14 de abr. de 2012
Papel rasgado. Depois colado.
Com você aprendi a brincar de boneca (não conta para ninguém).
Com você pulei amarelinha e fiquei sem saber o porque, sendo destro, pulava apoiado na perna esquerda (sou ambidestro).
Com você dedilhei os primeiros acordes de violão, já que o piano me fora negado (trauma já resolvido em análise).
Com você fiz as primeiras apresentações e recitais em comemorações fechadas para a família (nem sempre muito aplaudidas).
Com você ensaiei os primeiros passos de dança ao som do vinil que mais pulava que rodava na agulha da pequena vitrola azul calcinha.
Com você cantei muitos "parabéns a você" para avós, tios, pais, primos, amigos eamigos de amigos; alguns deles tiveram "muitos anos de vida".
Com você comecei a traçar o que seriam os primeiros passos de nossas (pretendidas) futuras profissões: engenheira e ator. Era o encontro entre a razão e a emoção.
Com você aprendi a explorar as primeiras calçadas, caminhos, atalhos, cidades, vilas, chácaras e fazendas.
Com você (e com a ajuda das fotonovelas) descobri que beijar poderia ser muito bom e passei a treinar exaustivamente a técnica em meu braço direito, que virou um verdadeiro campo de provas.
Com você quase, quase, por um tris brinquei de médico. Ah, se não fosse aquela porta aberta na hora...: - Crianças, venham comer.
Briga na família.
Sem você eu fui cuidar de minha vida. Estudei, fiz os exames, passei de ano - ano pós ano; fiquei gripado; fiquei de molho; fui ao supermercado; cometi minhas faltas e também fiz pecados (alguns já confessados, outros não).
Sem você entrei na faculdade, encontrei minha turma; virei rato de livrarias, cinemas e teatros; paquerei; namorei....
Reconciliação da família.
Com sua filha mais velha, vestida de dama de honra, casei; tive filha; separei; mudei de casa; troquei o CEP, andar e número de apartamento. As únicas coisas não alteradas foram a filha, a família, o CPF e o RG. O resto joguei fora.
Hoje, às vezes com você, às vezes sem, vou tocando a vida, acreditando em projetos, botando a mão na massa e as vezes cozinhando em banho-maria também.
Com você espero chegar a ficar bem velhinho, com ou sem bengala, segurando você pelo braço e indo assistir ao filme da hora. Isso se a catarata deixar.
Ela já está bem velhinha e está na cara que um dia fora rasgada e depois colada. Ela está lá para nos mostrar que a vida nos deixa cicatrizes pelo rosto, pelo corpo e pela alma. Cicatrizes estas que nos fazem ver que não se pode passar pela vida em branco.E nem se quer viver de papel limpo,passado e engomado.
O tecido que inspirou-me a fazer este texto construído a base de muita poesia, foi desenvolvido e produzido para atual coleção de inverno da estilista BIANCA RANUCCI. Ele, com sua sucessão de quadrados sobrepostos, fez lembrar-me do antigo jogo de amarelinha.
Foram feitas quatro variantes de cores, todas elas mesclando fios de diversas gramaturas, texturas e composições. Foram usados fios de algodão cru; algodão índigo; lã; bouclé e poliéster. O resultado ficou incrível, como você pode ver nas fotos a seguir.
Ou se quiser, poderá conferir as criações da estilista em sua loja na rua Oscar Freire. Prometo que assim que visitá-la tirarei algumas fotos para enriquecer este post.
Marcadores:
Bianca Ranucci,
tecidos
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário