Uma grande lição. É assim que vejo hoje, na altura de minha maturidade, que faz companhia à minha idade, sobre o episódio acontecido na mais tenra infância.
Lembro-me que um amigo da família designava a mim e a mais dois irmãos a alcunha de irmãos metralha. Nada mais justo, visto o que contarei a seguir.
Tínhamos uma vizinha que era a bondade em pessoa. Seu nome, dona Jacira. Sua profissão: costureira. A mesma era amiga da família e não se cansava de dizer a minha mãe o quanto éramos "umas gracinhas"; "uns amorezinhos", na sua mais perfeita tradução (vide Caetano Veloso).
Pois bem, na qualidade de gracinhas, tínhamos passe livre a sua casa e a sua família. Virava e mexia ela - vendo-nos brincando na calçada - nos convidava a entrar em sua casa para um suquinho acompanhado de bolachinhas.
A nossa timidez não nos impedia de aceitar o convite de prontidão. Quase sempre esperávamos por ela em sua sala de costura, enquanto a mesma se esmerava na preparação do suco.
Certa vez, enquanto ficávamos ali esperando, resolvemos dar uma olhada nas gavetinhas laterais de sua máquina de costura. Ficamos encantados com o que vimos: ali repousavam várias notas provenientes do trabalho de nossa caridosa vizinha. Talvez não fosse muito dinheiro; apenas alguns trocados que ficariam a mão para eventuais acertos de conta com as freguesas, mas para a nossa imaginação, aquilo era uma fortuna. Um passaporte que poderia nos levar à riqueza, feito tio Patinhas.
Os nossos maus pensamentos foram deixados de lado quando dona Jacira retornou toda contente da cozinha, segurando nas mãos uma bandeja com uma jarra de suco, copos e um pratinho de bolachas Maria.
Depois daquele dia, eu, André e José Augusto ficamos planejando fazer um assalto - não a mão armada - à gaveta de dona Jacira. Nós haveríamos de nos apossar daquele dinheiro.
Para tanto, ficamos a espera do próximo convite. Passado um tempo, a nossa nobre vizinha chamou-nos novamente para a trivial degustação.
O ritual - pensamos - seria o mesmo. Dona Jacira se encaminharia à cozinha e nós - neste intervalo de tempo - pegaríamos as notas e esconderíamos em nossos shorts, que - à gosto de mamãe - eram sempre iguais.
Dito e feito. Assim que dona Jacira se afastou, pegamos as notas e sorrateiramente acomodamos nos bolsos.
No final, agradecemos a gentileza e fomos embora, usando de nossa graça habitual como disfarce para a vilania.
O que não estava em nossos planos é que Dora, nossa babá, desconfiada de nossa movimentação suspeita, permaneceu à nossa espreita. A mesma viu quando enfiamos as notas embaixo do seu colchão, no quarto em que dormia.
Terminada a ação, já na eminência de uma comemoração particular, eu e meus irmãos fomos surpreendidos por Dora com as notas em suas mãos. Disse-nos que contaria tudo a nossa mãe. "Aquilo seria o fim do mundo", pensamos. "Seria o fim de nossa quadrilha".
Ao saber do ocorrido, mamãe chamou-nos para uma "conversa séria". Na verdade, ao invés da conversa, ouvimos poucas e boas e a mesma nos disse que não nos criava para nos transformarmos em delinquentes. Ordenou que ficássemos de pé, lado a lado, com as palmas das mãos viradas para cima. Foram tantas palmadas, que de rosa bebê, nossas mãos viraram cor-de-vinho.
O castigo maior ainda estava por vir: mamãe dividiu as notas arrecadadas entre os três e nos acompanhou a casa de dona Jacira, onde na sua presença, lhe pedimos perdão e lhe entregamos as notas.
Dona Jacira, caridosa que era, tentou demover a mamãe daquela atitude, dizendo que aquele seria um presente para que comprássemos uns docinhos.
Dali em diante, abrimos mão da fantasia de irmãos metralha. Abandonamos de vez as armas da vilania e mudamos definitivamente de lado. De bandidos, nos tornamos mocinhos.
COMO TRANSFORMAR ÁGUA EM VINHO mostra a verdadeira importância da educação, da presença dos pais na vida de seus filhos. Nenhuma criança nasce sabendo discernir o bem do mal; o que é certo e o que é errado. Cabe aos pais - e somente a eles - o papel de professores de civilidade, do ensino das regras gerais para o bom convívio em sociedade. E não adianta achar que poderão dividir esta função com a escola. Aos pais cabe o papel de docentes; de mestres na formação moral de seus filhos. Caso venham a se abster desta função, a sociedade o fará, e de uma forma muito mais dolorosa: através da punição.. Não é à toda que aquele ditado diz: "educação vem de berço".
Para ilustrar o conto, apresentarei agora a etiqueta que desenvolvi e produzi para a über model ISABELI FONTANA em parceria com a grife MONNE, de Neusinha Farina. Trata-se da coleção de roupas infantis que a modelo desenvolveu em parceria com a Monne.
Segundo a própria Isabeli definiu em uma entrevista, "as roupas são românticas e rock n'roll", tanto que o símbolo da coleção são as asas de anjo que, segundo ela, representam "os anjos de sua vida", ou seja, seus filhos Zyyon e Lucas. Detalhe: Isabeli Fontana tem estas mesmas asas tatuadas na parte de trás de seu pescoço.
Como cenário para fotografar as etiquetas escolhi três telas que foram pintadas na mais tenra infância pela minha filha Marina. Você pode ver que esta coisa de pai puxar o saco dos filhos não é privilégio de modelos.
Além delas, fiz uso também de um brinquedinho de borracha que Marina ganhou de presente em uma festinha infantil. Trata-se de um polvo multi-colorido.
A etiqueta feita tem cara de rock n' roll. O fundo é preto, com o logo Isabeli Fontana em fio prata e o logo Monne em fio ouro.
Recado do dia: Tudo o que sua alma pede é que você a hospede em uma suíte presidencial.
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