29 de jun. de 2013

Minha Senhora. Nossa Senhora.


Em noite de insônia, costurando pensamentos, acordei, peguei lápis e papel e fiz esta oração

Nossa Senhora dos navegantes,
rogai por nós, náufragos, perdidos nesse oceano de lágrimas
Nossa Senhora dos desavisados,
rogai por nós que nada sabemos do que todos, à esta altura,
já sabem de cor
Nossa Senhora dos desalmados,
rogai por nós que tivemos o corpo e a alma levados em assaltos,
arrastões, sequestros-relâmpago, roubos seguidos de morte ou não
Nossa Senhora dos envelhecidos,
rogai por nós que já passamos poucas e boas e não nos resta
muito tempo para aprendermos todas as lições
Nossa Senhora dos desterrados,
rogai por nós que perdemos a posse de um pedaço de terra,
chácara, sítio, fazenda, ou qualquer outra coisa que necessite de habite-se
Nossa Senhora dos aflitos,
rogai pelos que não param quietos depois de uma jornada de trabalho,
e pensam que não podem deixar de fazer isto e aquilo
Nossa Senhora dos desajustados,
rogai pelos que nunca encontram um lugar para ficar
e não sabem constituir bens ou família
Nossa Senhora das causas perdidas,
rogai pelos achados que foram embora e não deixaram pistas,
ou fugiram de nossas vistas para nunca mais voltar
Nossa Senhora dos doidivanas,
rogai pelos que se auto-intitulam reis, imperadores, condes ou magistrados, e cujas coroas e cetros são feitos de lata de óleo vazia
Nossa Senhora da boa vigia,
rogai por nós que não podemos dormir no ponto,
pois se não, perdemos o bonde e ficamos com o bilhete inválido na mão
Nossa Senhora de forno e fogão,
que sabe como ninguém alimentar os corpos vazios dos que têm fome
de ser e saber. Rogai por estes também.
Nossa Senhora do final de linha,
que só aparece quando o ser humano chega ao ponto final,
rogai por nós pecadores, pescadores e caçadores do tesouro
que foi encontrado na Terra e cuja chave e segredo
só podem ser desvendados no Céu
Nossa Senhora, menina santa,
rainha, princesa, baronesa, condessa deste reino que já não mais se governa, rogai por nós que elegemos a vós Nossa Senhora.
Venha, apareça, Minha Senhora

Orai e vigiai. Há muito o recado foi dado. Todos aqueles que pensam que cometem delitos e impunidades e nunca serão descobertos, podem ter certeza. Um dia a máscara cai e eles se virão pelados, sem nada que cubra as suas vergonhas.

A oração acima veio de minhas entranhas. Apenas peguei o lápis e anotei o que a minha alma ditou.
Para ilustrar a oração/poema apresento a seguir dois trabalhos que fiz e que me enchem de orgulho, dada a beleza e qualidade dos mesmos.

São duas etiquetas, para fins diversos, que desenvolvi para o cliente CASA DA BÍBLIA JEOVÁ RAFÁ.

A primeira delas apresenta um candelabro rodeado pelos dizeres: "Jesus, Luz do Mundo". Ela foi feita em duas cores: fundo bordô e fundo off-white. Os dizeres foram bordados em ouro metálico.

Já a segunda etiqueta é na verdade um marcador de livro. Veja a riqueza de cores e detalhes de bordado imprimidos na peça. O fundo foi feito em tons degradê texturizado.

Fotografei as peças em um cenário construído com flores de gorgurão preto sobre tule da mesma cor. Posicionei então uma verdadeira obra-de-arte; trata-se de uma caixinha de fósforo transformada em um altar, tendo ao centro a imagem de Santa Terezinha. Trouxe a mesma de uma viagem de trabalho há muitos anos atrás. Até hoje ela protege a minha casa e a minha vida.


Eu gostaria muito de poder identificar o nome completo da designer que fez a obra, mas não consigo ler o sobrenome na assinatura da caixinha: o nome é Maria Alice.













As fotos que ilustram o recado abaixo foram tiradas por mim na última manifestação pela redução nos preços das passagens de ônibus no município de São Paulo (18/03/13).

O povo deu o recado. Quem tiver olhos, que veja. Quem tiver ouvidos, que escute. Quem tiver juízo, que os respeite. PTÔ DE OLHO EM VOCÊ.



























A obra que abre o post intitula-se Mãe Rainha e é de autoria do artista plástico naif Ronaldo Mendes.

27 de jun. de 2013

Bala de chumbo


Uma manhã como outra qualquer. Assim pensava eu naquela manhã em pleno mês de julho, férias escolares.

Preparávamos-nos para mais uma temporada de férias na fazenda São José, de propriedade de  meu pai.



Já se tornara tradição: todo mês de julho passávamos cerca de duas semanas na fazenda, seja na companhia de algum amigo escolhido, ou não. Meus pais não gostavam muito da ideia dos filhos levarem amigos, já sabendo que se um dos três filhos o fizesse, os dois outros também reivindicariam o mesmo direito; desta forma, ao invés de um, seriam três amigos. Além da responsabilidade excessiva, havia a questão da limitação de espaço no carro.

Os dias na fazenda resumiam-se a apenas algumas atividades como acompanhar os peões em suas longas jornadas diárias; almoços em meio às famílias de funcionários;  jogos de carta ao anoitecer; caminhadas pelas imediações; andar a cavalo ou então visitar a cidade de Pereira Barreto, localizada a apenas alguns quilômetros da fazenda. Posso dizer que estas férias eram uma imersão ao rico universo sertanejo; um mergulho profundo às nossas raízes caipiras.





Enquanto esperávamos papai e mamãe que se encontravam fazendo os preparativos para a viagem, eu e meus dois irmãos, André (o caçula) e Guto (o mais velho), ficamos na garagem em frente da casa; cada qual procurando distrair a ansiedade pela proximidade da viagem à sua maneira. André estava sentado em uma das cadeiras que ficavam na lateral esquerda da garagem, ao lado do carro estacionado. Ele lia um gibi, estando com a sua espingarda de chumbo descansando no colo. Guto encontrava-se de pé, com sua espingarda em punho, brincando de mocinho e bandido. E eu estava próximo ao meu cachorro Xang, um pequinês preto com uma mancha branca no peito, fazendo-lhe carinho e dizendo a ele o como sentiria a sua falta nos dias em que estaria fora.

Foi quando ouvi a sentença:

- "André, vou lhe dar um tiro!"

- " Para de encher, Zé Augusto" - André, tranquilo em sua leitura, nem perdeu tempo em olhar para o irmão.

- "Eu estou avisando, André: vou atirar." - Guto estava com a arma em punho, fazendo pontaria ao irmão.

Não deu tempo para mais nada. Quando vi, ele havia feito um disparo.


Os momentos seguintes foram de puro pânico. André levantou a cabeça e havia um pequeno orifício entre os seus olhos, na altura das sobrancelhas.

- "Você é louco?" - disparou André, passando a mão por sobre o machucado. Começou a chorar quando viu que havia sangue no local.

O atirador, correu em direção à vítima, gritando:

- "Eu matei meu irmão...eu matei meu irmão!"

Eu, desesperado, corri para dentro de casa para pedir ajuda. A esta altura, já tendo ouvido toda a confusão, meus pais, em companhia das empregadas da casa, estavam correndo em direção à porta principal, direcionados pela gritaria.

Com medo que o pior pudesse ter acontecido e procurando fugir daquele drama, fui para o meu quarto e fiquei ali rezando, pedindo a Deus que nada de mal acontecesse ao André.

Somente saí de lá quando vi que a situação já estava sobe controle.

Por sorte, André não havia sido atingido por um chumbinho. O que havia sido deflagrado era apenas uma capsula vazia. A mesma atingiu sua fronte, fazendo um pequeno buraco.

Guto, com medo das represálias, sumiu da cena do crime quando viu que o irmão já estava sendo socorrido pelos pais.

Depois de algumas horas do ocorrido, já dentro do carro, estando papai na direção, meu irmão Guto (com cara de arrependido) na frente, ao seu lado, e eu e André no banco de trás, finalmente seguimos viagem, sendo assistidos do lado de fora por mamãe (com Xang no colo), Dora e Lourdes acenando e desejando-nos uma boa viagem.

Como castigo, mamãe, xerife daquele condado, confiscara as armas dos dois desafetos e botara um fim definitivo naquela novela de bandido e mocinho.

Brincadeiras de criança também podem ser perigosas. Vide inúmeros acidentes, muitos deles fatais, ao longo de séculos e séculos de história, mundo afora.

A meu ver, armas, mesmo as de brinquedo, deveriam ser banidas da face da Terra. Já que as feitas para matar não o serão jamais, que pelo menos as feitas para "brincar" o sejam.

Para ilustrar o conto acima, escolhi apresentar uma série de etiquetas que desenvolvi e produzi ao longo de muitos anos para a grife de roupas e acessórios infantis MONNE, de propriedade da empresária Neusinha Farina.


Durante anos ela vestiu as meninas e meninos mais antenados do país. Suas criações primam pela elegância, bom gosto e qualidade.





  






O cenário escolhido para as fotos é muito especial. Trata-se de uma edificação belíssima, localizada no centro de São Paulo, e conhecida como Palácio das Indústrias. Ela foi construída nos anos de 1920 e foi inaugurada em 29 de abril de 1924. O projeto é de Domiziano Rossi, que foi sócio do escritório Ramos de Azevedo. O prédio já abrigou diversas instituições públicas, tendo sido entre os anos de 1992 a 2004, sede da prefeitura de São Paulo. Hoje abriga o Museu Catavento, museu dedicado às ciências.




Foi em um belíssimo monumento em ferro localizado em seus jardins, de inspiração renascentista, que fotografei as etiquetas. Confira.

































Quando avistei -através de um vidro - o jardim interno do palácio, fiquei encantado com tamanha beleza. Ele estava vazio, apenas a natureza fazia-se presente. Depois vim a saber que ele era fechado ao público. Toda a sacada que dá acesso a este páteo interno é vedada através de placas de vidro que vão do chão ao teto da construção.


Movido pela beleza, caminhei até uma porta de vidro que dava acesso ao páteo e ao tocá-la, vi que estava apenas encostada. Não perdi tempo. Como quem não quer nada, segui em frente e tirei estas fotos que só seriam possíveis de serem feitas estando-se lá dentro.












Para comprovar a façanha, tirei uma foto minha refletida na água da fonte.



Frase do dia: O que os fiéis apostam na fé, os pastores resgatam em forma de bilhetes premiados.