Desfile Modas. Este é nome da loja em que mamãe comprava os tecidos que viravam lindos vestidos nas mãos das costureiras locais. Eu fico pensando como é que em uma cidade tão longínqua da capital como Araçatuba (533 km), poderiam existir costureiras habilidosas, capazes de transformar o desejo às vezes sofisticados de suas clientes em roupas que não ficavam nada a dever a ateliers de centros de moda como Paris e Milão. Pois elas existiram e ainda existem por lá. Isto mostra que o talento pode surgir e frutificar em qualquer lugar. Deus os dá sem preocupações geográficas. Onde cair, caiu.
Pois foi para o casamento de seus sobrinhos Ivo Tozzi Filho e Regina Beatriz, em que papai e mamãe haviam sido convidados para padrinhos do religioso, que mamãe fez um vestido muito especial. A começar pela cor: preto. Na época - anos 70 - existiam regras de conduta que não aconselhavam o uso do preto e de cores muito próximas ao branco para as madrinhas. O preto carregava uma aura de luto, ao invés de comemoração. Visto por este ângulo, poderia vir a ser entendido como provocação.
Pois preto foi a cor escolhida por mamãe. Certa de sua escolha, ela fora até o Desfile Modas, com um modelo de inspiração às mãos, à procura de um tecido que viesse a cair bem no vestido idealizado. Lá, fora recebida pelo figurinista da casa, que era seu conhecido, e que, gentilmente dispôs-se a desenhar o modelo pretendido. O mais legal de tudo foi o tecido escolhido, que também à época não era usual para este tipo de cerimônia: a malha pesada. E foi uma malha preta e pesada a escolhida. Sem dúvida, ela daria o caimento necessário para o vestido criado.
Abro um parêntese aqui para a profissional escolhida para fazer o vestido. O seu nome é Marlene Brandão, profissional de primeiro time, reconhecida há muitos anos como uma designer de roupas femininas sofisticadas em todo o Brasil. Em outras palavras, pode-se dizer que ela faz alta-costura, apesar de saber que este termo só possa vir a ser utilizado pelas maisons estabelecidas em Paris. Em qualquer outra localidade, diz-se que o que se faz é prêt-à-porter.
Marlene foi quem viabilizou e deu cara à criação de mamãe. Eu, à época, era uma criança, mas confesso que ao ver mamãe vestida, pronta para a festa, acreditei que estava diante de uma pantera negra.
(*) Segundo minha mãe, que acabou de ler o post, o tecido referido no texto foi comprado na loja paulistana Hasson. Portanto, a Desfile Modas entra aqui apenas como uma licença poética à minha imaginação.
O texto acima serve de inspiração para a etiqueta que desenvolvi e produzi para um atelier também pra lá de especial chamado A MODISTA. A etiqueta foi feita em 2005. Ao entrar na loja, a sensação que temos é de uma volta ao passado. Um passado onde o glamour, elegância eram a tônica da época. Tudo lá é muito especial, desde a exposição das roupas, penduradas em cabides presos ao teto, até os modelos das roupas propriamente ditos. A proprietária, Gisele, também restaura e repagina vestidos de herança de família.
A etiqueta feita é simples e elegante: o logo é bordado sobre base cetim, em duas variantes de cores: o preto e o branco.
Este desenho foi feito pela artista plástica BIBA, que conheci casualmente, em visita ao seu atelier, na Vila Madalena, em S. Paulo. Os vestidos retratados não são negros, mas o fundo do desenho, sim.
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