7 de ago. de 2012

Quem não tem cão...


Uma pequena homenagem às mulheres, loucas por tecnologia de ponta.
 
Pendurado à mão direita, pela alça, o pequeno rádio de pilha cor café com leite pendia em meu braço. Estávamos em 1975 e eu acabara de ganhá-lo de meu avô, que o trouxera de viagem à Europa. No total, foram três os rádios presenteados, um de cada cor (para não dar confusão), distribuídos a cada um dos netos. Assim que ganhei o meu, tratei de sair à rua para mostrar a novidade aos primos/vizinhos e amigos.
Morávamos ao lado da casa de meus primos, filhos de tio Claudino Marques Marçal (Coló). Eles eram em cinco: duas meninas, Carla e Claudia, e três meninos, Ivo Lamartine, Claudino (Juninho) e Ricardo (Cadão). A casa deles era o ponto de encontro da molecada do bairro.

Lá reuniam-se e conviviam entre si diversas tribos, fruto das amizades coletivas ou individuais de cada um dos irmãos. Eu gostava, em especial, da companhia de Carla e Claudia. Ficávamos sentados às vezes horas a fio em cima do muro em frente à casa, que era de esquina, contando causos, novidades e batendo papo com quem estivesse por perto.

Neste dia, em especial, apareci lá com o tal do radinho, sintonizado na rádio local. Não precisa dizer que o som e o aparelho em si chamaram a atenção da meninada, que foi se aproximando e me cercando, feito formigas ao redor de um pote de açúcar.

Naqueles dias, portar um rádio de pilha colorido representava o mesmo que hoje em dia aparecer com um  iPhone de última geração. Era, digamos assim, o objeto de desejo da época.

A rádio AM local não estava sintonizada com as últimas novidades tocadas nas rádios da Capital, porém, sempre chegava até os nossos ouvidos alguma boa novidade. Em 1975 a banda Queen lançava o album A Night at the Opera, com o single "Bohemian Rhapisody"; Clara Nunes lançava o LP Claridade; Rita Lee e Tutti Frutti cantavam as músicas "Agora só falta você", "Esse tal de Roque Enrow" e "Ovelha Negra"; os Bee Gees cantavam "Jive Talkin", "Nights On Broadway" e "Wind of Chance"; e o grupo ABBA, "Mamma Mia".

 

Minhas primas, quando viram o rádio, quiseram pegá-lo em suas mãos. O olhar era de encanto, fascinação. Foi aí que lasquei o convite à prima Carla, que acreditava ser a menina mais linda do mundo e que - se não fosse prima - já teria pedido em namoro.

olha a prima à esquerda!
boa parte da turma está nesta foto!

Lancei o desafio: - "Carla, se você der uma volta comigo de mãos dadas no quarteirão, deixo você ir carregando o radinho."

- "Jura!"- indagou-me ela. A tentação, visível em seus olhos, era grande. - "Tá bom, mas só uma voltinha." - defendeu-se ela do assédio repentino.

E lá fomos nós, seguidos por toda a garotada presente, iniciando o passeio pela praça Olímpica, que ficava em frente à sua casa. Fomos de mãos dadas, feitos dois namorados. Carla era quem segurava o rádio e indicava o caminho a ser seguido, que ia transformando o silêncio em música para os ouvidos.

A sensação que sentia, acreditava eu, devia ser a mesma a de um campeão que acabara de retornar de alguma olimpíada, em algum país distante, e voltara triunfante à terra natal, trazendo no peito a medalha de ouro conquistada, e sendo ovacionado nas ruas pela população.

A minha conquista, no caso, era a prima Carla, ao meu lado, toda faceira. O radinho de pilha café com leite, apesar de bonito, servia apenas como pretexto (medalha) para a vitória recém-conquistada.

Fica aqui uma certeza à todos nós, homens: a tecnologia foi, é e será a nossa melhor aliada na conquista das mulheres, apesar de elas protestarem e dizerem não concordar com esta tese. Mas a verdade é que nenhuma delas resiste à um bom aparato tecnológico de ponta. E tão ou mais eficaz do que isto, talvez só exista uma outra coisa: a companhia de um charmoso(a) cãozinho, preso à coleira, andando com você pelas ruas da cidade. Mas isto é assunto para um outro post.

E já que estamos falando das mulheres, tratei de arranjar uma - feita em mármore branco - e que estava descansando no parque Trianon, em S. Paulo, para tirar as fotos deste tecido maravilhoso que desenvolvi para a marca de sapatos e bolsas SCHULTZ. Ele tem uma pegada tribal. Fizemos diversas variantes de cores, algumas delas usando o fio ouro metálico. Confira o resultado.


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