29 de jun. de 2012

A prova


Até aquele dia eu tinha uma dúvida: seria eu a reencarnação de Jesus? Na minha cabeça, muitas coisas faziam-me acreditar que sim. Achava que sofria demais, que era incompreendido por meus pais e irmãos. Na escola, tinha problemas de relacionamento com alguns colegas. Tudo fazia-me crer que tanto sofrimento seria a prova de que era o filho de Deus reencarnado.

Para saber de uma vez por todas se o era, resolvi fazer um teste. Estava no chuveiro tomando banho. A cortina do box era de plástico; destas todas estampadas, muito comuns na década de 70. Devia ter por volta de nove anos.

Olhei fixo para a cortina e lancei o desafio: - Se eu for Jesus, esta cortina vai balançar agora! - Passaram alguns segundos e nada... tudo parado. Somente a água escorria pelo corpo e respingava na cortina. Falei novamente, desta vez botando mais ênfase na voz: - Se eu for Jesus Cristo, esta cortina vai balançar agora! - Outros segundos e... nada.

Diante do vazio que se seguiu, tratei de arranjar uma outra suspeita: já que eu não era Jesus, seria eu então um santo? Santo Beto? Não saberia responder a esta pergunta, mas de qualquer maneira, eu não iria queimar mais uma chance fazendo a pergunta para aquela cortina que nada sabia. Foi então que terminei o banho e, diante do espelho, olhei para o meu rosto refletido no mesmo, na esperança de enxergar uma auréola dourada em volta de minha cabeça.

Eu não sei se todas as crianças já se fizeram esta pergunta um dia: será que eu sou o filho de Deus? Ora, a minha professora de catecismo vivia dizendo que Jesus um dia voltaria para salvar os homens de boa fé. Bem, se ele um dia voltaria, por que não em Araçatuba e na minha pessoa? Afinal, cara e jeito de santo eu tinha de sobra.

Esta foto foi tirada em minha primeira comunhão. Será que neste momento eu já tinha feito a prova da cortina? Fala se a cara não era de um santo misericordioso!


Este é o registro de minha primeira hóstia. O modelito caçador não combina muito com a imagem de santo, mas o legal da vida é esta contraposição entre santo/pecador; e por que não santo/caçador?


Este grafite encontrei em um muro do bairro de Pinheiros, S. Paulo, após uma consulta ao urologista: - Meu Deus, que pecado eu cometi para ter que passar por isto?


Menino anjo - o nome da escultura não é propriamente este; mas foi assim que a batizei. Ela se encontra no parque da Luz, em São Paulo.


Deixando um pouco este santo-do-pau-oco de lado, quero apresentar-lhes dois lindos galões que fiz para uma congregação religiosa católica FILHAS DE SÃO JOSÉ DE RIBALTA, para serem usadas em vestes litúrgicas vendidas em sua loja, em São Paulo. O desenho feito é exclusivo e não pode vir a ser utilizado por outra empresa.

Resolvi apresentar este trabalho para que vocês possam ter uma ideia da vastidão de mercado que temos para os nossos produtos: etiquetas bordadas, galões e tecido jacquard. As igrejas - em especial - são um segmento de mercado bastante interessante, com produtos tão ou mais sofisticados como os encontrados no mercado de moda e decoração. Um exemplo são estes tecidos ricamente bordados com temática religiosa (católica). As fotos são do livro EMBROIDERY ITALIAN FASHION, editora DAMIANI.


Agora vamos deixar de papo e vamos direto aos galões, que procurei fotografar de forma especial e porque não, divina:

Este galão mais largo tem 180 mm de largura.


Este galão é uma versão do galão mais largo, desta vez com 80 mm de largura.


Os galões foram feitos em duas cores de fundo: branco e off-white.


Desenvolvi também um tecido, com micro tramas listradas, com fio ouro, para vir a ser utilizado na confecção de vestes. O mesmo ainda não foi produzido.

27 de jun. de 2012

O luxo nosso de cada dia


Muito se fala de luxo. Mas nem tudo o que se autoproclama luxo, verdadeiramente o é. São múltiplas e facetadas as áreas em que este termo pode ser aplicado. Podemos aferir que existe uma banalização do termo. Qualquer pessoa física ou jurídica que produz algo que - particularmente - acredita que seja especial, corre logo a colocar o rótulo: luxo.

Porém, para que algum produto e/ou serviço pertença verdadeiramente à categoria luxo, é preciso que ele carregue características tangíveis e intangíveis que o enquadre nesta categoria. Uma das formas de se averiguar isto, é checando se este produto e/ou serviço traz em si elementos, componente, ingredientes, know-how, que verdadeiramente excedam aos demais produtos/serviços existentes em seu mercado de atuação.

Posso dizer com tranquilidade que luxo se assemelha ao tão proclamado e desejado orgasmo: muitos os desejam, mas nem todos podem alcançá-lo.

Pois foi lendo casualmente o jornal Folha de S. Paulo (edição de 2 de junho de 2005), que encontrei uma das melhores definições para o termo. Ela veio de uma área em que eu - de bate-pronto - não poderia imaginar: o chocolate.


O título da matéria de página inteira era: A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES.


Conheça Pierre Marcolini, eleito melhor pâtissier do mundo, e seus doces artesanais.


Pierre Marcolini foi eleito o melhor pâtissier do mundo em 1995, na Pastry World Cup, principal concurso do gênero.


Veja o que ele diz entender por luxo: - No entanto, a minha ideia não era a de criar necessariamente um produto de luxo, e sim um produto de qualidade. A minha ideia de luxo é poder oferecer às pessoas algo que lhes dê um prazer único.


Não é demais! Ele, bem como sua arte de fazer doces é - sem dúvida - a expressão máxima para o termo. Pena que ainda não pude provar nenhuma de suas iguarias. Está aí uma bela desculpa para uma boa viagem a Paris.


O texto acima serviu-me de inspiração para mostrar a etiqueta bastante especial que fiz para a também talentosa pâtissier brasileira CAROLE CREMA, através de sua loja de doces LA VIE EN DOUCE. Ela foi desenvolvida e produzida para ser utilizada em uma linda sacola de pano estampada com motivos natalinos, para o Natal de 2008. Note o aspecto vintage dado a mesma; ele tinha a ver com a proposta da marca para o Natal daquele ano.


Também desenvolvi as fitas abaixo para La Vie en Douce. Elas não foram produzidas, mas valem ser apresentadas.


PS: A primeira foto deste post mostra como as criações de Pierre Marcolini são tratadas como joias.

23 de jun. de 2012

Tiro ao Papa


"Quem acertar primeiro a flecha na testa do Papa, ganha o jogo.". Foi com estas palavras que meu irmão mais velho, José Augusto, deu por iniciada a partida. O jogo consistia em tentar acertar a flecha de pressão na testa do Papa Paulo VI.


Os irmãos metralha, como éramos conhecidos eu e meus dois irmãos, Guto e André, havíamos ganhado três pistolas com flechas de pressão que - uma vez disparadas - ficavam presas ao alvo pela pressão exercida pela ponta feita de látex.


O tal Papa que serviria de alvo era um quadro que vovó Rosa havia trazido de viagem à Roma, e que dera de presente à papai e mamãe. Ele trazia a foto do Papa Paulo VI com aquela cara de santo que só ele tinha e, abaixo da foto, a sua assinatura. Segundo vovó, o próprio pontífice havia benzido o quadro.

Quem conheceu o Papa Paulo VI sabe que sua principal característica física era a testa proeminente. Igualzinha a minha. Papai e mamãe não se cansavam de comparar a cabeça do pontífice à minha. "Sinal de inteligência", diziam. Será mesmo?


Bem, voltando à brincadeira, após retirarmos o sofá que ficava abaixo do quadro, nos posicionamos lado a lado, à uma certa distância do alvo, e iniciamos a prova.

Algumas flechas insistiam em acertar a parede; outras, algumas partes do quadro, que não a testa do Papa. Após algumas tentativas frustradas, um tiro vindo de uma das armas acertou em cheio o coração do pontífice, fazendo com que o vidro que protegia a foto trincasse em diversas partes.

"Meus Deus!", exclamamos os três em uníssono.Por quê o Papa havia feito aquela maldade com a gente? O que seria de nós agora? Nossos pais iriam nos matar quando vissem aquilo. Pensamos em várias soluções para resolver o problema, desde tirarmos todo o vidro, até colarmos as partes. Mas nenhuma das soluções encontradas colava bem. Foi então que resolvemos mostrar o ocorrido primeiramente à nossa mãe, que ficou gritando feito uma louca segurando o quadro na mão e depois, ao nosso pai, que nos encheu de palmadas e nos deixou de castigo por alguns dias. Ao final de tudo, achamos que o Papa havia encontrado uma maneira de se vingar da gente. Justo de nós três, que não fazíamos mal a uma mosca se quer.


Mas ficou o aprendizado: com Papa não se brinca.


Esta história tão familiar , caseira, inspirou-me a apresentar-lhes as duas etiquetas e a fita de presente que fiz com muita honra para a DONATELLI CASA. 


As etiquetas foram utilizadas em uma série de produtos para a casa, como necessaires, frasqueiras e bolsas. Já a fita, servia para dar o laço nos enxovais e presentes vendidos na loja.


DEA é uma marca de roupa de cama, mesa e banho muito tradicional na Itália. Foi fundada em 1965 e é representada no Brasil pela Donatelli. As imagens que se seguem foram extraídas do belíssimo catálogo de produtos DEA, produzido pela Donatelli.


PS: O mini-ferro que aparece nas fotos é de brinquedo e pertenceu à minha mãe. Ela ganhou de seu pai quando era criança. O mesmo funcionava de verdade!