jogador de cartas de Rembrandt |
O jogo fora e continuava sendo uma de suas paixões. Ao jogar, jogava fora os seus problemas, junto com as angústias e aflições por coisas não resolvidas ou não entendidas.
Houveram fases em sua vida onde não lhe sobrara tempo para o baralho. O jogo era outro, e quase sempre, feito de cartas marcadas... Afora as cartas, o que mais lhe aprazia eram os netos. Gostava de acompanhar suas vidas e saber que estavam bem. Aos que lhe pediam, nunca negava um conselho. Enquanto pode, os paparicou, buscando e levando às aulas particulares, atividades extracurriculares e até à zona, quando solicitado. Depois de crescidos, quando os seus chamegos já não eram bem-vindos, tratou de cuidar da companheira de longa data, da filha, do genro,e dos amigos que plantara anos atrás e agora os estava colhendo. Alguns teimavam em cair do pé.
Ah, e não podemos esquecer das palavras-cruzadas que também lhe fizeram companhia. Não que costumasse comprar jornais, mas aonde via um dando sopa, levava consigo a página cheia de quadradinhos em branco e algumas letras salpicadas aqui e ali. Adorava dar-lhes um sentido.
Dividindo-se entre a paciência, as palavras-cruzadas, os familiares e amigos, nosso vovozinho de plantão ia matando o tempo que não se cansava de mudar as regras do jogo, muitas vezes em cima da hora, o que ele não tolerava. No instante em que a vida disse-lhe que o jogo chegara ao fim, ouviu-se dele uma única palavra, balbuciada lenta e pausadamente: paciência.
Paciência é o que me fez lembrar este tecido desenvolvido anos atrás, baseado em uma ilustração francesa, datada de 1887, encontrada em um livro de estampas. Ele foi feito em base tafetá, com os naipes construídos em fios de lurex preto e vermelho.
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