fim acabada.

Voltou tranquila para casa sentindo-se quilos e quilos mais leve. Dormiu feito uma anja.

Tempos depois, tranquila em casa, Maria Augusta olhava a página do GOOGLE em seu laptop, quando olhou para a tela e levou o maior susto de sua vida.

Havia uma chamada: "PROCURA-SE MARIA AUGUSTA E EDUARDO AUGUSTO, O CASAL DA NOVELA REAL".

Sem acreditar no que via, Maria Augusta entrou no link e viu o vídeo que já estava na lista dos mais acessados:" NOVELA DA VIDA REAL. A NOVELA REAL DE MARIA AUGUSTA E EDUARDO AUGUSTO.".

Resumo da história: momentos após Maria Augusta jogar o álbum na caçamba, em frente a um prédio, descia do mesmo um morador que era vídeo-maker; ele havia descido para levar seu cãozinho para dar uma volta e fazer as necessidades. Foi quando olhou para aquele livro preto de capa dura aberto e - por curiosidade - resolveu olhar o seu conteúdo. Ao folhear algumas páginas, viu que ali encontrava-se uma grande história. Aquele álbum era sem dúvida uma verdadeira fotonovela.

Depois de dar boas risadas, resgatou o livro da caçamba e - no dia seguinte -levou-o à produtora para mostrá-lo a um colega.

- "Por que você não edita este álbum e o transforma em uma fotonovela dos dias atuais?"- propôs o amigo.

Aceita a ideia, o viedo-maker, que diga-se de passagem era muito talentoso, fez um vídeo e inseriu nele inserções de filmes românticos que fizeram história no cinema mundial. Concluída a obra, inseriu-a no YouTube.

A história virou febre no país todo e colocou o vídeo na lista dos mais acessados. Foi então que o video-maker resolveu lançar a campanha nas redes sociais: "PROCURA-SE MARIA AUGUSTA E EDUARDO AUGUSTO. O CASAL DA NOVELA REAL".

- "Nossa, Mãe Toda Poderosa." gritou Maria Augusta depois de ter assistir ao vídeo.

-"Tô ferrada! Não posso nunca mais pisar os pés fora de casa!"

Amor, desamor, atire a primeira pedra que nunca os viveu. O amor é - sem dúvida - o maior sentimento que um ser humano pode sentir por outro ser humano e por tudo o que chamamos de vida.

O amor é o que permanece, quando tudo o mais sai de cena.

Amor é o tema que escolhi para apresentar os trabalhos que desenvolvi e produzi para a dupla de fotógrafos consagrada ANNA QUAST e FABIO LAUB. Podemos dizer, sem exagero, que eles estão para a fotografia de eventos como está Oscar Niemeyer para a arquitetura. São feras e - exatamente por isso - são referência na área em que atuam.





Por uma destas coincidências da vida, fui chamado por eles no exato momento em que estavam se associando para criarem a dupla AF. Todo o material de divulgação foi criado por um estúdio contratado pela dupla. O que fiz foi dar vida a alguns produtos que foram usados na elaboração deste rico material. O primeiro produto foi um tecido, que desenvolvi e produzi, e que foi utilizado - principalmente - na elaboração dos álbuns que são feitos para os seus clientes. Fizemos o mesmo em duas versões, ambas lindas: fundo algodão cru com o logo em preto; e fundo preto com o logo em ébano. Além do tecido, desenvolvi uma fita, também em duas variantes de cores; a diferença em relação ao tecido é que a variante em fundo off-white foi feita em fio de poliéster, ao invés de algodão cru.

A terceira peça desenvolvida foi um cartão de visita em jacquard, no lugar dos tradicionais cartões em papel. O resultado ficou esplendoroso. O logo AF aparece em alto-relevo e o nome da dupla foi bordado em preto. Simples e chique, como a vida deve ser.

Para mostrar os trabalhos, fui dar um passeio com eles até um local que tem tudo a ver com o tema casamento: aportei na Igreja de São José do Jardim Europa. Não por acaso, foi lá em que me casei, no ano de 1992.

A igreja foi oficialmente inaugurada em 19 de março de 1930. O seu estilo e arquitetura são cópia de uma igreja de Bolonha, Itália.

Lá acontecem 9 dos 10 casamentos mais chiques da cidade.

















Para quem não sabe, esta igreja está cravada no bairro mais tradicional e sofisticado da cidade. Ele é endereço das famílias mais tradicionais e de muitos dos empresários que encabeçam a lista dos mais ricos e poderosos da revista Forbes.














Fotografei os produtos no jardim da igreja, já que não achei apropriado fotografá-los em seu interior.
Um fato curioso aconteceu enquanto fazia as fotos externas da igreja. Um urubu pousou na cruz que fica na torre da igreja e de lá não saiu enquanto ali permaneci. Sorte ou azar. Prefiro acreditar em Deus.















Caminhando pelas ruas após deixar a igreja, deparei-me com esta escultura em uma praça muito próxima da mesma. Denominada Praça Cláudio Abramo, em homenagem a este jornalista e diretor-executivo da Transparência Brasil, organização dedicada ao combate a corrupção, ela abriga a escultura O JORNALEIRO, do escultor, pintor, gravador, cenógrafo e designer ítalo-brasileiro Domenico Calabrone (1928-2000). Feita em bronze, ela mostra um homem com papéis embaixo do braço. Achei que além dos papéis ele gostaria de carregar o tecido feito.


















Como já disse anteriormente, o meu casamento com Adriana aconteceu nesta Igreja de São José, no dia 18 de janeiro de 1992. São José é o protetor da família e, certamente - mesmo já separados - continuará abençoando a nossa família, hoje Marina inclusa.

Segue a matéria que saiu no Jornal A COMARCA, escrita pela saudosa jornalista e colunista social Odette Costa (29/01/1992).


















Recado do dia: Se você perfurar meu coração, vai encontrar um mar de açúcar embaixo da camada de pré-sal.






















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