15 de ago. de 2013

Apólice residencial


Eu vi um racho em seu rosto. À princípio, acreditei tratar-se apenas de uma trinca, alguma feridinha mal curada que deixara cicatriz.
Chamamos um especialista que deu o seguinte diagnóstico:
- "Melhor lixar bem a superfície, primeiro com lixa grossa e depois com uma fina. Depois a gente passa massa, deixa a parede lisinha e aí é só pintar.".
Aprovado o orçamento, autorizamos a reforma. Tudo saiu como o esperado. Passados alguns meses, porém, a trinca voltou e, por incrível que pareça, no mesmo lugar. Já sem saber o que fazer, resolvemos deixar como estava.
Um dia, sem nenhum aviso, sem que a gente se desse conta do perigo, você desabou. Caiu ao chão feito um saco de areia. Não ficou um tijolo em pé.
Quando a poeira finalmente abaixou, pude ver o que restara de você: um monte de entulho sobre o que antes era uma casa.
Para não deixar aquela ruína à vista, mandei colocar um tapume em frente ao terreno. Não quis mexer em nada.
Os anos foram passando, as propostas de venda, aluguel ou permuta vieram. À cada proposta, respondia com uma negativa.
O máximo que fiz foi mandar que limpassem o terreno. Já não aguentava mais ver de minha janela aquele monte de ferro retorcido sobre pilhas de tijolos.
Um dia, também sem mais nem menos, apareceu um novo amor. Ao invés de dizer não, aceitei o convite e resolvi ver aonde tudo aquilo poderia dar.
Deu em casamento.
Resolvemos então construir a nossa morada. Afinal, um terreno vazio já tínhamos à disposição.
Já mais experientes, contratamos um arquiteto. Aprovada a planta, iniciamos a construção.
Passo a passo, vimos a casa ser erguida sobre um alicerce bem mais seguro.
Hoje, depois de alguns anos de espera e superados alguns imprevistos, abriremos a casa aos amigos e familiares. É o que os chiques chamam de "open house".
Cuidaremos para que nenhuma trinca se forme. Nada de vazamentos ou infiltrações. E para que não haja maiores riscos, contratamos um plano de seguro.
Se acontecer algum acidente, a gente aciona a seguradora.

A vida é uma construção diária. Uma obra sem fim. A base tem que ser sólida, se não a casa cai.
É sobre isto que trata o conto APÓLICE RESIDENCIAL. Na dúvida, o melhor é fazer um seguro.

Para ilustrar o conto escolhi um trabalho que desenvolvi e produzi para a designer de roupas e acessórios - e de quebra, amiga - VANESSA PACHIEGA. Talentosa, escolheu-me para fazer a etiqueta de sua marca, no início de suas atividades. O ano era 2004. Além da etiqueta, fizemos também um lindo tecido que foi utilizado na confecção das peças de alfaiataria.


A base do tecido foi o cetim preto, com desenho bordado em presto.



Escolhi como cenário para as fotos antigos casarões do bairro Campos Elíseos, em São Paulo. O bairro é um retrato fiel do apogeu e declínio dos barões do café. Lá foram construídas belíssimas edificações; muitas delas foram demolidas e grande parte das que sobreviveram ao tempo e ao abandono viraram cortiços e pensões. Com um olhar mais apurado, ainda podemos sentir o gostinho da vida burguesa e sofisticada que um dia ali morou. Eu fiquei encantado com o que vi, apesar da degradação que se encontra em cada canto do bairro.

Dentre as edificações locais, chama atenção a do Palácio dos Campos Elíseos, que foi sede do Governo do Estado de São Paulo, antes de ela ser transferida para o Palácio do Morumbi.
Foi em seu portão principal, todo feito em ferro trabalhado, que encontrei o lugar ideal para fotografar o tecido.



















O edifício está sendo restaurado e encontra-se fechado. Após fotografar a frente da casa, dirigi-me à casa vizinha, sede da polícia militar. Entrei pelo estacionamento e pedi licença ao oficial que lá se encontrava, para fazer umas fotos da lateral do palácio, visto através do muro da corporação.



















































As etiquetas são bastante sofisticadas; têm o fundo em efeito de sarja lateral, como se fosse um gorgurão em sentido contrário. O logo é bordado por cima. Além da etiqueta principal, com dobras nas pontas, fizemos uma etiqueta chamada bandeirinha, dobrada ao meio e com a logo bordada em ambos os lados.





Recado do dia: Lei Cidade Limpa. Se não for arte, limpa.



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